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113 PERFIL POR POLLYANA BITENCOURT foto MARK FLOREST Dora Alves Uma vida dedicada a elevar a autoestima através dos cabelos “Não abra mão dos seus sonhos, eles podem se tornar realidade, é só a gente ter persistência e determinação”, recomenda a cabeleireira Dora Alves. É com um brilho de esperança nos olhos e uma crença de que tudo é possível, que ela conta a sua história, enquanto arruma o seu salão-escola, no bairro Maria Goretti, em Belo Horizonte. Nascida na periferia da capital mineira, ela aprendeu desde pequena a lidar com as adversidades da pobreza. O pai morreu quando ela tinha apenas oito anos. A mãe saía para trabalhar e como filha mais velha, cuidava dos quatro irmãos. “Eu tenho uma origem humilde, cresci numa favela lá no bairro 1º de Maio, perto da Praça Troca Égua, um lugar sofrido demais da conta, mas dentro de mim, sempre tive o desejo de mudar o rumo da minha história”, conta. Atualmente, Dora tem uma vida dedicada ao seu salão de beleza, especializado em cabelos afro e também coordena um projeto onde ensina pessoas carentes a profissão de cabeleireiro/a. Os primeiros passos na profissão foram ensinados pela mãe. “Foi ela quem me ensinou a fazer as tranças, os topetes e penteados no nosso cabelo’, conta. Uma experiência marcante aos oito anos determinou seu futuro. “Eu passei pasta [creme alisante à base de soda cáustica] no meu cabelo e ele caiu. Toda negra sonha em balançar o cabelo e eu não tinha consciência da minha negritude ainda”, justifica. A partir daí, ela começou as suas pesquisas sobre cremes para deixar os cabelos bonitos. “Eu ia lá no fundo do quintal, apanhava ora pro nobis, folha de abacate, entre outras experiências para tornar mais prático o cuidado com o cabelo”, diz. Todo o conhecimento adquirido hoje é fruto dessas pesquisas. Autodidata, ela aprendeu na prática e hoje tem até uma linha de produtos de beleza que leva o seu nome. “Eu fazia teste no meu cabelo e no dos meus filhos, depois passei para os vizinhos e comecei a ficar conhecida no bairro”, descreve. Aos 11 anos, ela conheceu aquele que viria a ser o pai de seus filhos. Casou-se aos 16 e teve seus dois filhos, que foram criados dentro do salão de beleza. “A minha filha quis aprender a profissão muito novinha, o meu filho também aprendeu e aí eles saíam comigo para ensinar o ofício nas escolas, nos abrigos e nos morros da cidade”, conta. Solidariedade O trabalho social sempre fez parte da vida de Dora, uma mulher forte e destemida, que possui um jeito único de lidar com as pessoas ao seu redor. Foi ela quem deu o primeiro emprego para vários meninos e meninas na primeira banca de revistas que existiu em sua região. Junto com o marido ela também abriu uma mercearia, mas o negócio não deu certo. “Quebrei de primeira <strong>por</strong>que quando chegavam pessoas necessitadas, meu coração partia e eu deixava a pessoa levar sem pagar”, afirma. <strong>Revista</strong> <strong>Elas</strong> <strong>por</strong> <strong>Elas</strong> - Abril <strong>2015</strong>