Geografia e geopolítica: a contribuição de ... - Biblioteca - IBGE
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Carlos Delgado <strong>de</strong> Carvalho ............................................................ 31<br />
o professorado encarregado <strong>de</strong> ministrar os ensinamentos do referido ano”. O livro é<br />
<strong>de</strong>stinado não ao aluno, mas às mestras, já que<br />
[...] após numerosas visitas a nossas escolas municipais e <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> longas conversas com<br />
as professoras [...] cheguei à conclusão que, dado o elemento discente que freqüenta nossas<br />
escolas, dados o preparo, a <strong>de</strong>dicação e a boa vonta<strong>de</strong> que caracterizam o atual corpo docente<br />
municipal, é preferível, até o quarto ano primário, escrever livros <strong>de</strong>stinados a auxiliar as pro-<br />
fessoras, do que livros <strong>de</strong>stinados diretamente às crianças (CARVALHO, [1926], Prefácio).<br />
Na realida<strong>de</strong>, essa Corografia vinha bem mais em auxílio à <strong>Geografia</strong> local, tão<br />
ignorada quanto malministrada aos estudantes.<br />
Sua atuação no período Vargas foi intensa e profícua, começando pelo Decreto n°<br />
19.850, <strong>de</strong> 11 <strong>de</strong> abril <strong>de</strong> 1931, através do qual era nomeado membro do Conselho Nacional<br />
<strong>de</strong> Educação, como representante do Ensino Secundário Fe<strong>de</strong>ral. Resultando daí seus<br />
livros didáticos (para as quatro séries do curso ginasial) <strong>de</strong> <strong>Geografia</strong> e História, que, com<br />
a unificação do ensino e centralizações dos programas no Colégio Pedro II, transformado<br />
em padrão, iriam servir a toda uma geração <strong>de</strong> estudantes em todo o Brasil.<br />
A <strong>Geografia</strong> do curso ginasial <strong>de</strong> então começava no primeiro ano pela parte geral<br />
<strong>de</strong> seu conhecimento nos setores físico, político e humano. Os continentes entravam no<br />
segundo ano, e na nota preliminar que abre o compêndio, Delgado <strong>de</strong> Carvalho justifica<br />
que, vencida a primeira etapa, aos 13 anos mais ou menos, o aluno já estaria preparado<br />
para aplicar as noções precisas que apren<strong>de</strong>ra no ano anterior ao mundo do qual fazia<br />
parte. Importante nessa nota preliminar (CARVALHO, 1923), é sua posição quanto à grafia<br />
dos topônimos: “Quando não existem formas vernáculas já vulgarizadas e conhecidas<br />
<strong>de</strong> todos os interessados, evitamos abrasileirar os nomes estrangeiros por causa do perigo<br />
<strong>de</strong> cair no extremo e <strong>de</strong> apresentar palavras que atlas nenhum utiliza.” Assim po<strong>de</strong>mos<br />
consi<strong>de</strong>rar Londres como palavra <strong>de</strong>finitiva no lugar <strong>de</strong> London, mas é absurdo transformar<br />
no futuro do verbo ir - “Irão”, o país que, na realida<strong>de</strong>, se chama Irã.<br />
Quando no <strong>IBGE</strong> tentou uniformizar os topônimos internacionais, <strong>de</strong>pois que<br />
o órgão havia tomado tal atitu<strong>de</strong> com relação aos nacionais. Elaborou então páginas<br />
com colunas encimadas pelas palavras - alemão, inglês, francês, italiano, espanhol e<br />
português; nesta última, seria escrito o topônimo adotado pela maioria dos vários atlas<br />
consultados. Mas, estava-se no final da gestão <strong>de</strong> Jurandyr Pires Ferreira, na presidência<br />
do <strong>IBGE</strong>, que pretendia apoiar a i<strong>de</strong>ia; a mudança do governo Kubitschek para o <strong>de</strong><br />
Jânio Quadros faria abortar a i<strong>de</strong>ia.<br />
O prognóstico que fizera ainda em 1943 <strong>de</strong> que - “muito em breve serão tomadas<br />
pelas autorida<strong>de</strong>s competentes certas medidas que limitarão possíveis divergências”,<br />
essas continuam. Em publicações do mesmo Ministério da Educação, o Atlas geográfico<br />
e o Atlas histórico da Fundação <strong>de</strong> Auxílio ao Estudante - FAE divergem. No primeiro,<br />
a FAE aceita as grafias, por exemplo <strong>de</strong> Romênia, Camarões e Amsterdan; no segundo,<br />
aparecem a Rumânia, o Camerum e Amsterdam. Urge, pois, por parte do <strong>IBGE</strong>, um<br />
trabalho sério e meticuloso sobre os topônimos internacionais.<br />
Após o governo Jânio Quadros, a colaboração <strong>de</strong> Delgado <strong>de</strong> Carvalho ao <strong>IBGE</strong><br />
através do Atlas <strong>de</strong> relações internacionais passou a ser feita <strong>de</strong> seu apartamento em Copacabana,<br />
como já nos referimos. No interregno saindo da Beira Mar, 436 - 8° andar,<br />
trabalhou Delgado <strong>de</strong> Carvalho na Frank1in Roosevelt, 146, on<strong>de</strong> também estava a Presidência<br />
do <strong>IBGE</strong>. Aí foi feito o Atlas <strong>de</strong> relações internacionais em um volume, com <strong>de</strong>senho<br />
cartográfico <strong>de</strong> Martinho Correia e Castro e retratos a bico <strong>de</strong> pena <strong>de</strong> Ivan Wasth<br />
Rodrigues. O setor já se <strong>de</strong>nominava <strong>de</strong> <strong>Geografia</strong> Internacional. No prefácio, a gran<strong>de</strong><br />
realida<strong>de</strong> - saía a <strong>geopolítica</strong> do setor estritamente militar para o civil, e caberia ao <strong>IBGE</strong><br />
esse gran<strong>de</strong> feito; daí as palavras <strong>de</strong> seu Presi<strong>de</strong>nte em exercício:<br />
O Atlas que ora se apresenta tem um valor muito expressivo para o Instituto Brasileiro <strong>de</strong><br />
<strong>Geografia</strong> e Estatística e, porque não dizer, para o Brasil. É ele a primeira gran<strong>de</strong> publica-<br />
ção <strong>de</strong> <strong>geopolítica</strong> realizada no Setor <strong>de</strong> <strong>Geografia</strong> Internacional, recentemente criado no<br />
Conselho Nacional <strong>de</strong> <strong>Geografia</strong> (ATLAS..., 1960, Prefácio).