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<strong>EMBAIXO</strong> das velhas <strong>ESTRELAS</strong><br />
Sorriu. Como costumava fazer quando estava segurando um<br />
punhado de areia na mão e ela escorria por entre seus dedos.<br />
Reparou que nesses últimos metros de percurso, a terra havia<br />
se transformado em areia. Perguntou-se se a areia voltaria<br />
a ser terra, ou se flores tão coloridas quanto as do bosque<br />
poderiam encontrar alimento na areia branca.<br />
Sua pergunta ficou sem resposta, desconfiou que<br />
talvez, de agora em diante, se houvesse outras perguntas,<br />
elas também só ouviriam o silêncio. E era isso que ele<br />
continuava escutando. As imagens mudas dominavam seus<br />
sentidos, pensou em gritar alguma coisa, ou então sussurrar.<br />
Permaneceu calado. O universo despejava novas areias que<br />
estavam atravessando sua cabeça: um grito talvez fosse<br />
como o aparecimento do sol, logo após o sol se pôr. Calouse<br />
porque as mudanças precisam ter um sentido, e acabam<br />
sendo nocivas se existem apenas pela mudança em si. da<br />
mesma forma que qualquer coisa é nociva quando existe<br />
apenas para si mesma.<br />
Ele não precisava de dois sóis. Metade daquele que conhecia<br />
já havia sido engolido pelo horizonte. As nuvens tinham sido<br />
varridas para longe. Mas não havia vento. Apesar de não haver<br />
mais nuvens, do céu voltar a estar limpo e do sol amarelar o<br />
horizonte, a sensação de meios-tons que o mundo transmitia<br />
nunca tinha sido tão forte. E esses meios-tons não se referiam<br />
apenas às luzes, ele sentia-se fluido, amarelado e distante, como<br />
uma nuvem que tenta se aproximar de um sol poente. desejou<br />
naquele instante ter um espelho para poder olhar-se. Temeu<br />
não conseguir enxergar nada.<br />
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