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<strong>EMBAIXO</strong> das velhas <strong>ESTRELAS</strong><br />
desabrochassem. Parecia que vivia num grande entroncamento<br />
de corredores vazios, e à medida que caminhava, células fotoelétricas<br />
iriam acendendo as luzes da sala em que ele estivesse<br />
naquele instante.<br />
Os mares agitados deslocavam de lugar suas certezas e<br />
traziam novos ingredientes que, misturados, tinham um gosto<br />
confuso, que não sabia julgar bom ou mau. Tempo, realidade,<br />
memória, ilusão, novas cores, novos estados mentais, novas<br />
relações entre tudo o que existe, os pacotes de certezas acabaram<br />
escorregando pelo tombadilho de seu navio e desaparecendo<br />
no fundo do mar escuro.<br />
Precisava de terra firme, decidiu que aqueles arbustos<br />
tinham flores e ponto final. Não importava quando e como elas<br />
surgiam, não queria saber se elas deixavam de existir assim que<br />
ele as deixava para trás, nem se as que estavam à frente ainda não<br />
existiam. Olhou para as flores e reparou nos pequenos brotos<br />
multicolores, era a vida se reproduzindo. A beleza o encantou,<br />
mas ele precisava de algo que represasse as águas revoltas que<br />
se moviam dentro de si. Lembrou-se da farpa que tinha sob a<br />
pele. Apalpou o braço procurando encontrá-la. Numa primeira<br />
tentativa nada encontrou, talvez ela tivesse sido absorvida pelo<br />
organismo dissolvendo-se na corrente sanguínea. Apalpando<br />
melhor encontrou um pedaço dela, tinha um terço do tamanho<br />
original. Mas ela estava lá, e apesar de parecer não querer mais<br />
ser, ainda era concreta.<br />
As flores estavam por todos os lados e suas cores eram<br />
como mil bifurcações para caminhos mentais especulativos.