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Autoras: Stéfani Werlang Sacon, Allyne Cristina Grando<br />
ARTIGO CIENTÍFICO I<br />
Gestantes e Recém-Nascidos<br />
As gestantes que já tiveram<br />
contato com o parasita antes<br />
de engravidar e que já tenham<br />
desenvolvido imunidade não irão<br />
transmitir a infecção ao feto, a não<br />
ser que haja uma reativação da<br />
doença durante a gestação, o que<br />
é comum em pacientes com o Vírus<br />
da Imunodeficiência Humana (HIV),<br />
em mulheres que estejam recebendo<br />
corticóides, que possuam alguma<br />
outra doença hematológica maligna<br />
ou estejam recebendo qualquer<br />
outro tipo de imunossupressor. Os<br />
danos causados irão depender da<br />
virulência da cepa do parasita, da<br />
integridade do sistema imune da<br />
gestante e do período gestacional<br />
em que a mulher está9,10. O fato<br />
de que os sintomas na mãe sejam<br />
brandos não significa que isso se<br />
aplica ao feto e, quanto mais cedo na<br />
gestação a mãe se contaminar com o<br />
T. gondii ou reativar a doença, mais<br />
graves serão os danos causados ao<br />
feto 1,10 .<br />
Caso a infecção ocorra no primeiro<br />
trimestre da gestação as chances<br />
de contaminação do feto são baixas<br />
(15%), pois a placenta possui<br />
dimensões pequenas tornando mais<br />
difícil o acesso do T. gondii a esse<br />
tecido, entretanto, caso a infecção<br />
se estabeleça as consequências<br />
podem ser gravíssimas uma vez que<br />
é nesse período gestacional que<br />
ocorre a organogênese, podendo<br />
ocorrer inclusive a morte fetal. No<br />
segundo trimestre com o aumento<br />
da placenta, a chance de infecção<br />
fetal também aumenta (30%), mas<br />
como a organogênese já ocorreu<br />
as consequências serão menos<br />
graves, nesse caso poderá ocorrer a<br />
Tétrade de Sabin (retinocoroidite,<br />
calcificações cerebrais, retardo<br />
mental e hidrocefalia com macro ou<br />
microcefalia). Já no terceiro trimestre<br />
a chance de infecção fetal é de 60%<br />
mas as consequências causadas não<br />
são tão graves, a criança poderá<br />
nascer normal e em alguns dias<br />
ou meses após o parto existe a<br />
possibilidade de que ela desenvolva<br />
febre, manchas pelo corpo e<br />
cegueira 8,10 . O Ministério da Saúde<br />
(MS) preconiza que o tratamento<br />
seja realizado com espiramicina,<br />
alternada ou não com sulfadiazina,<br />
ácido folínico e pirimetamina<br />
dependendo da idade gestacional<br />
e infecção fetal 11 . É importante<br />
salientar que este tratamento,<br />
mesmo com a reposição do ácido<br />
folínico, pode causar teratogênese,<br />
mostrando a importância de iniciar<br />
o tratamento apenas quando se<br />
tem certeza de que há realmente<br />
uma infecção ativa8. Em 2010 foi<br />
aprovada a lei estadual n° 13.592<br />
onde, no Estado do Rio Grande do<br />
Sul, tornou-se obrigatório o exame<br />
de toxoplasmose em gestantes<br />
e recém-nascidos dos hospitais<br />
públicos e privados que dispõem do<br />
Sistema Único de Saúde (SUS) 12 .<br />
Um artigo de Quadros et al. (2015)<br />
mostra que na França, em 8 anos<br />
houve uma redução da prevalência<br />
de toxoplasmose de 10,5% com a<br />
implantação de medidas de higiene<br />
e mudança dos hábitos alimentares<br />
das gestantes 13 , isso mostra que<br />
se o SUS investir em políticas de<br />
prevenção e de conhecimento da<br />
toxoplasmose por parte da população<br />
a prevalência da doença tende a cair<br />
com o passar dos anos. Em Londrina,<br />
no Paraná, foi implantado no ano de<br />
2006 o “Programa de Vigilância da<br />
Toxoplasmose Congênita”, que em 4<br />
anos reduziu em 63% o número de<br />
gestantes infectadas e em 42% o<br />
número de crianças encaminhadas<br />
aos serviços de referência,<br />
aumentando a disponibilidade de<br />
vagas para que pacientes com outras<br />
doenças sejam atendidos 14 .<br />
De acordo com o Manual Técnico de<br />
Gestação de Alto Risco, do Ministério<br />
da Saúde (2012), recomenda-se<br />
a triagem por meio da detecção<br />
de anticorpos da classe IgG e IgM<br />
na primeira consulta de pré-natal,<br />
0 18<br />
<strong>Revista</strong> NewsLab <strong>Edição</strong> <strong>166</strong> | Julho 2021