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<strong>EMBAIXO</strong> das velhas <strong>ESTRELAS</strong><br />
etapas de sua caminhada, sonhos de infância, desilusões,<br />
números, nada conseguia impedir que a vontade de parar<br />
de caminhar continuasse se espalhando por seu corpo.<br />
Seu incômodo crônico... apalpou longamente seu braço<br />
mas não conseguiu localizar qualquer sinal da farpa de<br />
madeira sob sua pele. Até seu ferimento parecia desbotado,<br />
havia perdido a força, e as gotas brilhantes e vivas de sangue,<br />
agora eram pequenas manchinhas de sangue coagulado. Seu<br />
organismo havia matado aquilo que queria matá-lo. Sorriu<br />
ironicamente percebendo que apesar de tudo, é sempre a<br />
morte que vence no final. Seu sorriso morreu para que uma<br />
dúvida nascesse: mas o que teria acontecido com a farpa?<br />
Teria escapado pelo próprio ferimento, ou havia derretido<br />
dentro de si? Lembrou-se que da última vez que a apalpara<br />
ela parecia menor, mas o que poderia indicar aquilo?<br />
As hipóteses se sucediam e o conduziam a um estado de<br />
confusão mental, enquanto isso seu corpo prosseguia com<br />
passos cada vez mais duvidosos. decidiu que não importava<br />
o que tinha acontecido com a farpa, ela não existia mais e<br />
ponto final. Mas uma idéia estranha surgiu no fundo de seu<br />
pensamento e aumentou rapidamente cristalizando-se em<br />
pergunta: será que aquela farpa teria algum dia existido?<br />
Essa pergunta confirmava que suas desconfianças tinham<br />
proporções maiores do que aparentavam. Ele tinha se lembrado<br />
da farpa com o objetivo de esquecer-se das suspeitas que nutria<br />
sobre a coloração dos céus, mas o remédio havia se provado<br />
pior que a doença.