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<strong>EMBAIXO</strong> das velhas <strong>ESTRELAS</strong><br />
digam a um homem que grita de dores que ele deveria ter<br />
escovado melhor seus dentes, passando a escova tantas e tantas<br />
vezes em cada sentido para que as cáries não se formassem. Ele<br />
nada escutará. Qualquer ligeira brisa que movesse suavemente<br />
os arbustos, o aparecimento de uma joaninha ou mesmo a volta<br />
das águas em movimento do riacho, isso aliviaria suas dores<br />
fazendo-o esquecer do material sólido como sendo a solução<br />
definitiva para seu problema.<br />
Como nada disso acontecia, ele continuava mentalmente<br />
buscando sua cura completa, para isso despediu-se do pouco que<br />
tinha, parou de caminhar e fechou os olhos. Não queria luzes,<br />
cores nem formas, encararia de frente aquilo que o atormentava,<br />
sem pequenos subterfúgios nem gases anestesiantes. As idéias<br />
atropelavam-se com rapidez, sempre estive e todos sempre<br />
estiveram, estão e estarão absolutamente sós. Essa constatação,<br />
por si só, não é alegre nem triste. É apenas como o mundo é.<br />
Aceitar isso é um grande primeiro passo, mas o ato de caminhar,<br />
por si só, não é necessariamente melhor nem pior do que o ato<br />
de ficar parado. Quanto mais necessidade temos de estarmos<br />
sempre acompanhados, mais tendência possuímos de termos<br />
vazamentos nos gases que nos anestesiam.<br />
Abriu os olhos quando percebeu que estava sendo dogmático,<br />
não queria escrever os dez mandamentos contra a solidão.<br />
Também não tinha nenhuma certeza a respeito de suas próprias<br />
dores, do material gasoso e sólido, tudo isso poderia não passar<br />
de algum preconceito incrustado em seu subconsciente desde a<br />
infância. Alguma doença comportamental crônica que, sempre<br />
o fizera, nas mais diferentes épocas e situações, comportar-se