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Geografia e geopolítica: a contribuição de ... - Biblioteca - IBGE

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Delgado <strong>de</strong> Carvalho e a <strong>Geografia</strong> no Brasil: pioneirismo e contribuições ............... 91<br />

O exemplo havia sido dado pela Prússia. Na sua evolução o Estado Mo<strong>de</strong>rno sentia a<br />

necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> intervir na vida social cada vez mais complexa da nação. Era reconhecido<br />

por todos o direito do Estado <strong>de</strong> cuidar das gerações e educar, exigindo <strong>de</strong> seus futuros<br />

cidadãos um mínimo <strong>de</strong> conhecimento (CARVALHO, 1970, p. 199-200).<br />

Os aspectos semelhantes entre o atraso econômico, a <strong>de</strong>sorganização político-administrativa,<br />

o isolamento das várias porções do território, a ausência <strong>de</strong> um “espírito<br />

nacional” capaz <strong>de</strong> motivar os indivíduos à luta e <strong>de</strong>fesa <strong>de</strong> um i<strong>de</strong>al <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento<br />

e crescimento do País/Estado: estes eram fatores que Delgado i<strong>de</strong>ntificava como<br />

comuns entre a Alemanha do início do Século XIX e o Brasil do início do Século XX.<br />

O Estado alemão buscou estabelecer as condições propícias ao <strong>de</strong>senvolvimento<br />

capitalista em seu território, através da consolidação da i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> nacional. O papel <strong>de</strong><br />

instituições como o Exército, a Universida<strong>de</strong>, a Escola, a Ciência, entre outras, foi o <strong>de</strong><br />

servir diretamente as diretrizes colocadas pelo Estado. Esta via prussiana era consi<strong>de</strong>rada<br />

por Delgado como o caminho mais lógico para solucionar os problemas vivenciados<br />

pelo Brasil.<br />

Na intersecção <strong>de</strong> sua formação, das i<strong>de</strong>ias então <strong>de</strong>batidas na Europa à época<br />

<strong>de</strong> sua formação acadêmica e profissional, da sua postura e análise teórico-política do<br />

caso brasileiro, aliado aos próprios condicionantes econômico e social que embasavam<br />

os referenciais político-administrativos dos governantes brasileiros, é que se torna mais<br />

claro enten<strong>de</strong>r o projeto <strong>de</strong> <strong>Geografia</strong> que Delgado articulou para o Brasil.<br />

Interessante é que Delgado tinha consciência das “forças conservadoras” que estavam<br />

estabelecidas, baseadas em concepções atrasadas e preconceituosas <strong>de</strong> “indolência<br />

do brasileiro” e “raça inferior”; <strong>de</strong> oligarquias profundamente familiares e regionalistas,<br />

que não permitiam uma administração mo<strong>de</strong>rna e eficiente <strong>de</strong> todo o território brasileiro;<br />

além do atraso tecnológico dos processos <strong>de</strong> comunicação e circulação <strong>de</strong> riquezas. Estes<br />

fatores levaram Delgado a <strong>de</strong>senvolver projetos visando a divulgar e consolidar as novas<br />

idéias que, ele acreditava, po<strong>de</strong>riam resolver vários problemas brasileiros.<br />

No caso da <strong>Geografia</strong>, sua proposta <strong>de</strong> divulgar novas idéias seguia a experiência<br />

francesa do final do Século XIX. A princípio i<strong>de</strong>ntificava as dificulda<strong>de</strong>s a enfrentar.<br />

1o-A falta <strong>de</strong> vulgarização dos mo<strong>de</strong>los e tipos do novo curso geográfico [...]. 2o-A difi-<br />

culda<strong>de</strong> <strong>de</strong> alcançar e reunir os professores <strong>de</strong> geografia. 3o-Caso seja possível alcançá-<br />

los, a dificulda<strong>de</strong> <strong>de</strong> convencê-los <strong>de</strong> que o que estiveram ensinando até hoje poucas<br />

relações tem com a verda<strong>de</strong>ira geografia [...]<br />

A partir <strong>de</strong>sta constatação, estabelece as formas para “implementação da nova geografia<br />

entre nós”:<br />

O esforço só será profícuo se for sistematizado [...]. Formar grêmios e associações geo-<br />

gráficas as quais possam se filiar os <strong>de</strong>sejosos <strong>de</strong> se esclarecer sobre o assunto [...], comu-<br />

nicar-lhes por uma publicação periódica, a metodização nova, mantê-los ao corrente dos<br />

progressos da ciência geográfica [...]. O movimento <strong>de</strong>veria ser iniciado pela reunião <strong>de</strong><br />

um Congresso <strong>de</strong> professores <strong>de</strong> geografia, sob os auspícios da Liga e da Socieda<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

<strong>Geografia</strong> (CARVALHO, 1925, p. 9-10).<br />

Não se restringindo a projetos e idéias, Delgado partiu para ação em vários locais<br />

e situações (escolas em que trabalhou, cargos que ocupou, trabalhos que publicou, entre<br />

conversas formal e informal); reforçava e <strong>de</strong>fendia suas propostas, estabelecendo contatos<br />

e angariando a<strong>de</strong>ptos no intuito <strong>de</strong> consolidar seu projeto <strong>de</strong> renovação da <strong>Geografia</strong><br />

brasileira; logicamente, encontrou sérias resistências, que o próprio tempo tratou <strong>de</strong><br />

eliminar, como comprovam estas palavras retiradas do texto do Boletim Geográfico em<br />

homenagem a Delgado.<br />

O combate que, ao início teve que sustentar contra a rotineira prática então vigente - que<br />

consistia no ensino da geografia puramente <strong>de</strong>scritivo ou <strong>de</strong> mera nomenclatura [...].

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