Geografia e geopolítica: a contribuição de ... - Biblioteca - IBGE
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<strong>Geografia</strong> e <strong>geopolítica</strong><br />
42 ........................ A <strong>contribuição</strong> <strong>de</strong> Delgado <strong>de</strong> Carvalho e Therezinha <strong>de</strong> Castro<br />
amazônico são quase entestar no interior recôndito do systema fluvial platino, ten<strong>de</strong>ndo<br />
a fazer do Brasil uma enorme ilha continente (OLIVEIRA LIMA, 1913, s/p).<br />
Esse livro representou uma corrente inovadora <strong>de</strong> pensamento no Brasil. Na década<br />
<strong>de</strong> 1910, os estudos sobre a geografia brasileira eram realizados por diplomatas,<br />
historiadores, advogados, militares e outros que por estes se interessavam. A maioria<br />
era positivista, estudava a socieda<strong>de</strong> da mesma forma que a natureza, buscando objetivida<strong>de</strong><br />
e aplicando as leis gerais do <strong>de</strong>senvolvimento. Segundo Reis (2000), a ciência<br />
vista assim, mais do que um método, visava a obter um conhecimento empírico e histórico.<br />
Apesar da gran<strong>de</strong> influência <strong>de</strong> pensadores franceses como Comte, Taine e Raini,<br />
sob o pensamento <strong>de</strong> intelectuais brasileiros, o método francês <strong>de</strong> La Blache adotado<br />
por Delgado <strong>de</strong> Carvalho, com sua nova perspectiva <strong>de</strong> análise, a partir do estudo das<br />
condições físicas e econômicas para buscar a influência do meio sobre o homem, não foi<br />
aceita pela maioria <strong>de</strong>sses intelectuais. Os a<strong>de</strong>ptos a essa nova escola geográfica francesa<br />
passaram a ser conhecidos como neogeographos.<br />
Delgado <strong>de</strong> Carvalho relata que não escreveu para os geógrafos, e sim, para os<br />
estudantes. Famosos os seus estudos sobre a geografia brasileira, que era inda estudada por<br />
estado. Em nenhum país se estudava geografia <strong>de</strong>sse jeito. Então, contava ele, achei que <strong>de</strong>via<br />
fazer alguma coisa. Escrevi em 1913 a Geographia do Brasil (Jornal do Brasil, 1980). No Quinto<br />
Congresso, realizado no Bahia, a obra foi tema <strong>de</strong> um artigo sobre as contribuições do<br />
neogeographos para o ensino da disciplina.<br />
Delgado <strong>de</strong> Carvalho tem indiscutivelmente a glória <strong>de</strong> não haver copiado Wappeus e<br />
estabelecido um critério novo no ensino da geographia no Brasil, sendo <strong>de</strong> lastimar que<br />
muitas edições <strong>de</strong> seu trabalho não houvessem tomado o lugar <strong>de</strong> tantas e tão inúteis<br />
chorographias recomendadas da velha e cahida escola dos professores rotineiros (SOU-<br />
ZA CARNEIRO, 1916, p. 210).<br />
Na década <strong>de</strong> 1920, o geógrafo passa a <strong>de</strong>dicar mais tempo à causa educacional.<br />
Como outros a<strong>de</strong>ptos ao otimismo pedagógico, estudado por Nagle (1974), Delgado<br />
<strong>de</strong> Carvalho enxergava na educação o caminho <strong>de</strong> conduzir o Brasil para o progresso.<br />
Nessa visão, a falta <strong>de</strong> cultura prática ou formação técnica levavam o país a dificulda<strong>de</strong>s<br />
financeiras. Uma das soluções era a mudança nos ensinos Secundário e Normal, abrangendo<br />
não só a formação das elites, como também a das classes populares. O intelectual,<br />
assim como outros <strong>de</strong> seu tempo, critica a escola secundária pelo seu ensino livresco<br />
e abstrato, que pouco contribuía para o <strong>de</strong>senvolvimento industrial que a burguesia<br />
nacional almejava.<br />
Membro da Liga Pedagógica do Ensino Secundário, escreve a Methodologia do ensino<br />
geographico (1925), o primeiro <strong>de</strong> uma série <strong>de</strong> livros sobre a didática da geografia,<br />
para ser apresentado no Quarto Congresso Brasileiro <strong>de</strong> Instrução Superior. Realizado<br />
no ano seguinte, no Rio <strong>de</strong> Janeiro, este tinha como objetivo coletar sugestões para reforma<br />
do ensino secundário para serem encaminhadas ao Ministro da Justiça e Negócios<br />
Interiores. O prefácio começa pela <strong>de</strong>fesa da Antropogeografia como substituta da<br />
memorização <strong>de</strong> nomes e características <strong>de</strong> aci<strong>de</strong>ntes geográficos que não faziam, para<br />
ele, sentido didático algum .<br />
Nas escolas do Brasil e <strong>de</strong> outros paizes <strong>de</strong> nosso continente, a geographia é o estudo <strong>de</strong><br />
uma das modalida<strong>de</strong>s da imaginação humana, isto é, da sua faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> atribuir nomes,<br />
<strong>de</strong> chrismar áreas geographicas. As montanhas, os rios, as regiões naturais não são estu-<br />
dadas em si, mas apenas como merecedores <strong>de</strong> um esforço <strong>de</strong> uma fantasia. Aqui, quem<br />
não sabe a monenclatura não sabe geographia, e <strong>de</strong>ste modo a poesia e a geographia são<br />
productos directos da imaginação, apesar <strong>de</strong> fazerem parte <strong>de</strong> ca<strong>de</strong>iras differentes (p.4).<br />
Delgado <strong>de</strong> Carvalho faz um apelo aos professores, <strong>de</strong>stacando a resistência em modificar<br />
a prática, ainda que o que estiveram ensinando até hoje poucas relações tem com a verda<strong>de</strong>ira<br />
Geographia (p.5). Ainda alerta para a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> se instituir o caráter científico