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<strong>EMBAIXO</strong> das velhas <strong>ESTRELAS</strong><br />
Continuou deitado observando aqueles instantes raros.<br />
um breve odor das flores caídas chegava até suas narinas, era<br />
um cheiro de flor misturado com cheiro de flor apodrecida. Isso<br />
acabou interrompendo sua estada no mundo do encantamento,<br />
e apressando sua volta ao mundo do raciocínio. Na verdade,<br />
talvez escolhesse um meio-termo entre os dois. Não podia deixar<br />
que aquela beleza fosse simplesmente engolida pelas engrenagens<br />
da lógica, mas também não queria continuar para sempre nesse<br />
rio sem margens, que era o estado contemplativo.<br />
Olhou para as flores vivas que estavam penduradas no<br />
alto da copa, reparou no exato instante em que uma delas<br />
se desprendeu e desceu até o chão. depois a olhou caída,<br />
cercada de muitas outras em todos os estados de deterioração.<br />
Enxergou nas flores vivas toda a eternidade, elas eram a<br />
representação de todas as que já existiram e aquelas que<br />
ainda existirão, eram o símbolo do encadeamento sem fim<br />
de tudo o que foi, é, ou será banhado pela existência. As<br />
flores vivas eram um grito constante, onde estavam incluídos<br />
todos os sentimentos e sensações que já foram, são e serão<br />
experimentados. um rasgo amarelo brilhante no pano escuro<br />
da não-existência, furo que jamais poderá ser consertado, mas<br />
que também nunca cresceria de tamanho.<br />
A flor amarela seria a eterna representação do instante, o<br />
acontecendo, a vida manifestando-se e sendo notada, justamente<br />
porque existem substâncias que não estão vivas e outras que não<br />
existem. Sua vida real e simbólica era ao mesmo tempo a semente<br />
de seu próprio contrário, e por isso mesmo, por essa contradição<br />
grandiosa, é que a flor refletia tão bem as luzes do sol.<br />
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