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Nunca_fomos_humanos_-_nos_rastros_do_suj

Tomaz Tadeu da Silva

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(e falar para) as ansiedades, os me<strong>do</strong>s, os gostos, as<br />

esperanças e as formas de dar senti<strong>do</strong> <strong>do</strong> público<br />

por eles deseja<strong>do</strong>. Parece claro que ao falar para esses<br />

elementos, um filme tenta encontrar o público<br />

que ele imagina e deseja no lugar onde se encontram<br />

seus me<strong>do</strong>s e suas esperanças. Mesmo que o<br />

público nunca esteja no lugar para o qual o filme<br />

fala, o lugar que o filme endereça parece existir como<br />

um “lá” abstrato e partilhável, uma posição-de-<strong>suj</strong>eito<br />

imaginada no interior <strong>do</strong> poder, <strong>do</strong> conhecimento<br />

e <strong>do</strong> desejo que os interesses conscientes e<br />

inconscientes por detrás da produção <strong>do</strong> filme precisam<br />

que o público preencha. Abstratamente ou<br />

não, os filmes parecem “convidar” os especta<strong>do</strong>res<br />

reais a essas posições e encorajá-los, ao me<strong>nos</strong> imaginariamente,<br />

a assumir e a ler o filme a partir de lá.<br />

E os especta<strong>do</strong>res parecem ser “recompensa<strong>do</strong>s”<br />

(com o prazer da narrativa, com finais felizes, com<br />

experiências coerentes de leitura) por “assumir” e<br />

agir a partir daquela posição imaginária, à medida<br />

que interpretam o filme.<br />

Entretanto, a maior parte das teóricas <strong>do</strong> cinema<br />

concordaria que as questões sobre a relação entre,<br />

de um la<strong>do</strong>, a posição abstrata supostamente<br />

atribuída aos especta<strong>do</strong>res de um filme por seu mo<strong>do</strong><br />

de endereçamento e, de outro, a pessoa real que vê<br />

o filme, não foram resolvidas. Os prazeres que temos<br />

com os filmes rejeitam, teimosamente, quaisquer<br />

dicotomias rígidas entre, de um la<strong>do</strong>, simples<br />

e puros atos de reprodução altamente receptiva e<br />

cúmplice das posições que <strong>nos</strong> são oferecidas e, de<br />

outro, a resistência crítica a essas posições ou sua<br />

completa rejeição.<br />

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