Geografia e geopolítica: a contribuição de ... - Biblioteca - IBGE
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<strong>Geografia</strong> e <strong>geopolítica</strong><br />
100 ....................... A <strong>contribuição</strong> <strong>de</strong> Delgado <strong>de</strong> Carvalho e Therezinha <strong>de</strong> Castro<br />
ram por negligenciar ou ignorar, não resgatando as inovações e contribuições, em nível<br />
<strong>de</strong> metodologia e elaboração conceitual, que se produziram.<br />
No aspecto mais específico do ensino <strong>de</strong> <strong>Geografia</strong>, suas idéias e propostas como<br />
o uso <strong>de</strong> recursos audiovisuais, na sala <strong>de</strong> aula, não para entrenter os alunos, mas como<br />
forma <strong>de</strong> diversificar as linguagens na direção <strong>de</strong> que os alunos participem diretamente<br />
na elaboração dos conceitos, atitu<strong>de</strong>s e valores necessários para a formação dos mesmos,<br />
já era algo explicitado por Delgado <strong>de</strong> Carvalho <strong>de</strong>s<strong>de</strong> seu livro Metodologia do<br />
ensino <strong>de</strong> <strong>Geografia</strong>: introdução aos estudos da <strong>Geografia</strong> mo<strong>de</strong>rna, <strong>de</strong> 1925.<br />
É claro que na época não havia computadores, disc laser, imagens <strong>de</strong> satélites,<br />
etc., mas a matriz metodológica era basicamente a mesma quando se propunha utilizar<br />
<strong>de</strong> fotos, músicas, <strong>de</strong>senhos, bem como os processos e etapas <strong>de</strong> manuseio e elaboração<br />
<strong>de</strong>stes recursos visando a uma aprendizagem participativa do aluno.<br />
A própria preocupação com alguns princípios necessários para a produção <strong>de</strong><br />
conhecimentos geográficos para melhor <strong>de</strong>senvolver as habilida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> observação, <strong>de</strong>scrição,<br />
síntese, comparação e avaliação das paisagens e regiões analisadas, entre outras<br />
ativida<strong>de</strong>s e estudos, são exemplos <strong>de</strong> contribuições e proposta que foram esquecidas e<br />
menosprezadas pela crítica ao vínculo i<strong>de</strong>ológico, presentes no processo <strong>de</strong> renovação.<br />
Ao se olhar dada paisagem e saber utilizar uma ferramenta fotográfica, tal situação<br />
cobra o domínio <strong>de</strong>ssa linguagem para <strong>de</strong>finir o como e o que fotografar, assim<br />
como exercitar outras formas <strong>de</strong> representação do real por meio <strong>de</strong> <strong>de</strong>senhos, pinturas<br />
e escritas, interpretar as representações cartográficas, elaborar e aplicar questionários e<br />
entrevistas, perceber e <strong>de</strong>stacar as interações e dinâmicas presentes no meio observado,<br />
etc., foram habilida<strong>de</strong>s que os geógrafos foram per<strong>de</strong>ndo ou se atrofiaram perante as<br />
facilida<strong>de</strong>s tecnológicas ou por puro preconceito teórico. Atualmente, frente as novas<br />
diretrizes educacionais e aos Parâmetros Curriculares, ocorre a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> resgatar<br />
essas capacida<strong>de</strong>s procedimental e intelectual por parte <strong>de</strong> um ensino <strong>de</strong> <strong>Geografia</strong><br />
mais voltado para as reais necessida<strong>de</strong>s dos alunos e cidadãos.<br />
Se lermos com mais cuidado essas obras basilares <strong>de</strong> Delgado que propunham metodologias<br />
<strong>de</strong> ensino <strong>de</strong> <strong>Geografia</strong>, assim como <strong>de</strong> aprofundamento <strong>de</strong> estudos a partir do<br />
domínio <strong>de</strong>ssas habilida<strong>de</strong>s específicas da linguagem geográfica, po<strong>de</strong>remos avançar muito<br />
no melhor entendimento das análises necessárias atualmente para melhor compreensão<br />
dos aspectos referentes à lógica dos processos espaciais. Não que se <strong>de</strong>va simplesmente pegar<br />
das i<strong>de</strong>ias e palavras <strong>de</strong> Delgado e aplicar, não é isso, mas se <strong>de</strong>ve partir <strong>de</strong>las e atualizálas<br />
em conformida<strong>de</strong> com as atuais condições colocadas, assim, no mínimo, não ficaremos<br />
tentando reinventar a roda, mas partiremos <strong>de</strong> quem a propôs para aprimorá-la.<br />
Outro aspecto <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> atualida<strong>de</strong> do pensamento <strong>de</strong> Delgado, notadamente ao<br />
estudo e práticas científicas da <strong>Geografia</strong>, se atém ao fato <strong>de</strong> <strong>de</strong>le não ficar preso a um<br />
referencial teórico e tentar reproduzi-lo nas práticas <strong>de</strong> pesquisa apenas para comprovar<br />
a pertinência do parâmetro empregado. Na sua época, ao se empregar um referencial<br />
<strong>de</strong> estudo da <strong>Geografia</strong> alemã significava uma certa forma <strong>de</strong> se ler o objeto visando<br />
a <strong>de</strong>terminados objetivos, o que inviabilizava o emprego <strong>de</strong> elementos presentes numa<br />
abordagem oriunda da <strong>Geografia</strong> francesa, por exemplo. Delgado não está necessariamente<br />
preocupado com isso, pois para ele é a realida<strong>de</strong> percebida que <strong>de</strong>ve cobrar quais<br />
metodologias ou referenciais teóricos empregar.<br />
Ao focar a questão das necessida<strong>de</strong>s empiricamente observáveis da realida<strong>de</strong><br />
brasileira, ele emprega os elementos presentes numa e noutra abordagem geográfica,<br />
usando os elementos mais a<strong>de</strong>quados e pertinentes <strong>de</strong> cada uma que efetivamente contribuam<br />
para a melhor compreensão do real estudado.<br />
Atualmente, os estudos geográficos <strong>de</strong>vem e, em muitos casos, tomam esta postura,<br />
qual seja, não é o referencial teórico-metodológico em si que <strong>de</strong>fine como o real<br />
<strong>de</strong>ve ser, mas as condições complexas e diversas do real que apontam para como empregar<br />
e quais referenciais são mais pertinentes para serem usados. A questão não é<br />
aplicar as mesmas metodologias e procedimentos <strong>de</strong> Delgado, mas assumir sua postura<br />
<strong>de</strong> como relacionar os referenciais científicos <strong>de</strong> acordo com as reais necessida<strong>de</strong>s presentes<br />
no mundo. Não é o ser humano que <strong>de</strong>ve servir ao conhecimento científico, mas<br />
é o conhecimento que <strong>de</strong>ve auxiliar o ser humano melhor compreen<strong>de</strong>r a si no mundo.