65culturais em espaço cultural híbrido. A cultura vai assim <strong>de</strong>lineando-se a partir dasexperiências híbridas e fronteiriças.Outro elemento seria a etnia. Conforme afirma Fredrik Barth, “as distinções étnicasnão <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>m da ausência <strong>de</strong> interação e aceitação sociais, mas, ao contrário, sãofrequentemente a própria base sobre a qual sistemas sociais abrangentes são construídos”(BARTH, 2000, p. 26). Neste sentido, a própria noção <strong>de</strong> fronteira revela-se a partir da i<strong>de</strong>ia<strong>de</strong> que as lógicas culturais são caracterizadas por mudanças contínuas e ausência <strong>de</strong>homogeneida<strong>de</strong>.A cultura passa a ser entendida em um processo dinâmico, conjunto <strong>de</strong> jogos epossibilida<strong>de</strong>s realizados em <strong>de</strong>terminados contextos, necessariamente específicos econectados às inúmeras mudanças sociais que têm lugar em grupos híbridos.Desta maneira, passado e presente fun<strong>de</strong>m-se na atualização (e atualida<strong>de</strong>) do pensar,e quebram a rigi<strong>de</strong>z do conceito <strong>de</strong> cultura. As infinida<strong>de</strong>s dos jogos operados em zonas <strong>de</strong>fronteiras são colocadas no primeiro plano:O trabalho fronteiriço da cultura exige um encontro com “o novo” que não seja partedo continuum <strong>de</strong> passado e presente. Ele cria uma idéia do novo como ato insurgente<strong>de</strong> tradução cultural. [...] O “passado-presente” torna-se parte da necessida<strong>de</strong>, e nãoda nostalgia, <strong>de</strong> viver (BHABHA, 2003, p. 23).Para Homi Bhabha (2003), a i<strong>de</strong>ntificação da cultura é como o lugar da diferença,a existência <strong>de</strong> um espaço limiar, uma fronteira cultural, algo novo que estranha ou querealiza um estranhamento, como uma ponte que se <strong>de</strong>sloca, levando-nos a transitar porterritórios culturais diferentes, realizando uma estranha tessitura <strong>de</strong> caminhar, “aqui e lá, <strong>de</strong>todos os lados, [...] para lá e para cá, para a frente e para trás” (BHABHA, 2003, p. 19). Oterritório da vida cotidiana que é uma realida<strong>de</strong> material tecida por códigos culturais.As fronteiras 45 mostram simultaneamente que muitos estão aptos a compreen<strong>de</strong>r asconsequencias <strong>de</strong> seus atos e incapaz <strong>de</strong> controlá-las plenamente, uma vez que sempre existiráalgo para além dos contornos (im)postos. Perceber as fronteiras é, nesse sentido, superá-las,45 A fronteira po<strong>de</strong> ser consi<strong>de</strong>rada como menos uma linha do que um espaço. Do latim, "limes" (daí limite). Olimite <strong>de</strong>signaria um intervalo, uma margem, uma borda sem apropriação, mas dotada <strong>de</strong> todos os valorespolíticos, simbólicos, religiosos que a mitologia grega reúne sob a égi<strong>de</strong> <strong>de</strong> Hermes (ou Mercúrio). Hermes,<strong>de</strong>us da comunicação, do intercâmbio intelectual e comercial. Protetor das artes e das technes aladas, senhorda “leveza”, patrono dos filósofos, comerciantes, oradores, Hermes teria estabelecido seu reinado sobre aterra. Segundo a Teogonia, “Maia filha <strong>de</strong> Atlas após subir no leito sagrado <strong>de</strong> Zeus pariu o ínclito Hermes,arauto dos imortais” (HESÍODO, 2001, p. 159). Conforme, Junito Brandão, Hermes é uma “Divinda<strong>de</strong>complexa, com múltiplos atributos e funções. Parece ter sido, <strong>de</strong> início, um <strong>de</strong>us agrário, protetor dospastores nôma<strong>de</strong>s indo-europeus e dos rebanhos [...]” (Brandão, 1999, VII, p. 19).
66pois, ao tomar consciência das limitações necessárias, o homem percebe o profundosignificado <strong>de</strong> ir além: a recorrente criação <strong>de</strong> novas fronteiras.Na abordagem <strong>de</strong> Bhabha, ao se pensar a linguagem observa-se a constituição dos“entre-lugares” nas articulações <strong>de</strong> diferenças culturais fornecem subsídios para a “elaboração<strong>de</strong> estratégias <strong>de</strong> subjetivação – singular ou coletiva – que dão início a novos signos <strong>de</strong>i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> e postos inovadores <strong>de</strong> colaboração e contestação” (BHABHA, 2003, p. 20). Nesseviés, tem-se, pois, a exigência da criação do novo como ato insurgente <strong>de</strong> tradução cultural,em que esse “novo” não seja parte do continuum <strong>de</strong> passado e presente. É na linguagem quese po<strong>de</strong> observar essa (re)elaboração, enfim, “não apenas retoma o passado como causa socialou prece<strong>de</strong>nte estético; ela renova o passado, reconfigurando-o como um “entre-lugar”contingente, que inova e interrompe a atuação do presente. O “passado-presente” torna-separte da necessida<strong>de</strong>, e não da nostalgia, <strong>de</strong> viver” (BHABHA, 2003, p. 27).A linguagem traduz a i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> étnica que reflete a i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> cultural. Estapassa a ser vista como uma forma <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> coletiva característica <strong>de</strong> um grupo social quepartilha as mesmas atitu<strong>de</strong>s e está apoiada num passado com um i<strong>de</strong>al coletivo projetado. Elase fixa como uma construção social estabelecida e faz os indivíduos se sentirem maispróximos e semelhantes.Logo, se por um lado, o processo <strong>de</strong> revalorização das particularida<strong>de</strong>s e doslocalismos culturais seria inegável no atual momento histórico social, por outro se enten<strong>de</strong>que a própria noção <strong>de</strong> fronteira dá-se pelas linhas da linguagem (verbal e não-verbal), quetraz consigo a idéia <strong>de</strong> que as lógicas culturais são caracterizadas por mudanças contínuas eausência <strong>de</strong> homogeneida<strong>de</strong>.Assim sendo, a cultura atua, em suas diversida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> linguagens, no território dasvidas cotidianas. Este não é apenas transversalizado por padrões culturais específicos, mas ospadrões culturais se particularizam através <strong>de</strong> processos <strong>de</strong> interação. A cultura tambémrevela seu potencial para comunicação, a partir do qual dialoga não apenas com o homem,mas também com os vários sistemas culturais entre si.Ao pensar a linguagem como construtora e constructo da cultura, esta e seupotencial para comunicação, no âmbito <strong>de</strong>stas reflexões, propõem-se observar a i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>cultural e as linguagens que a constroem e que <strong>de</strong>la advém.Neste sentido, volta-se o foco, por estar a Rádio Maristela localizada no município<strong>de</strong> Torres, ao estado do Rio Gran<strong>de</strong> do Sul, como ponto <strong>de</strong> referência para avaliar o diálogodos sistemas culturais: i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>/nacionalida<strong>de</strong>, mais especificamente o que se <strong>de</strong>nomina <strong>de</strong>i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> cultural ‘gaúcha’.
- Page 1 and 2:
UNIVERSIDADE DO SUL DE SANTA CATARI
- Page 3 and 4:
2LEONIR ALVESANÁLISE DE ASPECTOS D
- Page 5 and 6:
4AGRADECIMENTOSA Deus - autor e pri
- Page 7 and 8:
“Próximo ao meio-dia, diante daq
- Page 9 and 10:
8ABSTRACTABSTRACTThis study present
- Page 11 and 12:
10SUMÁRIO1 INTRODUÇÃO...........
- Page 13 and 14:
12emissora alcança lugares diferen
- Page 15 and 16: 14também grandes atrações cultur
- Page 18 and 19: 171894, o britânico Oliver Lodge d
- Page 20 and 21: 19pelo rádio no jovem país e, no
- Page 22 and 23: 21segmentos sociais começaram a fa
- Page 24 and 25: 23os mais diversos fins. E é no in
- Page 26 and 27: 25veículo que mais se beneficiou d
- Page 28 and 29: 27aconteceram. As igrejas cristãs
- Page 30 and 31: 29Postura crítica, anúncio da ver
- Page 32 and 33: 31Senhora: Miriam é o nome hebraic
- Page 34 and 35: 33Rede Gaúcha Sat 22 que permite a
- Page 36 and 37: 35Com relação às palavras, Bakht
- Page 38 and 39: 37que são elaborados na coletivida
- Page 40 and 41: 39los primeros estudios específica
- Page 42 and 43: 41Na comunicação radiofônica, o
- Page 44 and 45: 43la comprensión de los mensajes s
- Page 46 and 47: 45linguagem radiofônica. Por meio
- Page 48 and 49: 47Faz-se assim oportuno destacar a
- Page 50 and 51: 49além disso, é importante saber
- Page 52 and 53: 51declaraciones grabadas, respetand
- Page 54 and 55: 53sociais, a religião, a ética e
- Page 56 and 57: 55perspectivas, tão abstratas quan
- Page 58 and 59: 57O segundo tipo de reportagem a se
- Page 60 and 61: 59conviverem em harmonia. Nesse sen
- Page 62 and 63: 61O testemunhal é outro formato co
- Page 64 and 65: 63Entende-se conceitualmente por id
- Page 68 and 69: 67Cabe mencionar que, em sua histó
- Page 70 and 71: 69Dessa forma, o entrevistador tem
- Page 72 and 73: 714 A LINGUAGEM RADIOFÔNICA: ANÁL
- Page 74 and 75: 73A audiência relevante 49 contrib
- Page 76 and 77: 75Intercalando com a trilha, o locu
- Page 78 and 79: 77Cabe registrar que em todas as ed
- Page 80 and 81: 79editados no estado do Rio Grande
- Page 82 and 83: 81transcrições das falas 56 dos l
- Page 84 and 85: 83informações do mundo. Trilha Lo
- Page 86 and 87: 85“Chuva de verão”(17/01/2009)
- Page 88 and 89: 87“O caso do Papagaio”:(03/01/2
- Page 90 and 91: 89Na edição de 03 de janeiro de 2
- Page 92 and 93: 91dialógico do enunciado, que não
- Page 94 and 95: 93permite aos locutores o “ver ma
- Page 96 and 97: 95interesse de muitos de querer gan
- Page 98 and 99: 97Conforme se destaca a relação a
- Page 100 and 101: 99analisados.Esse aspecto, sim, enc
- Page 102 and 103: 1015 CONSIDERAÇÕES FINAISEste est
- Page 104 and 105: 103Primeiramente avaliou-se que a l
- Page 106 and 107: 105REFERÊNCIASADLER, P.Richard; FI
- Page 108 and 109: 107FILHO, André Barbosa; PIOVESAN,
- Page 110 and 111: 109NEVES, José Luis. Pesquisa qual
- Page 112 and 113: ANEXOS111
- Page 114 and 115: 113ANEXO B - GRADE DE PROGRAMAÇÃO
- Page 116 and 117:
115Antonio: Sim. Primeiro diretor d
- Page 118 and 119:
117Leonir: E a rádio funcionava l
- Page 120 and 121:
119Nataniel: A Rádio Maristela tem