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Geografia e geopolítica: a contribuição de ... - Biblioteca - IBGE

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Carlos Delgado <strong>de</strong> Carvalho ............................................................ 29<br />

mesma opinião não teria das “geografias” que caíram em suas mãos; eram autênticos<br />

catálogos, obrigando os alunos a <strong>de</strong>corarem nomes <strong>de</strong> rios, montanhas, cida<strong>de</strong>s, países;<br />

e, o pior ainda, quando se tratava do Brasil, a clássica divisão por estados, jamais como<br />

um todo ou região natural.<br />

A <strong>Geografia</strong> e seu ensino precisavam ser mo<strong>de</strong>rnizados e, para isso, Delgado <strong>de</strong><br />

Carvalho aventurou-se a apren<strong>de</strong>r o português. Comprou uma Gramática - eram tantas<br />

regras coroadas <strong>de</strong> tantas exceções, que me confi<strong>de</strong>nciou: “resolvi escrever o português<br />

por exceção”.<br />

Seu primeiro livro em português, publicado em 1913, Geographia do Brasil é <strong>de</strong>dicado<br />

ao Imperador <strong>de</strong>posto que conheceu em Paris aos cinco anos; este trabalho, por<br />

ser inovador, lhe valeria o título <strong>de</strong> “Pai da <strong>Geografia</strong> Mo<strong>de</strong>rna” no Brasil. Era ainda o<br />

C.M. Delgado <strong>de</strong> Carvalho que se transforma distraidamente em C.D. <strong>de</strong> C. na seguinte<br />

<strong>de</strong>dicatória: “À memória <strong>de</strong> Dom Pedro <strong>de</strong> Alcântara é <strong>de</strong>dicado este estudo sobre a<br />

Terra que tanto amou e on<strong>de</strong> <strong>de</strong>ixou os maiores exemplos <strong>de</strong> honestida<strong>de</strong>, retidão e<br />

patriotismo” (CARVALHO, 1913).<br />

É também este o primeiro e único livro com prefaciador; o escolhido foi Oliveira<br />

Lima, que o datou <strong>de</strong> setembro <strong>de</strong> 1913. Principia afirmando:<br />

[...] o caso do Sr. Delgado <strong>de</strong> Carvalho é parecido com o meu. Educados ambos fora da<br />

terra que nos fora berço, ainda que em atmosferas morais brasileiras, assim constituídas<br />

pelos círculos <strong>de</strong> família e amigos, tanto mais sedutora nos parecia a pátria distante. A<br />

mim, encantou-me cedo a sua História, que sorvi haustos românticos nas páginas elo-<br />

qüentes <strong>de</strong> Southey. Ao Sr. Delgado <strong>de</strong> Carvalho atraiu-o a <strong>Geografia</strong>, a terra <strong>de</strong> preferên-<br />

cia à gente, e que veio para o Brasil pôs-se a palmilhá-la e sobre ele escreveu dois livros <strong>de</strong><br />

impressões, do Sul e <strong>de</strong> Minas e agora esse tratado corográfico (CARVALHO, 1913).<br />

Observamos, que discreto, Delgado <strong>de</strong> Carvalho não explicara a Oliveira Lima o<br />

porquê da <strong>Geografia</strong>. Não o disse, mas o historiador parece haver captado, pois afirma<br />

em outro trecho:<br />

A educação estrangeira pôs nos estudos do autor mais método do que lhe teria podido<br />

incutir a educação nacional - no Brasil há que ser muito autodidata -, e o seu traba-<br />

lho <strong>de</strong>nuncia felizmente processos <strong>de</strong> ensino franceses, feitos <strong>de</strong> clareza e precisão.<br />

Já a base do tratado, ou manual se não lhe quisermos dar aquele primeiro nome, por<br />

pomposo e, porventura <strong>de</strong>scabido, representa uma inovação feliz. O Sr. Delgado <strong>de</strong><br />

Carvalho, partindo do princípio racional <strong>de</strong> que as divisões da <strong>Geografia</strong> só <strong>de</strong>vem<br />

ser procuradas na própria <strong>Geografia</strong>, con<strong>de</strong>na, neste sentido, a divisão administrativa<br />

por Estados, divisão toda fisicamente convencional e baseia sua <strong>de</strong>scrição nas regiões<br />

naturais do Brasil (CARVALHO, 1913).<br />

É, pois, Delgado <strong>de</strong> Carvalho o i<strong>de</strong>alizador da divisão do Brasil em cinco regiões<br />

naturais, bem como <strong>de</strong> nossa primeira classificação metódica <strong>de</strong> clima, publicada em<br />

volumoso livro Météorologie du Brésil. A serieda<strong>de</strong> <strong>de</strong>sta obra, editada em 1916, valeu-lhe<br />

o direito <strong>de</strong> se tornar Conselheiro da Royal Meteorological Society of London em 1917, e<br />

<strong>de</strong> receber em 1920 a medalha Jansen. Seu prestígio internacional já fora reconhecido no<br />

Brasil, pois, em 18 <strong>de</strong> março <strong>de</strong> 1916, o Instituto Histórico e Geógrafo Brasileiro o elegia<br />

para exercer o cargo <strong>de</strong> Professor Extraordinário da Escola <strong>de</strong> Altos Estudos. Ainda em<br />

Londres era, em 1918, nomeado Delegado do Brasil na Conferência da Internacional<br />

Scientific Organization.<br />

O porquê <strong>de</strong>ssa sua estadia em Londres durante a Primeira Guerra Mundial será<br />

explicado. Em princípio <strong>de</strong> 1914, morreu-lhe o pai; foi com toda a família, já formada<br />

pela esposa e um casal <strong>de</strong> filhos, ren<strong>de</strong>r-lhe as últimas homenagens diante do túmulo.<br />

Logo em seguida estourava o conflito... o retorno, na época só realizado em navio seria<br />

perigoso; ficou por isso em Londres, on<strong>de</strong> se manteve como correspon<strong>de</strong>nte <strong>de</strong> guerra,<br />

e seu livro sobre meteorologia havia sido publicado na Europa, produto <strong>de</strong> pesquisas<br />

realizadas no Museu Britânico para on<strong>de</strong> se dirigia diariamente.

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