91dialógico do enunciado, que não permite um acabamento, mas sim um permanente <strong>de</strong>vir e dolugar <strong>de</strong> enunciação.Segundo os locutores, ainda que existam aparelhos <strong>de</strong> telefone à disposição dosouvintes e o fácil acesso à internet, a rádio é ainda hoje muito procurada como veículo paramensagens particulares. A linguagem radiofônica revela também que o enunciado reflete aexistência <strong>de</strong> uma dimensão <strong>de</strong> inter<strong>de</strong>pendência entre o verbal e o social, o social e oi<strong>de</strong>ológico. São dimensões que existem imbricadamente no enunciado, não se limitando àdimensão “interior” e “exterior” ao discurso, e po<strong>de</strong>m ser apreendidas na observação dassituações concretas <strong>de</strong>s<strong>de</strong> que não se limite a analisar somente o verbal, mas sim o verbal narelação com o extraverbal, como constitutivos da linguagem, do enunciado, do discurso.No terceiro bloco, <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> tempo mais reduzido, percebe-se que ocorre umamaior diversida<strong>de</strong> <strong>de</strong> assuntos que advêm <strong>de</strong> diferentes espaços geográficos. Nota-se,contudo, que do mesmo modo que as outras mídias, a linguagem radiofônica promove oencurtamento das distâncias e do tempo.“O pessoal foi audacioso.”(09/01/2009) Loc.2: A polícia <strong>de</strong> São Paulo recuperou, ontem, as duas telas furtadasdo Museu <strong>de</strong> Arte <strong>de</strong> São Paulo, “O Lavrador <strong>de</strong> Café”, <strong>de</strong> 1939, <strong>de</strong> CândidoPortinari, e o “Retrato <strong>de</strong> Suzani Bloc”, <strong>de</strong> 1904, <strong>de</strong> Pablo Picasso. Juntas as duasobras estão avaliadas em mais <strong>de</strong> 100 milhões.Loc.1: Que coisa, ‘né meu? Loc.2:Mas recuperaram, ‘né tchê’? Loc.1: É, maravilha que recuperaram. Agora, opessoal foi audacioso nesse crime aí, ‘né’? Parecia que conhecia bem o MASP.Conseguiram fazer um ‘trabalho muito rápido’, enganando, aí, toda a segurança doMuseu <strong>de</strong> Artes <strong>de</strong> São Paulo, né’ ?Constata-se, nesse diálogo entre os locutores, a presença <strong>de</strong> uma expressão típicada linguagem coloquial, o “tchê” 59 , termo muito utilizado por pessoas que moram no Rio59Ao se refletir sobre <strong>de</strong>marcações culturais, no caso específico <strong>de</strong> expressões caracterizadas como termos“gaúchos”, percebe-se que essas são recorrentes no programa. Como exemplos, <strong>de</strong>stacam-se: “Falougurizada”, “Tem o bom pedreiro e tem o mau, né tchê?” “Mas recuperaram, né tchê”? “Brinca<strong>de</strong>ira tchê”.Observa-se que a incorporação <strong>de</strong>ssa expressão ao vocabulário encontra algumas versões. Conforme apesquisa <strong>de</strong> NUNES; NUNES, (1982) a primeira seria que sua inclusão <strong>de</strong>u-se através do espanhol “che”,uma interjeição semelhante ao nosso “ei”. Assim os argentinos, uruguaios e paraguaios das regiõesfronteiriças do Brasil teriam trazido essa expressão que foi incorporada entre os séculos XVIII e XIX, aoportuguês, vindo do dialeto rio-platense, falado na bacia do rio da Prata pelos índios guaranis, jesuítas,população ribeirinha e ban<strong>de</strong>irantes. Outra seria, através da alusão ao revolucionário Ernesto “Che” Guevara.Este ganhou o apelido por usar muito a expressão. Outra versão remete ‘a expressão a origem no guarani dapopulação indígena. Esta po<strong>de</strong> ter vários significados como “eu”, “meu” e também “amigo”.
92gran<strong>de</strong> do Sul e no oeste <strong>de</strong> Santa Catarina, hoje, já é consi<strong>de</strong>rado parte do vocabulário“gaúcho” 60 .Segundo Bakhtin, (2006) a socieda<strong>de</strong>, evi<strong>de</strong>ntemente, é também uma parte danatureza, no entanto, é qualitativamente distinta e separada <strong>de</strong>la, pois possui seu sistema <strong>de</strong>leis específicas. É nesta perspectiva que po<strong>de</strong>mos compreen<strong>de</strong>r a influência da socieda<strong>de</strong> nocomportamento humano. É certo, portanto, que o <strong>de</strong>senvolvimento social é um sistema emque o homem modifica a socieda<strong>de</strong> e esta o modifica, numa ca<strong>de</strong>ia simbiótica <strong>de</strong> trocas.Logo, ao compor os enunciados, veiculados pela linguagem radiofônica, essas expressõestraduzem-se como <strong>de</strong>marcadoras do lugar <strong>de</strong> enunciação, e este, por sua vez, como um lugar<strong>de</strong> possibilida<strong>de</strong> para simbiose. A linguagem radiofônica po<strong>de</strong> assim interferir na ca<strong>de</strong>ia <strong>de</strong>troca simbiótica, tanto pelo enunciado quanto pelo lugar <strong>de</strong> enunciação; traduz-se, ainda, tantocomo o espaço <strong>de</strong> fronteira cultural como ponte que possibilitando o transitar por territóriosculturais diferentes, promove o tecer através do <strong>de</strong>slocar.Ainda sobre esse diálogo, po<strong>de</strong>-se afirmar que a interação e o caráter dialógico doenunciado revelam tanto a <strong>de</strong>marcação do lugar <strong>de</strong> enunciação – como o exemplo <strong>de</strong>locutores gaúchos que, avaliando a atitu<strong>de</strong> “audaciosa” dos ladrões e a “competência” dosistema <strong>de</strong> segurança do renomado Museu do Estado <strong>de</strong> São Paulo. O estar do “lado <strong>de</strong> fora”60Cabe <strong>de</strong>stacar que outras expressões consi<strong>de</strong>radas pertencentes ao vocabulário ‘gaúcho’ também aparecemnas edições pesquisadas: Uma <strong>de</strong>las seria “tomar chimarrão. Esta aparece em algumas edições, como no dia17/08/2008, “eu aposto que ela tá tomando chimarrão Ariovaldo”, se referindo a ouvinte que estaria tomandochimarrão, o mesmo que dizer “<strong>de</strong> folga”, sem estar trabalhando. Ou no dia 06/02/2008, “[...] e ali agora seconcentram assim os jovens que vão ali tomar chimarrão, bater papo, [...]”, relacionando ao chimarrão comoponto <strong>de</strong> encontro, lazer, possibilida<strong>de</strong> das pessoas se encontrarem e confraternizarem. Observa-se que oenunciado procura atribuir essa possível característica ao chimarrão: reunir, integrar, facilitar entrosamentodas pessoas e conversas em torno <strong>de</strong> uma mesma cuia e uma mesma bomba. Conforme, LESSA, (1985) ochimarrão ou mate é uma bebida característica da cultura do sul da América do Sul, um hábito legado pelasculturas quíchua, aymará e guarani. É composto por uma cuia, uma bomba, erva-mate e água quente. Emboraa acepção mate seja castelhana, é utilizada popularmente também no Rio Gran<strong>de</strong> do Sul paralelamente com otermo "chimarrão", do espanhol “cimarrón”. O chimarrão é montado com erva-mate, geralmente servidoquente <strong>de</strong> uma infusão. Tem gosto que mistura doce e amargo, <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ndo da qualida<strong>de</strong> da erva-mate, que,pronta para o uso, consiste em folhas e ramos finos, secos e triturados, passados em peneira grossa, <strong>de</strong> corver<strong>de</strong>, havendo uma gran<strong>de</strong> varieda<strong>de</strong> <strong>de</strong> tipos, uns mais finos outros mais encorpados, vendidos a diversospreços. Um aparato fundamental para o chimarrão é a cuia, vasilha feita do fruto da cuieira. Há quem tomechimarrão em outros recipientes, mas a prática é geralmente mal vista. O outro talher indispensável é abomba ou bombilha, um canudo <strong>de</strong> cerca <strong>de</strong> 6 a 9 milímetros <strong>de</strong> diâmetro, normalmente feito em pratalavrada e muitas vezes ornado com pedras preciosas, <strong>de</strong> cerca <strong>de</strong> 25 centímetros <strong>de</strong> comprimento em cujaextremida<strong>de</strong> inferior há uma pequena peneira do tamanho <strong>de</strong> uma moeda e na extremida<strong>de</strong> superior umapiteira semelhante a usada para fumar, muitas vezes executada em bom ouro <strong>de</strong> lei. A outra expressão foi“bah”. No dia 17/01/2008, o locutor 1 comenta: “Mas realmente está todo mundo chiando, aí, ‘que bah’. Ochiar po<strong>de</strong> estar relacionado a duas expressões fortemente vivenciadas na cultura gaúcha. Primeiro, o fortevento minuano característico do Rio Gran<strong>de</strong> do Sul, que sopra “chiando”. O segundo, relacionado também aochimarrão, pois a água é aquecida e antes um pouco <strong>de</strong> ferver. O segundo, relacionado também aochimarrão, pois a água é aquecida e quando estiver “chiando” está pronta para ser servida. Nesse contexto o“chiando” está relacionado a reclamação, irritação, fúria. A expressão “bah” aumentando, ressaltando. Assim“chiando aí que bah” é o mesmo que dizer, que a reclamação está muito gran<strong>de</strong>, <strong>de</strong>mais, insuportável.
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