You also want an ePaper? Increase the reach of your titles
YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.
82<br />
<strong>EMBAIXO</strong> das velhas <strong>ESTRELAS</strong><br />
todos dormindo. Isso não lhe interessava, queria imaginá-los em<br />
suas atividades cotidianas, reparar em como eles repetiam sempre<br />
os mesmos atos, em como suas comunicações usavam sempre as<br />
mesmas palavras, porque espelhavam as mesmas idéias.<br />
Imaginou, então, um dia inteiro na vida de um habitante<br />
do vilarejo, como não conhecia em profundidade o cotidiano<br />
de nenhum deles, juntou fragmentos de vários em uma pessoa<br />
fictícia. O caminho agora era absolutamente plano, a terra macia<br />
lhe dava tranqüilidade para reflexão e não havia praticamente<br />
nenhuma vegetação nem som de animais para distraí-lo.<br />
O homem fictício acordou cedo porque precisava trabalhar.<br />
Seu sono não havia sido bom, não se lembrava dos sonhos, mas<br />
sentia que as preocupações cotidianas tinham inventado uma<br />
história noturna para se manifestar. Aliás, essas preocupações<br />
ocuparam todos os instantes de preparação antes que saísse<br />
de casa. Esse homem era casado e encontrou sua mulher na<br />
mesa do café da manhã, trocando com ela algumas palavras<br />
mecânicas. Nesses instantes, ainda cansado pela noite mal<br />
dormida, ela era para ele tão viva quanto o relógio de parede<br />
ou algum outro objeto que se movesse um pouco.<br />
Enquanto caminhava até seu local de trabalho estava<br />
alheio, meio zonzo, os miúdos pensamentos se misturavam<br />
às preocupações e absorviam todas suas energias mentais.<br />
Chegando lá, ele imaginou o trabalho desse homem fictício<br />
como sendo um misto de repartição pública com indústria.<br />
Havia a burocracia da primeira com o barulho e a necessidade<br />
de produção da segunda. Ele sentou-se numa mesinha apertada