128 Miriam Alves, do coletivo Bloco das Pretas: “a arte educa e sensibiliza a sociedade”. foto DENILSON CAJAZEIRO <strong>Revista</strong> <strong>Elas</strong> <strong>por</strong> <strong>Elas</strong> - Abril <strong>2015</strong>
129 CULTURA NEGRA <strong>por</strong> DENILSON CAJAZEIRO Arte e resistência Por meio de intervenções artísticas, mulheres colocam em pauta a agenda feminista Literatura, música, teatro, dança, performance e outras formas de arte e cultura feitas <strong>por</strong> mulheres tomaram conta de vários espaços do centro e da periferia de Belo Horizonte e região metropolitana, entre os dias 6 e 8 de março deste ano. As cerca de 130 apresentações foram gratuitas e fizeram parte da mostra Diversas – feminismo, arte e resistência, evento promovido <strong>por</strong> grupos e coletivos de mulheres. O evento, que também contou com oficinas em ocupações urbanas sobre feminismo e rodas de conversa, propôs o debate, <strong>por</strong> meio das intervenções artísticas, de temas da pauta feminista, como a violência contra as mulheres, a participação d<strong>elas</strong> no mercado de trabalho, a mercantilização do corpo, a sexualidade e os direitos reprodutivos, a luta das mulheres negras, entre outros. Um dos coletivos que participou da mostra foi o Bloco das Pretas, criado há três anos dentro da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e formado <strong>por</strong> cerca de 25 mulheres. Atualmente, uma das principais intervenções do grupo é o sarau poético, que reúne música, expressão cor<strong>por</strong>al e poesia. “A expressão cor<strong>por</strong>al é muito definidor da mulher negra. Quando tratamos do racismo e do machismo, isso está no corpo dela, além do aspecto cultural mesmo, pois as mulheres negras têm uma expressão muito forte”, afirma a integrante do coletivo e estudante de Pedagogia Miriam Gomes Alves, para quem a arte é uma maneira de sensibilizar as pessoas. “Às vezes, só pela discussão teórica não se consegue sensibilizar todos os sujeitos. A arte tem esse caráter de sensibilizar e educar a sociedade”. Em vários espaços públicos da cidade, as integrantes do grupo já se apresentaram e discutiram temas como a invisibilidade da religião de matriz africana ou a violência obstétrica. Na mostra Diversas, o grupo apresentou um sarau com o tema apropriação cultural, em que lançou um olhar crítico sobre o uso de elementos da cultura negra no Carnaval de Belo Horizonte deste ano, e ministrou oficinas na ocupação Guarani Kaiowá sobre gênero e identidade. “Somos mulheres negras da periferia e queremos trabalhar com grupos periféricos, <strong>por</strong> meio das intervenções, do empoderamento da mulher negra e do incentivo à escrita. O objetivo é sair do espaço acadêmico e ir para a periferia”, revela. Outro coletivo que participou da mostra e propôs a discussão sobre a pauta racial foi o Negras Ativas. Criado em 2003, o grupo desenvolve atividades artísticas, culturais e formativas, a partir da valorização dos saberes das mulheres negras nas comunidades. O trabalho mais recente d<strong>elas</strong> foi o documentário A arte de ser, exibido na mostra, que aborda a inserção de jovens mulheres na cena do hip-hop de Belo Horizonte. “Aos poucos, as meninas estão quebrando os estereótipos e rompendo a cultura machista que há no hip-hop”, aponta Joseli Rosa de Souza, integrante do Negras Ativas. “Entendemos que com a arte conseguimos trazer mais mulheres para a discussão. A arte pode possibilitar a construção de uma política diferenciada. É uma forma de denunciar usando a arte”, afirma. O grupo também promoveu durante a mostra uma roda de conversa, em que discutiram as bandeiras das mulheres negras e divulgaram a agenda da Marcha das Mulheres Negras deste ano – a estadual será em 13 de maio, na Praça Sete, no Centro de Belo Horizonte, e a nacional será em Brasília, em 18 de novembro. “Marcharemos em homenagem às nossas ancestrais e em defesa da cidadania plena das mulheres negras brasileiras”, defendem as entidades que participam do comitê organizador da Marcha, em texto publicado no site da atividade (www.<strong>2015</strong>marchamulheresnegras.com.br).ø <strong>Revista</strong> <strong>Elas</strong> <strong>por</strong> <strong>Elas</strong> - Abril <strong>2015</strong>