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<strong>EMBAIXO</strong> das velhas <strong>ESTRELAS</strong><br />
Além disso, lembrou-se de que havia passado quase<br />
a noite inteira andando, que o dia tinha nascido e ele<br />
continuava caminhando. Mesmo assim não sentia o<br />
menor sono. Ocorreu-lhe a idéia de que talvez nunca<br />
mais dormisse, e que teria descoberto o segredo da eterna<br />
vigília. Em seguida questionou-se, se em algum instante de<br />
descuido, sem que percebesse, morrera e agora prosseguiria<br />
sua caminhada nesse limbo iluminado, sem noites ou<br />
sono. Cogitou também como outra possibilidade, que seu<br />
descuido de atenção que o levaria a estar morto, tivesse<br />
ocorrido ainda no vilarejo, e que todo o percurso pudesse<br />
ser um efeito colateral desse seu possível estado.<br />
E que dias e noites se sucederiam, mas sua consciência<br />
livre do peso real de um corpo vivo, prosseguiria atravessando<br />
barreiras e luzes, para sempre. Avançando e retrocedendo,<br />
passos na direção da luz para encontrar-se com a escuridão<br />
e passos rumo ao escuro para... interrompeu essas reflexões<br />
quando apalpou a farpa. Pela primeira vez alegrou-se com sua<br />
presença, ela confirmava que não estava morto.<br />
O fato de estar vivo, não tinha certeza absoluta disso, mas<br />
as possibilidades contrárias eram desprezíveis, lhe enchia<br />
o peito de uma certa responsabilidade misteriosa. Como a<br />
certeza da morte futura era absoluta, ele sentia a necessidade de<br />
enquanto estivesse vivo, dar o seu melhor. Não sabia como faria<br />
isso, e muito menos o que seria esse melhor. Mas suspeitava<br />
que qualquer que fosse o caminho escolhido, o equilíbrio<br />
emocional seria sempre um instrumento importante para que<br />
pudesse extrair seu máximo.<br />
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