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<strong>EMBAIXO</strong> das velhas <strong>ESTRELAS</strong><br />
se enganando e irrigando ainda mais as idéias negativas, que sem<br />
poder sentir, estariam livres para inventar o avanço da infecção.<br />
Pediu ajuda, gritou pelo equilíbrio emocional, acudiu-lhe<br />
a idéia de que aquele cheiro ruim, que lhe trazia tantas idéias<br />
negativas, era o resultado de uma reação de seu organismo.<br />
Aquelas secreções tinham origem em um desejo de vida e não de<br />
morte. E talvez o medo que estivesse sentindo fosse da vida e não<br />
da morte. E, sendo a morte inevitável e democrática como é, não<br />
faria sentido temê-la, pois seria algo como temer o ar ou o sol.<br />
Perguntou-se, então, se realmente seu medo era da vida. Não<br />
conseguiu responder, não conseguiu identificar de maneira<br />
clara sintomas desse eventual medo, mas também não duvidava<br />
completamente de sua existência. Comparou sua vida com a<br />
de outras pessoas do vilarejo, tentava descobrir se elas também<br />
temiam a vida ou se então tinham descoberto uma maneira<br />
secreta de encobrir esse medo. Nada descobriu. Resolveu<br />
esquecer-se dos outros e prestar mais atenção em si mesmo.<br />
Não seria todo seu ideário, de onde tinham nascido as razões<br />
que o fizeram abandonar o vilarejo, uma espécie de refúgio<br />
contra todos os sabores da vida? Eliminava os azedos que o<br />
incomodavam, mas para isso todos os outros gostos também<br />
desapareciam. Por um medo inconsciente de alguns instantes<br />
desagradáveis, viveria uma vida insossa. Não tinha certeza de<br />
que isso fosse verdade, mas a mera possibilidade incomodou-o<br />
bastante. Esqueceu-se completamente de suas dores físicas e<br />
mergulhou em busca de uma resposta.