You also want an ePaper? Increase the reach of your titles
YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.
elações da pessoa consigo mesma, eles não deveriam<br />
ser entendi<strong>do</strong>s como sen<strong>do</strong> primariamente intencionais<br />
e interacionais. Aquilo que torna qualquer<br />
intercâmbio particular possível surge de um regime<br />
de linguagem, o qual está aloja<strong>do</strong> em práticas que<br />
apreendem o ser humano sob variadas formas, que<br />
inscrevem, organizam, moldam e exigem a produção<br />
da fala – médica, legal, econômica, erótica, <strong>do</strong>méstica,<br />
espiritual. Mas essa referência às práticas<br />
e aos agenciamentos <strong>do</strong>s quais a linguagem faz<br />
parte chama a atenção para outra das inescapáveis<br />
debilidades das estórias “psicológicas” <strong>do</strong> eu narra<strong>do</strong>.<br />
Quan<strong>do</strong> a linguagem, nessas explicações, é<br />
vista como algo situa<strong>do</strong>, ela o é apenas ao mo<strong>do</strong><br />
wittgensteiniano vago de “formas de vida”, nas<br />
quais a “responsabilização” [accountability] funciona<br />
para tornar possíveis as ações. Essas dispensáveis referências<br />
a formas de vida são pouco adequadas à<br />
tarefa. O que precisa ser analisa<strong>do</strong> é o mo<strong>do</strong> da relação<br />
consigo mesmo que é intima<strong>do</strong> nas práticas e<br />
<strong>nos</strong> procedimentos, <strong>nos</strong> vínculos, nas linhas de força<br />
e <strong>nos</strong> fluxos defini<strong>do</strong>s que constituem pessoas e<br />
as atravessam e as circundam em maquinações particulares<br />
de força – para trabalhar, para curar, para<br />
reformar, para educar, para trocar, para desejar, não<br />
apenas para responsabilizar [accounting] mas para<br />
manter como responsabilizável. Não se trata de um<br />
apelo por uma localização mais delicada e sutil da<br />
comunicação “em seu contexto social”, mas por uma<br />
rejeição da forma binária que separa a linguagem<br />
de seu contexto apenas para reinseri-la contextualmente<br />
em um mun<strong>do</strong> que é reduzi<strong>do</strong> a uma espécie<br />
de pano de fun<strong>do</strong> cultural para o significa<strong>do</strong>.<br />
165