Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
166<br />
<strong>EMBAIXO</strong> das velhas <strong>ESTRELAS</strong><br />
sempre correndo na mesma direção, sempre molhando as<br />
pedras cobertas de musgo, o vento também soprava sobre as<br />
águas e ciclicamente fazia com que alguma gota espirrasse nas<br />
margens. Em seus musgos mais escondidos, naqueles que nunca<br />
conhecerão senão água, ele sente profundamente essas emendas<br />
da vida, pulsando e acontecendo. Costuras que sente serem<br />
aparências, mentirinhas que são contadas para as crianças até que<br />
elas tenham idade para poder entender como as coisas realmente<br />
são. Enxerga o balançar da vegetação como o latejar de uma<br />
grande artéria, sente tudo, apenas isso, sem questionamentos.<br />
Se pudesse questionar acho que gostaria de saber que<br />
espécie de olho é esse que consegue enxergar do lado de dentro<br />
das coisas? Como ele tinha se tornado esse aparelho inquiridor,<br />
que não aceita os limites planos que cerceiam as vidas dos<br />
outros? Perguntaria também o que deveria acontecer a tal tipo<br />
de olho, a multiplicação ou a cegueira?<br />
Felizmente ele não precisaria perguntar nada disso, porque<br />
apenas sentia, e isso era suficiente. Era sangue e veia, flor e<br />
capim. Os ciclos ocorriam e ele participava deles sem perder<br />
a consciência disso, ao mesmo tempo sabia de seus passos e do<br />
ar que respirava, sentia os raios enfraquecidos de sol na pele e a<br />
textura acolhedora das areias sob seus pés.<br />
Estando nesse estado próximo da plenitude, estava na hora<br />
da teoria da farpa começar a mostrar ser verdadeira. E foi o que<br />
aconteceu. Se não somos cuidadosos ao apanhar um botão de<br />
rosa, acabamos furando o dedo nos espinhos. Quase senhor da<br />
vida e seus ritmos, ele iludiu-se com a beleza. Tentando eleger