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<strong>EMBAIXO</strong> das velhas <strong>ESTRELAS</strong><br />
Pela primeira vez desde sua queda ele conseguiu<br />
movimentar seu braço, abrindo-o e fechando-o várias vezes, a<br />
dor havia diminuído bastante, as reflexões parece que o tinham<br />
fortalecido. Qualquer observador poderia reparar no brilho de<br />
seus olhos, mas talvez um observador mais eficaz conseguisse<br />
reparar que esse brilho expandia-se para além de seus globos<br />
oculares, de uma certa maneira todo seu corpo parecia<br />
envolvido por uma leve membrana luminosa. É verdade que<br />
aquilo poderia ser apenas um reflexo da luz do luar. Mas a lua já<br />
havia brilhado mais e ele nunca tanto.<br />
Se não fosse pela farpa de madeira que permanecia sob sua<br />
pele, ele poderia dizer que havia superado todos os obstáculos,<br />
sem que eles lhe deixassem grandes marcas. Os cortes e<br />
arranhões foram como os pequenos e inevitáveis percalços do<br />
dia-a-dia. Apalpou a farpa que parecia que havia se movido<br />
dentro de seu braço, conseguia senti-la menos, pois ela tinha<br />
entrado mais fundo em sua pele. Primeiro refletiu sobre as<br />
conseqüências práticas desse fato, não chegou a conclusões,<br />
então mergulhou no mundo dos símbolos. Aquela farpa seria<br />
a representação de todos os obstáculos que queria transpor e<br />
agora ela estava fundindo-se com ele.<br />
Ele não era mais o mesmo homem que começou a<br />
caminhada, a farpa se tornara parte dele e simbolicamente,<br />
nunca poderia ser arrancada. Iria se dissolver em suas<br />
entranhas fazendo que suas fibras virassem sangue e dando a<br />
seu sangue algumas características da madeira. A idéia de que<br />
seu sangue poderia virar madeira conduziu-o a uma sensação<br />
muito forte de integração com a natureza. Sentia sua própria<br />
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