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Nunca_fomos_humanos_-_nos_rastros_do_suj

Tomaz Tadeu da Silva

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elas têm em comum, uma espécie de plano irreal de<br />

projeção de to<strong>do</strong>s os agenciamentos e maquinações<br />

heterogêneos – da mesma forma pela qual, na análise<br />

de Foucault, a “disciplina” era o nome de uma espécie<br />

de máquina abstrata que era imanente na prisão,<br />

na escola, <strong>nos</strong> quartéis (MP1, p. 83; cf. FOUCAULT,<br />

1977). Esse diagrama, esse a priori histórico, é a<br />

positividade aberta por <strong>nos</strong>sos regimes contemporâneos<br />

de subjetivação, uma positividade trazida à<br />

existência pelo saber e pelas práticas das ciências<br />

humanas, estabelecen<strong>do</strong> para elas, ao mesmo tempo,<br />

o próprio império que elas iriam mapear, colonizar,<br />

povoar e conectar pelas redes de pensamento<br />

e ações. Se podemos parafrasear Michel Foucault,<br />

isso “diagrama” um ser que, <strong>do</strong> interior <strong>do</strong>s discursos<br />

que o rodeiam e das práticas pelas quais ele é<br />

agencia<strong>do</strong>/monta<strong>do</strong>, é capacita<strong>do</strong> a saber, ou obriga<strong>do</strong><br />

a saber, aquilo que está em sua positividade –<br />

um ser que pensa a si mesmo tanto como livre quanto<br />

como determina<strong>do</strong> pelas positividades essenciais<br />

a si mesmo, que delimita a possibilidade de suas<br />

práticas de liberdade no mesmo momento em que<br />

concede a essas positividades o status de verdade<br />

(cf. FOUCAULT, 1985b).<br />

Esse ser psicológico está agora coloca<strong>do</strong> na origem<br />

de todas as atividades de amar, desejar, falar,<br />

trabalhar, a<strong>do</strong>ecer e morrer: a interioridade que tem<br />

si<strong>do</strong> dada aos <strong>huma<strong>nos</strong></strong> por to<strong>do</strong>s esses projetos que<br />

buscam conhecê-los e agir sobre eles a fim de dizerlhes<br />

sua verdade e tornar possível seu aperfeiçoamento<br />

e sua felicidade. É esse ser, cuja invenção é tão recente,<br />

embora tão fundamental à <strong>nos</strong>sa experiência contemporânea,<br />

que buscamos hoje governar sob o ideal<br />

197

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