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Geografia e geopolítica: a contribuição de ... - Biblioteca - IBGE

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<strong>Geografia</strong> e <strong>geopolítica</strong><br />

132 ....................... A <strong>contribuição</strong> <strong>de</strong> Delgado <strong>de</strong> Carvalho e Therezinha <strong>de</strong> Castro<br />

cluindo o petróleo do Oriente Médio, passarem através <strong>de</strong>sta área até a América do<br />

Norte e Europa, e também <strong>de</strong> uma crescente presença naval soviética na região que<br />

ameaçaria a segurança <strong>de</strong>sta rota.<br />

Ao contrário dos outros pensadores geopolíticos, as relações brasileiras com os<br />

Estados Unidos não são visualizadas como fundamentais, pois o comportamento do<br />

governo norte-americano a partir da década <strong>de</strong> 1970, <strong>de</strong>bilitou os laços diplomáticos<br />

entre os dois países. Neste aspecto, Castro (1997, p. 26) se refere à <strong>de</strong>sconfiança do<br />

Presi<strong>de</strong>nte Carter com relação ao programa nuclear brasileiro e ao respaldo que a administração<br />

Reagan outorgou à Grã-Bretanha em <strong>de</strong>trimento da Argentina, na guerra<br />

das malvinas. Segundo ela, estas e outras disputas com os Estados Unidos levaram o<br />

governo brasileiro a adotar uma política externa <strong>de</strong> “pragmatismo construtivo” que o<br />

afastou <strong>de</strong> uma inclinação estratégica pró-norte-americana e aproximou-o <strong>de</strong> seus vizinhos<br />

sul-americanos.<br />

A professora Therezinha <strong>de</strong> Castro <strong>de</strong>stacou-se como a principal expoente dos<br />

estudiosos da <strong>geopolítica</strong> brasileira no Atlântico Sul, oceano que articulava as três massas<br />

terrestres nas quais o Brasil tinha interesse: Antártida, África e América do Sul. A<br />

partir dos estudos do Atlântico Sul, as suas reflexões alcançaram o Índico, consi<strong>de</strong>rado<br />

por ela o oceano central da geoestratégia global. Devido à sua forma em W, recortado<br />

pela península indiana, se assemelhava mais a um lago o que possibilitava maior intercâmbio<br />

interno. Diferente do Atlântico que, em sua forma <strong>de</strong> S, favorecia a constituição<br />

<strong>de</strong> rotas oceânicas Norte-Sul.<br />

Também a partir do Atlântico Sul, Therezinha <strong>de</strong> Castro <strong>de</strong>fine um novo conceito<br />

geopolítico <strong>de</strong>nominado por ela <strong>de</strong> “Oceanopolítica” que seria a política aplicada<br />

aos espaços marítimos na perspectiva do “po<strong>de</strong>r mundial”. Inserida <strong>de</strong>ntro da<br />

teoria realista das relações internacionais, a consciência da existência <strong>de</strong> uma “Oceanopolítica”<br />

permitiria aventar a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> se <strong>de</strong>senca<strong>de</strong>ar a formação <strong>de</strong><br />

bacias oceânicas em todos os oceanos do mundo, tendo como “áreas-pivot”: Brasil<br />

(no Atlântico Sul), Índia (Índico), Estados Unidos (Atlântico Norte e Pacífico Norte),<br />

China (Pacífico Norte), Rússia (Ártico). Curiosamente, ao expor essa nova regionalização<br />

do espaço mundial po<strong>de</strong>mos perceber que (Brasil, Rússia, Índia, China<br />

- BRICS) + os Estados Unidos se formaram mais a partir do mar do que pelos continentes<br />

(PENHA, 2009, p. 198). Nesse caso, mais uma vez a professora Therezinha<br />

<strong>de</strong> Castro, graças às suas reflexões <strong>geopolítica</strong>s, antecipou-se aos fatos e <strong>de</strong>ixou uma<br />

gran<strong>de</strong> <strong>contribuição</strong> sobre os estudos da oceanopolítica, embora ainda não muito<br />

bem explorada, através <strong>de</strong> sua obra bibliográfica.<br />

Consi<strong>de</strong>rações finais<br />

As concepções geográficas <strong>de</strong> Delgado <strong>de</strong> Carvalho contribuíram <strong>de</strong> forma significativa<br />

para o <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> inúmeras ativida<strong>de</strong>s do <strong>IBGE</strong>. Sintonizado com<br />

o movimento <strong>de</strong> renovação geográfica verificada na Europa e Estados Unidos, nas primeiras<br />

décadas do Século XX, procurou difundir no País os novos métodos, conceitos<br />

e teorias <strong>de</strong> análises geográficas com o propósito <strong>de</strong> melhor acompanhar as transformações<br />

socioespaciais do Brasil a partir do processo <strong>de</strong> industrialização no período<br />

pós-1930.<br />

Em sua trajetória profissional, Delgado <strong>de</strong> Carvalho empenhou-se em <strong>de</strong>senvolver<br />

estudos, propostas e reflexões sobre o espaço geográfico brasileiro com vistas à ação<br />

estatal. A sua formação em Ciências Sociais, complementada pelos estudos geográficos,<br />

resultou em férteis reflexões sobre Geopolítica e Relações Internacionais, tornando-se<br />

um dos principais estudiosos <strong>de</strong>stes temas no Brasil, juntamente com a Professora Therezinha<br />

<strong>de</strong> Castro que foi a principal her<strong>de</strong>ira <strong>de</strong> sua vasta tradição intelectual.

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