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<strong>EMBAIXO</strong> das velhas <strong>ESTRELAS</strong><br />
lumes, pediu para voltar a existir. Todas as sensações que<br />
vivera de noite queriam voltar à vida. Instintivamente buscou<br />
as estrelas no alto, mas encontrou a camada maciça de nuvens<br />
lilases e amarelas. Procurou se lembrar que as estrelas estavam<br />
lá, e era apenas ele que não conseguia enxergá-las.<br />
Mas se assim fosse, na verdade era como se elas não<br />
existissem. Tudo só existia através de seus olhos. Já nos tempos<br />
de vilarejo havia refletido sobre isso e essa constatação sempre<br />
o incomodara. desejava não ser sempre a mesma pessoa com o<br />
mesmo ponto de vista, desejava ser outros e enxergar as coisas<br />
sob ângulos diversos. Achava que não importava o quão culto,<br />
espiritualizado e observador qualquer pessoa fosse, por mais<br />
imbecis e restritas que fossem duas pessoas, seus pontos de<br />
vista diferenciados ofereceriam uma riqueza muito maior do<br />
que qualquer individualidade.<br />
Então sonhava em ser vários, pular de galho em galho e<br />
voltar carregado de experiências para sua velha morada. Não<br />
ter de acordar dia após dia repetitivamente com a mesma<br />
personalidade, os mesmos sonhos e culpas. Mas até onde<br />
sabia aquilo era um fato consumado, teria de se conformar<br />
em ser sempre um, convivendo com seu nome, seus hábitos e<br />
com a imagem que os outros faziam dele.<br />
Havia imaginado muitas maneiras de tentar ser outros, mas<br />
todas tinham se mostrado estratagemas infantis que não iam<br />
além das águas mais rasas. Enquanto isso, seus companheiros<br />
de vilarejo estavam perfeitamente conformados em serem<br />
apenas eles mesmos. Pelo contrário, todos seus esforços eram