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<strong>EMBAIXO</strong> das velhas <strong>ESTRELAS</strong><br />
personalidade perdendo as fronteiras que a separavam do<br />
exterior.<br />
Lembrou-se das ruas e mentes esquadrinhadas, e imaginou<br />
que um poderoso solvente verde invadia o mundo e as cabeças,<br />
e derretia tudo que não seguisse o ritmo natural da vida. Os<br />
comportamentos reprimidos e as máscaras sociais seriam<br />
derretidos da mesma maneira que os prédios e os produtos<br />
burros. Mas o que fosse verdadeiro não sofreria com a onda<br />
devastadora, na verdade nem perceberia que ela tinha existido.<br />
Percebeu que estava novamente criando um universo seu, o<br />
mesmo em que habitava seu homem fictício. Perguntou-se por<br />
onde andaria ele, se ele continuaria a existir caso fosse apagado<br />
de sua memória.<br />
Sem resposta, voltou para o raciocínio anterior, queria um<br />
mundo limpo daquilo que imaginava sujo. Essa onda detergente<br />
dissolveria os acúmulos nocivos, espalhando e fazendo circular<br />
todos os tipos de substâncias, que por possuírem concentrações<br />
elevadas, às vezes acabavam entupindo os canos da vida e<br />
impedindo seu fluxo adequado. Eliminados os excessos,<br />
tudo tenderia a um equilíbrio natural. O mundo e a questão<br />
humana estariam resolvidos. Só o que precisaria seria descobrir<br />
a fórmula dessa substância dissolvente. Rapidamente procurou<br />
exemplificar alguns casos que confirmariam sua teoria – os<br />
males vêm dos excessos – a frase encerrou seu raciocínio e, para<br />
ele, comprovou suas suspeitas.<br />
Mas a frase foi também a semente de muitas perguntas:<br />
como poderia descobrir essa substância? Não teria de viver em