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<strong>EMBAIXO</strong> das velhas <strong>ESTRELAS</strong><br />
acesas, mas já tinham diminuído em número. O verde<br />
começava a ganhar força e pintar a mata. Sabia que de agora<br />
em diante o processo seria rápido e a cada instante as luzes se<br />
modificariam.<br />
A contemplação do símbolo mágico de alguns instantes<br />
atrás, havia se transformado numa seqüência de surpresas.<br />
O instante era composto de vários saltos de consciência que<br />
traziam novidades. Mas esses momentos móveis quebravam<br />
suas certezas, arrastando-o para o desconhecido, estava em um<br />
território novo e mutável. A mudança vinha acompanhada da<br />
figura sombria do medo. Como ele vivia instantes fronteiriços<br />
entre luzes e sombras, todas suas certezas pareciam que<br />
também atravessavam marcos e perdiam forças. Sentiu no<br />
fundo do peito uma angústia que inchava. Observava o azul<br />
escuro perdendo sua cor, as mudanças que nunca deixaram de<br />
acontecer, mas que estiveram encobertas pela capa da noite,<br />
agora se mostravam. Talvez quando o dia clareasse de vez, as<br />
mudanças voltassem a ser encobertas, dessa vez pelas luzes.<br />
Essa situação de nascimento e morte o incomodava e<br />
amolecia as estruturas emocionais que ele havia conse<strong>guido</strong><br />
sedimentar ao longo do percurso. Voltou a imaginar<br />
seu personagem fictício, agora sentado em um banco da<br />
praça principal do vilarejo. Para ele também o dia estava<br />
amanhecendo. As luzes que o envolviam estavam confusas.<br />
Chovia forte, mas isso lhe parecia indiferente. Seu olhar<br />
parado num ponto indicava que as poucas certezas que tinha<br />
haviam evaporado. O que existia agora era o vazio e o medo.<br />
As luzes estranhas não deixavam claro se era hora de dormir<br />
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