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<strong>EMBAIXO</strong> das velhas <strong>ESTRELAS</strong><br />
Como crianças, vocês procuram as pequenas proteções<br />
que os vilarejos de todos os tamanhos e formatos oferecem.<br />
Escondidos atrás de paredes transitórias, e iluminados<br />
por fracas luzes de velas com pavio curto, eu e vocês nos<br />
julgamos completamente protegidos. Mas essas certezas<br />
têm a permanência de uma nuvem ao vento, logo começam<br />
a brotar rachaduras que enfraquecem nosso bem-estar e<br />
inflam nossos medos. Então percebemos que nada nunca<br />
nos protegerá de verdade, que as paredes, as luzes artificiais<br />
e as ruas esquadrinhadas, não têm importância suficiente<br />
para que percamos nossas vidas lutando por elas e por suas<br />
manutenções.<br />
A verdade imposta revela-se uma farsa, as crenças em<br />
um sistema de viver desabam, e ao homem advindo dessa<br />
desilusão só restam os céus e as matas. Mas ele deve escolher,<br />
se mesmo ciente da mentira, continua vivendo dentro dela<br />
e nutrindo-se das sobras de energias mortas que satisfazem<br />
seus pequenos prazeres, ou então se decide iniciar seu próprio<br />
sistema de viver. Caso decida-se por essa última possibilidade,<br />
tem de ficar muito atento para não construir apenas uma<br />
cópia maquiada daquilo que renegou.<br />
Os céus e as matas impõem-se imensos diante daqueles<br />
que abandonam os vilarejos, são mistérios molhados, e<br />
nesses instantes iniciais, as recordações de certezas secas<br />
chegam trazendo grandes dúvidas. O desânimo pode<br />
inventar justificativas para um retorno ao vilarejo, pra que se<br />
incomodar... as coisas são assim mesmo... eu não vou mudar<br />
o mundo...