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Revista Elas por elas 2015

A revista sobre gênero Elas por Elas foi criada, em 2007, com o objetivo de dar voz às mulheres e incentivar a luta pela emancipação feminina. A revista enfatiza as questões de gênero e todos os temas que perpassam por esse viés. Elas por Elas traz reportagens sobre mulheres que vivenciam histórias de superação e incentivam outras a serem protagonistas das mudanças, num processo de transformação da sociedade. A revista aborda temas políticos, comportamentais, históricos, culturais, ambientais, literatura, educação, entre outros, para reflexão sobre a história de luta de mulheres que vivem realidades diversas.

A revista sobre gênero Elas por Elas foi criada, em 2007, com o objetivo de dar voz às mulheres e incentivar a luta pela emancipação feminina. A revista enfatiza as questões de gênero e todos os temas que perpassam por esse viés. Elas por Elas traz reportagens sobre mulheres que vivenciam histórias de superação e incentivam outras a serem protagonistas das mudanças, num processo de transformação da sociedade. A revista aborda temas políticos, comportamentais, históricos, culturais, ambientais, literatura, educação, entre outros, para reflexão sobre a história de luta de mulheres que vivem realidades diversas.

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69<br />

Mães de Noronha<br />

Gestantes do arquipélago vivem “exílio da maternidade”<br />

Numa manhã ensolarada em Fernando<br />

de Noronha, ouvi um relato que<br />

me deixou sem sono <strong>por</strong> muitos dias.<br />

Foi num passeio de barco entre a Praia<br />

da Cacimba do Padre e a Praia do Sancho<br />

que escutei de uma moradora do<br />

arquipélago um comentário natural para<br />

quem vive na principal ilha do estado<br />

de Pernambuco, mas assustador para<br />

os que vivem no continente. Numa conversa<br />

informal, ela contava ao condutor<br />

da embarcação como uma noronhense<br />

havia burlado o sistema de controle de<br />

natalidade da ilha para ter o filho em<br />

casa. Chocada com o relato brutal de<br />

violência contra as mulheres, perguntei<br />

o que aquilo significava para ela. “Não<br />

podemos ter filho aqui. Aos sete meses<br />

de gestação, somos literamente expulsas<br />

da ilha para termos o bebê no continente.<br />

Normalmente vamos para o Recife<br />

ou Natal, mas nem sempre temos<br />

familiares lá”, contou.<br />

Minha viagem de férias em Noronha<br />

não foi mais a mesma. Não conseguia<br />

esquecer o que tinha escutado e não<br />

entendia como nós, pernambucanos,<br />

morando no mesmo estado que aqu<strong>elas</strong><br />

mulheres, sequer conhecíamos aquela<br />

realidade. Retornando da folga, resolvi<br />

investigar a trajetória das mães de Noronha<br />

para o jornal onde trabalho, o<br />

Diário de Pernambuco. Após cerca<br />

de três meses de ligações, agendamento<br />

de entrevistas e recusas do governo do<br />

estado para que eu continuasse tocando<br />

a pauta, desembarquei no arquipélago<br />

para descobrir o que havia <strong>por</strong> trás da<br />

negação dos direitos das mulheres a<br />

terem os filhos perto de casa, com o<br />

apoio do marido e dos familiares.<br />

Longe de parecer um paraíso, a<br />

Noronha daqu<strong>elas</strong> mulheres não tem<br />

os atrativos que encantam os cerca de<br />

60 mil turistas que passam <strong>por</strong> lá todos<br />

os anos. O resultado dos dias dedicados<br />

a ouvir aqu<strong>elas</strong> mães foi o especial<br />

multimídia Mães de Noronha, que reuniu<br />

os depoimentos de mulheres que<br />

lutam <strong>por</strong> um único direito: o de ter os<br />

filhos perto de casa.<br />

Os partos começaram a ser proibidos<br />

em Fernando de Noronha quando<br />

a maternidade do Hospital São Lucas,<br />

o único do arquipélago foi desativado<br />

em 2004. É obrigação do poder público<br />

evitar a explosão populacional para<br />

“Não podemos ter<br />

filho aqui. Aos sete<br />

meses de gestação,<br />

somos literamente<br />

expulsas da ilha para<br />

termos o bebê no<br />

continente”.<br />

preservar o Parque Nacional Marinho<br />

de Fernando de Noronha, área que<br />

corresponde a 70% do território da<br />

ilha oceânica. Oficialmente, o estado<br />

nega que esse tenha sido o motivo da<br />

desativação da maternidade. A pequena<br />

quantidade de partos registrada <strong>por</strong><br />

ano em Fernando de Noronha é a justificativa<br />

da administração da ilha para<br />

a proibição de partos no hospital.<br />

Os espaços que já foram as salas de<br />

parto e de recém-nascidos do Hospital<br />

São Lucas estão, hoje, abarrotados de<br />

caixas com prontuários, equipamentos<br />

sem uso e cadeiras. A emergência do<br />

hospital recebe, de acordo com a Secretaria<br />

Estadual de Saúde, cerca de<br />

800 pessoas <strong>por</strong> mês. Poucos pacientes,<br />

<strong>por</strong>ém, conseguem sair de lá com um<br />

diagnóstico preciso. Faltam médicos,<br />

remédios e máquinas para realizar exames.<br />

Sem saída, muitos pacientes precisam<br />

recorrer ao Tratamento Fora do<br />

Domicílio (TFD) e viajar ao continente.<br />

A estrutura precária do hospital e a<br />

ausência de profissionais de saúde em<br />

Noronha foram denunciadas pelos próprios<br />

funcionários e <strong>por</strong> moradores da<br />

ilha. “As paredes estavam rachadas, e<br />

o teto caindo. A direção do hospital<br />

precisou tomar providências sem a<br />

ajuda do estado”, revelou uma funcionária<br />

que não quis se identificar. Nas<br />

décadas de 1960 e 1970, o atendimento<br />

era feito <strong>por</strong> médicos da Aeronáutica.<br />

Hoje, a gestão está nas mãos<br />

<strong>Revista</strong> <strong>Elas</strong> <strong>por</strong> <strong>Elas</strong> - Abril <strong>2015</strong>

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