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de subjetivação – para explicar esse regime de subjetivação<br />
encontram-se em uma situação contraditória.<br />
Essas teorias da subjetividade são desenvolvidas<br />
para explicar eventos que aquelas próprias teorias ajudaram<br />
a produzir, eventos que elas plantaram ao longo<br />
de <strong>nos</strong>sa existência, localizan<strong>do</strong>-os em uma<br />
interioridade que elas próprias ajudaram a cavar. Em<br />
contraste com essa perspectiva, proporei, na discussão<br />
que se segue uma análise da subjetivação que<br />
não utiliza uma metapsicologia para explicar como,<br />
em um momento histórico e cultural particular, <strong>nos</strong><br />
tornamos o que somos.<br />
O eu não deveria ser investiga<strong>do</strong> como um espaço<br />
conti<strong>do</strong> de individualidade humana, limita<strong>do</strong><br />
pelo envelope da pele, que foi precisamente a forma<br />
como, historicamente, ele acabou por conceber sua<br />
relação consigo mesmo. “Por que <strong>nos</strong>sos corpos<br />
devem terminar na pele? Do século XVII até agora,<br />
as máquinas podiam ser animadas – era possível atribuir-lhes<br />
almas fantasmas para fazê-las falar ou movimentar-se<br />
ou para explicar seu desenvolvimento<br />
ordena<strong>do</strong> e suas capacidades mentais. [...] Essas relações<br />
máquina/organismo são obsoletas, desnecessárias”<br />
(HARAWAY, 2000, p. 101). De fato, a própria<br />
idéia, a própria possibilidade, de uma teoria sobre<br />
um corpo separa<strong>do</strong> e envelopa<strong>do</strong>, habita<strong>do</strong> e anima<strong>do</strong><br />
por sua própria alma – “o” <strong>suj</strong>eito, “o” eu,<br />
“a” pessoa – é parte daquilo que tem que ser explica<strong>do</strong>,<br />
constituin<strong>do</strong> justamente o próprio horizonte<br />
de pensamento que esperamos ultrapassar. Se os<br />
seres <strong>huma<strong>nos</strong></strong> acabaram por se conceber como <strong>suj</strong>eitos,<br />
com um desejo de ser, com uma predisposição<br />
ao ser, isso não surge, como alguns sugerem, de