Geografia e geopolítica: a contribuição de ... - Biblioteca - IBGE
Geografia e geopolítica: a contribuição de ... - Biblioteca - IBGE
Geografia e geopolítica: a contribuição de ... - Biblioteca - IBGE
You also want an ePaper? Increase the reach of your titles
YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.
<strong>Geografia</strong> e <strong>geopolítica</strong><br />
122 ....................... A <strong>contribuição</strong> <strong>de</strong> Delgado <strong>de</strong> Carvalho e Therezinha <strong>de</strong> Castro<br />
Fugindo <strong>de</strong> um esquema rígido <strong>de</strong> classificação que procurava separar a <strong>Geografia</strong><br />
política da Geopolítica como campos <strong>de</strong> estudos antagônicos entre si, Delgado <strong>de</strong><br />
Carvalho sentia-se à vonta<strong>de</strong> em compartilhar este estudo com os especialistas que se<br />
<strong>de</strong>dicaram ao tema no Brasil. Isso, mesmo durante o período da segunda guerra mundial,<br />
quando a Geopolítica tornou-se sinônimo <strong>de</strong> expansionismo territorial:<br />
Se a recém-chegada Geopolítica se tornou suspeita a certos geógrafos pelas referências ao<br />
Lebenssinn, Rausinn e ao Lebensraum como uma filosofia geográfica amoldada a interesses<br />
expansionistas, não resta dúvida que tudo <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> do sentido, da interpretação dada, do<br />
uso que é feito[...] (CARVALHO, 1942. p. 296).<br />
Contudo, isso não significava que Delgado <strong>de</strong> Carvalho fosse partidário das teorias<br />
<strong>geopolítica</strong>s alemãs; consi<strong>de</strong>rava apenas que não havia porque forçar uma vinculação,<br />
a seu ver, não necessariamente estreita entre os propósitos expansionistas alemães<br />
e a Geopolítica, como campo <strong>de</strong> estudo da <strong>Geografia</strong>.<br />
Esta postura ele <strong>de</strong>monstrou, ao analisar o quadro internacional no período da<br />
segunda guerra mundial, através <strong>de</strong> comentários elaborados acerca do livro <strong>Geografia</strong><br />
das fronteiras <strong>de</strong> Jacques Angel e do Atlas <strong>de</strong> Geopolítica, originalmente publicado em<br />
Dres<strong>de</strong>n no ano <strong>de</strong> 1934, cujos autores já flertavam com o Partido Nazista ascen<strong>de</strong>nte.<br />
Em artigo publicado no Boletim Geográfico em 1956, intitulado <strong>Geografia</strong> política e<br />
Geopolítica, percebe-se claramente uma mudança na sua postura metodológica em relação<br />
à vinculação entre os dois campos <strong>de</strong> estudo. Essa mudança foi o resultado <strong>de</strong> sua<br />
aproximação com a jovem professora Therezinha <strong>de</strong> Castro, uma entusiasta dos estudos<br />
<strong>de</strong> <strong>Geografia</strong> política e Geopolítica militar. Neste artigo, perceberam que a evolução<br />
do conceito <strong>de</strong> <strong>Geografia</strong> política havia se diversificado na mesma proporção em que se<br />
intensificaram os estudos sobre relações entre os grupos sociais e o espaço que ocupam.<br />
Nesta evolução, a Geopolítica ultrapassou o âmbito da <strong>Geografia</strong> propriamente dita,<br />
confundindo-se, no seu <strong>de</strong>senvolvimento, com a Ciência política:<br />
[...] esta ciência política, a princípio teórica, passou a visar à prática e necessitou para isso <strong>de</strong><br />
aplicação. por isso reivindicou uma base no espaço, isto é, território, áreas regionais, numa<br />
palavra, geografia. assim, a geografia, avançando sobre o terreno da política e a política<br />
avançando sobre o da geografia tivemos a <strong>geopolítica</strong> (CARVALHO; CASTRO, 1956).<br />
Com base nesse raciocínio, os autores procuraram mostrar que a anterior vinculação<br />
da <strong>Geografia</strong> política com a Ciência política, centrada na teoria do Estado, não<br />
avançou metodologicamente, pois houve um <strong>de</strong>scompasso entre a evolução da segunda<br />
em <strong>de</strong>trimento da primeira. O mesmo não ocorreu com a Geopolítica que, segundo<br />
eles, avançou na mesma proporção da Ciência política, <strong>de</strong>svinculando-se ambas do temário<br />
geral da <strong>Geografia</strong> 4 .<br />
A partir <strong>de</strong>stas consi<strong>de</strong>rações, <strong>de</strong>finem a Geopolítica como uma ciência do Estado<br />
para o estado e pelo Estado abrangendo, por conseguinte, um estudo profundo <strong>de</strong><br />
tudo que se “enquadre numa área cercada <strong>de</strong> fronteiras por todos os lados”.<br />
A valorização dos estudos da Geopolítica do Brasil, por Delgado <strong>de</strong> Carvalho e<br />
Therezinha <strong>de</strong> Castro, ocorria num contexto <strong>de</strong> crescente inter<strong>de</strong>pendência conjuntural<br />
e estrutural do sistema internacional, cuja dinâmica tinha ampla repercussão nas <strong>de</strong>cisões<br />
dos rumos internos:<br />
Olhando-se um planisfério avulta-se logo a importância da Geopolítica para o Brasil [...].<br />
A importância estratégica do Brasil com relação ao Atlântico Sul é inegável e a história da<br />
4 O processo <strong>de</strong> <strong>de</strong>spolitização da disciplina geográfica segundo Sanguin (1977) e Costa (1992), ocorreu na verda<strong>de</strong>, como<br />
resultado dos efeitos da Geopolitik alemã sobre as reflexões geográfica, em particular nas escolas europeias <strong>de</strong> <strong>Geografia</strong>.<br />
Afetada diretamente pela guerra, a geografia política nestes países sofreu um recuo consi<strong>de</strong>rável, já que o tema político em<br />
geografia foi confundido com os i<strong>de</strong>ais expansionistas alemães. Preocupados com a reconstrução das economias nacionais,<br />
os geógrafos europeus direcionaram seus estudos para análises sobre economia espacial através <strong>de</strong> técnicas <strong>de</strong> planejamento<br />
regional. A Geopolítica, por sua vez, passa gradativamente para as esferas militares e para as relações exteriores<br />
dos Estados Nacionais, em face da bipolarida<strong>de</strong> que se criou no imediato pós-guerra.