Revista Elas por elas 2015
A revista sobre gênero Elas por Elas foi criada, em 2007, com o objetivo de dar voz às mulheres e incentivar a luta pela emancipação feminina. A revista enfatiza as questões de gênero e todos os temas que perpassam por esse viés. Elas por Elas traz reportagens sobre mulheres que vivenciam histórias de superação e incentivam outras a serem protagonistas das mudanças, num processo de transformação da sociedade. A revista aborda temas políticos, comportamentais, históricos, culturais, ambientais, literatura, educação, entre outros, para reflexão sobre a história de luta de mulheres que vivem realidades diversas.
A revista sobre gênero Elas por Elas foi criada, em 2007, com o objetivo de dar voz às mulheres e incentivar a luta pela emancipação feminina. A revista enfatiza as questões de gênero e todos os temas que perpassam por esse viés. Elas por Elas traz reportagens sobre mulheres que vivenciam histórias de superação e incentivam outras a serem protagonistas das mudanças, num processo de transformação da sociedade. A revista aborda temas políticos, comportamentais, históricos, culturais, ambientais, literatura, educação, entre outros, para reflexão sobre a história de luta de mulheres que vivem realidades diversas.
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Uma mulher que “enxergava” à<br />
frente de seu tempo, que “via” longe,<br />
mesmo sem enxergar… Assim era Rose<br />
Marie Muraro, escritora e feminista<br />
brasileira, que faleceu em junho de<br />
2014, aos 83 anos. Intelectual que lutava<br />
pela igualdade de direitos entre<br />
homens e mulheres, Rose Marie foi<br />
reconhecida pela Lei 11.261 de 2005,<br />
durante o governo Lula, como Patrona<br />
do Feminismo Brasileiro.<br />
Rose Marie nasceu no Rio de Janeiro,<br />
em 1930, com uma visão muito<br />
baixa e que piorou ao longo dos anos<br />
até ficar cega nos últimos tempos. No<br />
entanto, essa limitação não a impediu<br />
de viver uma vida intensa e militante<br />
em prol de um mundo mais justo e<br />
igualitário. Sua trajetória sempre marcada<br />
pela defesa da emancipação feminina<br />
repercutiu fortemente no Brasil<br />
do século XX. Sua atuação no movimento<br />
feminista e sua extensa obra<br />
propagaram conceitos libertários que<br />
foram sementes de mudanças que atingiram<br />
a realidade das mulheres brasileiras<br />
desde a década de 60 até hoje.<br />
“A minha militância começou em<br />
meados da década de 40 quando tomei<br />
consciência da injustiça social”, relatou<br />
Rose Marie em um memorial, disponibilizado<br />
<strong>por</strong> sua filha, Tônia Muraro,<br />
para essa re<strong>por</strong>tagem. Rose participou<br />
do movimento estudantil desde o ensino<br />
médio. Escreveu o primeiro número<br />
do jornal Roteiro da Juventude, da Juventude<br />
Estudantil Católica (JEC). “Foi<br />
aí que me lancei no mundo. E já não<br />
me interessava mais ser feliz e sim<br />
fazer o que tinha que ser feito. Minha<br />
vida se abria para algo maior que ela<br />
mesma”, contou Rose.<br />
Em 1949, entrou para a Universidade<br />
do Brasil (hoje UFRJ) para estudar<br />
Física. “Eram cerca de 70 homens e<br />
umas dez mulheres. Fui recebida <strong>por</strong><br />
eles com grande susto <strong>por</strong>que era a<br />
mais jovem e tinha passado em primeiro<br />
lugar, vinda de um colégio de freiras<br />
desconhecido. Foi aí que tive conhecimento<br />
das outras classes sociais. Saí<br />
de um mundo elitista para um mundo<br />
misturado, <strong>por</strong>que a nossa era uma<br />
universidade pública”, relatou Rose.<br />
Inquieta militante<br />
Participou da Campanha o “Petróleo<br />
é Nosso”, na época da Fundação<br />
da Petrobras. “Eu estava começando a<br />
participar de movimentos políticos,<br />
mas ainda estava muito ligada à minha<br />
vida pessoal, <strong>por</strong>que já casada, tinha filhos<br />
pequenos a quem adorava, embora<br />
detestasse minha vida de casada”,<br />
contou, sem constrangimentos, em seu<br />
memorial.<br />
Da experiência da vida de inquieta<br />
militante para o início do trabalho<br />
como editora e difusora de novas ideias,<br />
se passaram três décadas. Em 1961,<br />
com 31 anos, começou a trabalhar na<br />
Editora Vozes. A partir de então, Rose<br />
escreveu 40 livros e editou cerca de<br />
“E já não me<br />
interessava mais<br />
ser feliz e sim fazer<br />
o que tinha que ser<br />
feito. Minha vida se<br />
abria para algo<br />
maior que ela<br />
mesma”.<br />
1.600 títulos. Atuou na Vozes <strong>por</strong> 17<br />
anos, onde foi diretora junto com o<br />
teólogo Leonardo Boff, e também na<br />
Rosa dos Tempos, única editora dedicada<br />
ao Estudo de Gênero na América<br />
Latina, entre os anos de 1990 e 2000.<br />
Em 1966 saiu o seu primeiro livro,<br />
A Mulher na Construção do Mundo<br />
Futuro, que vendeu dez mil exemplares<br />
em três meses. Em 1968, escreveu<br />
sua segunda obra: Automação e o Futuro<br />
do Homem, e em 1970, Libertação<br />
sexual da Mulher, ambas pela<br />
Editora Vozes.<br />
Vigiada pelos militares<br />
Em 1971, Rose Marie trouxe ao<br />
Brasil a estadunidense Betty Friedan,<br />
considerada uma das feministas mais<br />
influentes do século XX, vinda essa<br />
que gerou grande repercussão na opinião<br />
pública da época. “Foram três<br />
dias de loucura. Quando ela foi embora,<br />
parecia um país devastado e os militares<br />
me vigiaram durante seis meses”, comentou<br />
Rose. Segundo ela, a visita de<br />
Betty inaugurou um novo tempo na<br />
história feminista brasileira.<br />
Hildete Pereira de Melo, professora<br />
de Economia da Universidade Federal<br />
Fluminense e ex-assessora da Secretaria<br />
de Políticas para as Mulheres, conheceu<br />
Rose na década de 70, período de<br />
efervescência do feminismo no Brasil.<br />
“Ela era extremamente inteligente, alegre<br />
e arguta. E muito avançada em<br />
suas posições. Sua dificuldade física<br />
nunca a impediu de realizar uma vida<br />
política militante, baseada em uma<br />
grande erudição”, disse.<br />
Em 1975, Rose participou da fundação<br />
do Centro da Mulher Brasileira.<br />
Ainda nesse ano, os militares, <strong>por</strong><br />
<strong>Revista</strong> <strong>Elas</strong> <strong>por</strong> <strong>Elas</strong> - Abril <strong>2015</strong>