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<strong>EMBAIXO</strong> das velhas <strong>ESTRELAS</strong><br />
algumas pedras irregulares cuja disposição parecia não<br />
obedecer a nenhuma lógica, entretanto sabia que a lógica e a<br />
matemática eram sutis e dissimuladas, e que a mais irregular<br />
das situações poderia encontrar perfeito encaixe. Resolveu<br />
não aguçar sua percepção, vivendo cada instante de maneira<br />
relativamente rasa e aparentemente independente.<br />
Olhou para a paisagem que parecia perfeitamente regular<br />
até onde seus olhos enxergavam. Enfiou os pés n’água, cuja<br />
temperatura era tão neutra que nem parecia que seus pés<br />
estavam molhados. Reparou que o fundo do riacho era<br />
agora perfeitamente plano, areia e nada mais. Avançou com<br />
cuidado, não queria ser surpreendido por pedras, mas o fundo<br />
continuava plano. A água não atrapalhava em nada o ritmo<br />
de sua caminhada, prosseguia com a mesma facilidade que<br />
se caminhasse pela margem. Nenhuma depressão, nenhum<br />
resquício de irregularidade, o riacho parecia que havia sido<br />
canalizado de tão simétrico que era.<br />
As águas eram agora bastante transparentes e ele conseguia<br />
enxergar bem por onde pisava. Via seus pés e nada mais, nenhum<br />
resquício de qualquer substância viva, folhas, gravetos, peixes,<br />
nada, aquele riacho parecia um animal empalhado. Apesar da<br />
água ser transparente, começou a sentir seus pés sujos. Olhavaos<br />
e eles estavam limpos, mas sentia-os sujos. Talvez, o caminhar<br />
por um córrego com nenhum sinal de vida, fosse parecido a<br />
caminhar por outro atolado de cadáveres que boiavam.<br />
Saiu d’água e continuou caminhando pela margem, o<br />
horizonte lhe dizia sempre a mesma coisa, lembrou-se da dúvida<br />
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