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<strong>EMBAIXO</strong> das velhas <strong>ESTRELAS</strong><br />
comportavam-se de maneira repetitiva. O falso torto era<br />
uma maneira sofisticada de construir a velha linha reta. Os<br />
números ímpares surgiam em seu pensamento, vários exemplos<br />
de objetos que não encontram complementos ajudaram-no a<br />
identificar-se como algo que também vive dessa forma. Não<br />
sabia se havia começado a caminhar em razão de ser assim, ou<br />
a caminhada tinha por objetivo deixá-lo sem a necessidade de<br />
precisar de complementos.<br />
Era difícil admitir, mas se não sabia a qual dos dois opostos<br />
pertencia, então provavelmente tudo o que sabia, não valia<br />
muita coisa. Mas um dos pesos abandonados pelo caminho<br />
havia sido o orgulho, então não se abalou com a possibilidade<br />
de que os castelos que construiu durante o percurso ruíssem<br />
como brinquedos de areia. Aceitou com passividade o fato de<br />
que seu aprendizado tinha sido mentiroso, e talvez tivesse de<br />
novamente começar do zero e aprender o que fosse verdadeiro.<br />
Os arbustos de flores vermelhas ganhavam agora a<br />
companhia de flores alaranjadas, que brotavam nos mesmos<br />
galhos. O mundo acabava de ganhar mais uma cor, e a surpresa<br />
trouxe novamente por alguns instantes, o belo. Com cada vez<br />
menos peso nas costas, as dúvidas de uns poucos momentos<br />
atrás tinham se dissolvido. Mas o fato de se carregar pouco<br />
peso, e gradualmente ir se livrando do resto, tem vários tipos de<br />
conseqüências. Por um lado, não se sofre por inutilidades, mas<br />
por outro, a contemplação da beleza torna-se rasa e efêmera.<br />
Perguntou-se então, se o sentido último da beleza, não seria<br />
essa raridade e essa efemeridade, e se um mergulho profundo<br />
no belo, não seria apenas o saciamento de um vício que sempre