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Nunca_fomos_humanos_-_nos_rastros_do_suj

Tomaz Tadeu da Silva

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144<br />

de subjetivação – para explicar esse regime de subjetivação<br />

encontram-se em uma situação contraditória.<br />

Essas teorias da subjetividade são desenvolvidas<br />

para explicar eventos que aquelas próprias teorias ajudaram<br />

a produzir, eventos que elas plantaram ao longo<br />

de <strong>nos</strong>sa existência, localizan<strong>do</strong>-os em uma<br />

interioridade que elas próprias ajudaram a cavar. Em<br />

contraste com essa perspectiva, proporei, na discussão<br />

que se segue uma análise da subjetivação que<br />

não utiliza uma metapsicologia para explicar como,<br />

em um momento histórico e cultural particular, <strong>nos</strong><br />

tornamos o que somos.<br />

O eu não deveria ser investiga<strong>do</strong> como um espaço<br />

conti<strong>do</strong> de individualidade humana, limita<strong>do</strong><br />

pelo envelope da pele, que foi precisamente a forma<br />

como, historicamente, ele acabou por conceber sua<br />

relação consigo mesmo. “Por que <strong>nos</strong>sos corpos<br />

devem terminar na pele? Do século XVII até agora,<br />

as máquinas podiam ser animadas – era possível atribuir-lhes<br />

almas fantasmas para fazê-las falar ou movimentar-se<br />

ou para explicar seu desenvolvimento<br />

ordena<strong>do</strong> e suas capacidades mentais. [...] Essas relações<br />

máquina/organismo são obsoletas, desnecessárias”<br />

(HARAWAY, 2000, p. 101). De fato, a própria<br />

idéia, a própria possibilidade, de uma teoria sobre<br />

um corpo separa<strong>do</strong> e envelopa<strong>do</strong>, habita<strong>do</strong> e anima<strong>do</strong><br />

por sua própria alma – “o” <strong>suj</strong>eito, “o” eu,<br />

“a” pessoa – é parte daquilo que tem que ser explica<strong>do</strong>,<br />

constituin<strong>do</strong> justamente o próprio horizonte<br />

de pensamento que esperamos ultrapassar. Se os<br />

seres <strong>huma<strong>nos</strong></strong> acabaram por se conceber como <strong>suj</strong>eitos,<br />

com um desejo de ser, com uma predisposição<br />

ao ser, isso não surge, como alguns sugerem, de

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