Geografia e geopolítica: a contribuição de ... - Biblioteca - IBGE
Geografia e geopolítica: a contribuição de ... - Biblioteca - IBGE
Geografia e geopolítica: a contribuição de ... - Biblioteca - IBGE
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
<strong>Geografia</strong> e <strong>geopolítica</strong><br />
86 ........................ A <strong>contribuição</strong> <strong>de</strong> Delgado <strong>de</strong> Carvalho e Therezinha <strong>de</strong> Castro<br />
Outro elemento que po<strong>de</strong> ser levantado para formar o corpo externo <strong>de</strong> explicações<br />
que permitem compreen<strong>de</strong>r o porquê do gradual esquecimento sofrido pelo pensamento<br />
e obra <strong>de</strong> Delgado <strong>de</strong> Carvalho, refere-se ao fator bem marcante para a prática<br />
específica da produção do conhecimento geográfico. A necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> enten<strong>de</strong>r o sentido<br />
e função <strong>de</strong>sse conhecimento a partir <strong>de</strong> sua <strong>contribuição</strong> às práticas <strong>de</strong> construção<br />
e i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> territorial, assim como para a divulgação e fortalecimento <strong>de</strong>sse processo<br />
i<strong>de</strong>ntitário por meio da educação escolar, fez com que os estudos geográficos priorizassem<br />
os elementos mais práticos e empíricos do estudo e aprendizagem, eclipsando os<br />
aspectos mais epistemológicos da organização <strong>de</strong>sse conhecimento.<br />
Com as mudanças ocorridas nos meios técnico e tecnológico <strong>de</strong> comunicação e<br />
informação, assim com os mecanismos adotados para mo<strong>de</strong>rnização do aparelho administrativo<br />
do Estado, muito da função tradicional da <strong>Geografia</strong> cobrada até a primeira<br />
meta<strong>de</strong> do Século XX, da qual Delgado foi um importante colaborador, ten<strong>de</strong>u a ser suplantada<br />
por outros meios e mecanismos mais eficientes, como a televisão, a introdução<br />
<strong>de</strong> novas disciplinas escolares, o uso <strong>de</strong> novos recursos e equipamentos técnicos mais<br />
sofisticados, melhor dominados por certas engenharias, etc.<br />
Diante da crise instaurada, os articuladores do pensamento geográfico, em sua<br />
gran<strong>de</strong> maioria, optaram em mo<strong>de</strong>rnizar e atualizar suas bases metodológicas, tentando<br />
incorporar o estudo e manuseio <strong>de</strong>sses novos recursos e ferramentas tecnológicas<br />
(imagem por satélite, por radar, informacional, etc.), voltando a aplicabilida<strong>de</strong> do conhecimento<br />
geográfico mais para a área <strong>de</strong> planejamento, tanto econômico como administrativo,<br />
objetivando assim perpetuar em sua utilida<strong>de</strong> para com o Estado. Esse<br />
esforço mo<strong>de</strong>rnizante significou restringir o olhar para o momento e buscar soluções<br />
práticas imediatas, portanto olhar para o passado e analisar o processo histórico <strong>de</strong><br />
construção <strong>de</strong> seu saber foi entendido como perda <strong>de</strong> tempo, pois comprometia a urgência<br />
temporal <strong>de</strong> soluções úteis e atuais em si.<br />
Esse abandono do passado, pelo fato <strong>de</strong> muitos enten<strong>de</strong>rem a <strong>Geografia</strong> como<br />
uma ciência do empírico em si, contribuiu para que as bases teórica e epistemológica<br />
fossem <strong>de</strong>scartadas como <strong>de</strong>snecessárias para se compreen<strong>de</strong>r o que se <strong>de</strong>via atualizar.<br />
Nisto, muito do pensamento <strong>de</strong>lgadiano foi esquecido por ser entendido como não importante<br />
para a pertinente mo<strong>de</strong>rnização da <strong>Geografia</strong> institucionalizada.<br />
Pegando agora o outro corpo <strong>de</strong> elementos que auxilia a pensar sobre os motivos<br />
que levaram ao esquecimento a <strong>contribuição</strong> <strong>de</strong> Delgado, temos <strong>de</strong> olhar o específico<br />
<strong>de</strong>ste pensamento e obra. Por um lado, Delgado produziu seus primeiros textos sobre<br />
<strong>Geografia</strong> duas décadas antes da efetiva institucionalização <strong>de</strong>sse saber, que se <strong>de</strong>u<br />
prioritariamente após a criação do Instituto Brasileiro <strong>de</strong> <strong>Geografia</strong> e Estatística - <strong>IBGE</strong>,<br />
da Associação dos Geógrafos Brasileiros - AGB e dos cursos superiores <strong>de</strong> <strong>Geografia</strong> em<br />
São Paulo e no Rio <strong>de</strong> Janeiro, na segunda meta<strong>de</strong> dos anos <strong>de</strong> 1930.<br />
Como parte <strong>de</strong> sua produção sobre a <strong>Geografia</strong> vai se dar anterior ou à margem<br />
das instâncias institucionalizadas da <strong>Geografia</strong> oficial, muitos dos geógrafos acabam<br />
ingenuamente não tendo a Delgado como um nome da mesma envergadura <strong>de</strong> um<br />
Pierre Deffontaines, <strong>de</strong> um Aroldo <strong>de</strong> Azevedo e <strong>de</strong> outros que, mesmo inferiores em<br />
capacida<strong>de</strong> e importância, construíram suas carreiras extremamente vinculadas com a<br />
institucionalização <strong>de</strong>sse conhecimento.<br />
A título <strong>de</strong> exemplo <strong>de</strong>ssa certa marginalização <strong>de</strong> seu pensamento em relação<br />
à institucionalização da <strong>Geografia</strong>, po<strong>de</strong>mos <strong>de</strong>stacar que, fruto <strong>de</strong> toda sua luta nas<br />
duas primeiras décadas do Século XX por uma <strong>Geografia</strong> científica e mo<strong>de</strong>rna, foi nomeado,<br />
em 1935, como catedrático <strong>de</strong> <strong>Geografia</strong> humana na recém-criada Universida<strong>de</strong><br />
do Distrito Fe<strong>de</strong>ral, posteriormente Universida<strong>de</strong> do Brasil e atualmente Universida<strong>de</strong><br />
Fe<strong>de</strong>ral do Rio <strong>de</strong> Janeiro. Contudo, logo após, em 1936, transfere-se para a cátedra <strong>de</strong><br />
História mo<strong>de</strong>rna e contemporânea, assumindo no seu lugar justamente o professor<br />
Pierre Deffontaines. Esse fato, entre outros, contribui para que a posterida<strong>de</strong> vinculasse<br />
mais a Deffontaines como um dos fundadores da <strong>Geografia</strong> brasileira e Delgado, que <strong>de</strong><br />
muito antes já batalhava por esta, acabou menos valorizado.<br />
Complementar a isso, ou como causa, tem-se a característica singular da obra<br />
<strong>de</strong> Delgado que reflete sua diversida<strong>de</strong> <strong>de</strong> áreas e reflexões. A maioria dos geógrafos