Geografia e geopolítica: a contribuição de ... - Biblioteca - IBGE
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<strong>Geografia</strong> e <strong>geopolítica</strong><br />
128 ....................... A <strong>contribuição</strong> <strong>de</strong> Delgado <strong>de</strong> Carvalho e Therezinha <strong>de</strong> Castro<br />
Segundo os geopolíticos argentinos, o Brasil não a<strong>de</strong>riu ao Tratado na década <strong>de</strong><br />
1960, pois tinha interesse em fazer valer sua soberania sobre parte da Antártida. Sendo<br />
assim, as instruções assinadas pelos países signatários não teriam efeitos sobre as pretensões<br />
brasileiras, que teriam, portanto, plena liberda<strong>de</strong> <strong>de</strong> ação (RODRIGUEZ, 1978,<br />
p. 205). Na perspectiva argentina, o Brasil estaria apto a <strong>de</strong>clarar sua soberania sobre<br />
uma parte da Antártida e só então, a<strong>de</strong>rir ao Tratado, o que seria confirmado nas palavras<br />
do <strong>de</strong>putado Eurípi<strong>de</strong>s <strong>de</strong> Menezes: “Instalaremos um posto meteorológico e outro<br />
científico que servirão <strong>de</strong> base para as reivindicações posteriores”. Contudo, como<br />
o próprio Rodriguez (1978, p. 210) reconhece a posição do <strong>de</strong>putado sobre este tema é<br />
estritamente pessoal, pois o seu partido, a extinta Aliança Renovadora Nacional - ARE-<br />
NA, e o próprio governo brasileiro evitam apoiá-lo oficialmente para evitar endurecer<br />
as relações do Brasil com a Argentina.<br />
Os interesses brasileiros na Antártida manifestaram-se oficialmente somente a<br />
partir <strong>de</strong> 1973, quando a Comissão <strong>de</strong> Constituição e Justiça do Senado, aprovaram um<br />
projeto <strong>de</strong> lei que autorizava o Executivo à concessão <strong>de</strong> apoio logístico à projetada expedição<br />
brasileira a Antártida. Em 1975, o Brasil a<strong>de</strong>riu ao Tratado da Antártida e a 28<br />
<strong>de</strong> outubro <strong>de</strong> 1976 foi aprovada, pelo governo brasileiro, as diretrizes gerais para a Política<br />
Nacional para Assuntos Antárticos - POLANTAR, como forma <strong>de</strong> preparar o País<br />
para atuar junto aos fóruns especializados em questões antárticas. Em 1983, o Brasil foi<br />
aceito como membro consultivo do Tratado, ao enviar sua primeira expedição científica<br />
à Antártida em janeiro <strong>de</strong>ste ano a bordo do navio “Barão <strong>de</strong> Teffé”. A inclusão do Brasil<br />
no corpo consultivo do Tratado cre<strong>de</strong>nciou o País a participar dos trabalhos <strong>de</strong> revisão<br />
do Tratado, em 1991.<br />
Com o propósito <strong>de</strong> coor<strong>de</strong>nar as ativida<strong>de</strong>s antárticas, o governo brasileiro<br />
estabeleceu o Programa Antártico - PROANTAR sob coor<strong>de</strong>nação do Ministério da<br />
Marinha cujas atribuições consistiu em: organizar as séries <strong>de</strong> expedições científicas<br />
<strong>de</strong>nominadas “Operação Antártica”, envolvendo a Marinha, órgãos governamentais,<br />
universida<strong>de</strong>s e institutos <strong>de</strong> pesquisas; construção e manutenção da Estação “Comandante<br />
Ferraz”, localizada na Baía do Almirantado, Ilha Rei Jorge e inaugurada em 1984;<br />
ativida<strong>de</strong>s científicas relacionadas a pesquisas meteorológicas, biológicas, geológicas,<br />
geofísicas e oceanográficas (MARINHA..., 1997, p. 34).<br />
As operações antárticas realizadas pelo Brasil ocorreram a partir <strong>de</strong> uma estratégia<br />
<strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento científico, sem criar confrontos com os países membros do Tratado.<br />
Exceto pelas dificulda<strong>de</strong>s iniciais criadas pela Argentina, a presença brasileira na<br />
Antártida fez valer uma tendência pró-internacionalização do continente, sem manifestar<br />
pelo menos explicitamente interesses <strong>de</strong> soberania. Por outro lado, o Brasil procurou<br />
<strong>de</strong>ixar claro que estas <strong>de</strong>cisões brasileiras lhe <strong>de</strong>verão assegurar flexibilida<strong>de</strong> necessária<br />
para mudar suas posições diplomáticas caso seja necessário. Isso porque, por possuir a<br />
mais vasta costa no Atlântico, a Antártida aparece como área estratégica fundamental<br />
para os interesses brasileiros ao longo <strong>de</strong>ste oceano.<br />
Terceiro País Sul-Americano, <strong>de</strong>pois da Argentina e do Chile a se envolver nos<br />
assuntos antárticos, o Brasil, com o critério da <strong>de</strong>frontação, atraiu o Peru, o Uruguai,<br />
o Equador e ainda a Colômbia. Os signatários passaram todos a ter o monopólio do<br />
controle sobre o futuro do continente, facilitando a a<strong>de</strong>são <strong>de</strong> novos membros, <strong>de</strong>s<strong>de</strong><br />
que se comprove interesses especificamente científicos. E importante mencionar,<br />
todavia, que ao longo dos 30 anos em que esteve em vigor, o estatuto da Antártida<br />
sofreu inúmeras críticas, principalmente da parte dos países do chamado “terceiro<br />
mundo”, pois algumas potências industriais se interessaram em realizar prospecções<br />
das riquezas minerais existentes no continente. Inúmeras companhias norte-americanas,<br />
por exemplo, apoiadas pelo seu governo, tentaram obter garantias para uma<br />
exploração futura <strong>de</strong>stes recursos. Sob este ponto <strong>de</strong> vista, o Tratado <strong>de</strong> Washington<br />
abria uma brecha para este tipo <strong>de</strong> ação, pois na ocasião em que foi formulado não<br />
contemplava este aspecto, já que na época uma exploração parecia tecnicamente e<br />
economicamente impossível. Atualmente, graças aos avanços tecnológicos, tais dificulda<strong>de</strong>s<br />
são parcialmente superáveis, o que abre um leque <strong>de</strong> possibilida<strong>de</strong>s para os<br />
países mais ricos esputarem as riquezas existentes na Antártida.