Geografia e geopolítica: a contribuição de ... - Biblioteca - IBGE
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<strong>Geografia</strong> e <strong>geopolítica</strong><br />
84 ........................ A <strong>contribuição</strong> <strong>de</strong> Delgado <strong>de</strong> Carvalho e Therezinha <strong>de</strong> Castro<br />
sa e ampla abordou: <strong>Geografia</strong>, História, Pedagogia, Sociologia, Relações Internacionais,<br />
Direito, Cartografia, Gramática, etc., assim como o caracterizam como um gran<strong>de</strong> pensador<br />
e humanista, superior à maioria dos intelectuais do seu meio social e acadêmico.<br />
É partindo, portanto, da importância <strong>de</strong>sse pensador singular, brilhante e atualmente<br />
pouco lembrado que esse texto visa a abordar, principalmente quanto à <strong>contribuição</strong><br />
<strong>de</strong> suas idéias e propostas para a edificação da <strong>Geografia</strong> brasileira, tanto nos aspectos<br />
relacionados com a pesquisa quanto os voltados para o ensino <strong>de</strong>ssa disciplina.<br />
Logicamente que os limites <strong>de</strong> um artigo como este inviabiliza dar conta da maioria<br />
dos elementos que se relacionam com a produção intelectual <strong>de</strong> pensador tão profundo<br />
e diverso como Delgado <strong>de</strong> Carvalho, mesmo que façamos um corte e foquemos só a <strong>Geografia</strong><br />
por ele trabalhada. Nossa intenção é mais humil<strong>de</strong>, reduz-se a apresentar, <strong>de</strong> forma<br />
bem introdutória, alguns aspectos que possam contribuir para um entendimento da<br />
importância e das características centrais <strong>de</strong> sua visão <strong>de</strong> ciência geográfica, assim como<br />
sua relação com o Estado e o papel <strong>de</strong> intelectual como um agente ativo na socieda<strong>de</strong>, <strong>de</strong><br />
maneira a pontuar o caráter humano e atual <strong>de</strong> algumas <strong>de</strong> suas i<strong>de</strong>ias e posturas.<br />
Para a confecção <strong>de</strong>sse texto, baseamo-nos em algumas obras <strong>de</strong> Delgado <strong>de</strong> Carvalho<br />
que consi<strong>de</strong>ramos fundamentais para melhor compreen<strong>de</strong>r sua visão <strong>de</strong> Ciência<br />
e <strong>de</strong> <strong>Geografia</strong>. Também utilizamos <strong>de</strong> nossa dissertação <strong>de</strong> mestrado, <strong>de</strong>fendida faz<br />
tempo na Universida<strong>de</strong> <strong>de</strong> São Paulo - USP, intitulada O discurso geográfico: a obra <strong>de</strong> Delgado<br />
<strong>de</strong> Carvalho no contexto da <strong>Geografia</strong> brasileira - 1913 a 1942, juntamente com pesquisas<br />
mais informais <strong>de</strong>senvolvidas posteriormente, mas nunca sistematizadas, voltadas<br />
para uma atualização dos dados sobre Delgado que a referida dissertação <strong>de</strong>limitou.<br />
Também fizemos uso <strong>de</strong> outras pesquisas e textos que surgiram posteriormente ao nosso<br />
estudo e que abordam o pensamento do mesmo autor. A bibliografia no final <strong>de</strong>sse<br />
artigo apresenta esse conjunto <strong>de</strong> documentos estudados.<br />
Contudo, antes <strong>de</strong> a<strong>de</strong>ntrarmos ao pensamento <strong>de</strong> Delgado <strong>de</strong> Carvalho, uma<br />
pergunta se faz insistente e merece ser abordada, mesmo que <strong>de</strong> forma parcial. Por que<br />
Delgado <strong>de</strong> Carvalho, apesar <strong>de</strong> sua diversida<strong>de</strong> <strong>de</strong> saberes, do pioneirismo <strong>de</strong> suas<br />
ações e idéias, e riqueza argumentativa, acabou sendo eclipsado como gran<strong>de</strong> pensador,<br />
ficando quase <strong>de</strong>sconhecido em meio a história da ciência geográfica brasileira?<br />
A resposta caminha por várias trilhas. Des<strong>de</strong> supostos atalhos que na verda<strong>de</strong><br />
<strong>de</strong>sembocam num vazio, como apontar para o fato <strong>de</strong> o Brasil ser um “povo sem memória”,<br />
que não valoriza o passado, etc., até o afirmar que o mundo <strong>de</strong> Carvalho era<br />
um e o nosso é outro, suas i<strong>de</strong>ias ficaram <strong>de</strong>satualizadas, daí não serem necessárias e o<br />
esquecimento foi algo como que natural nesse processo evolutivo.<br />
Essas justificativas são muito vagas e genéricas. Para tentar estabelecer respostas<br />
mais substanciosas, <strong>de</strong>vemos nos ater a dois corpos <strong>de</strong> elementos, um externo ao<br />
pensador e outro interno a ele. O primeiro se relaciona com o corpo coletivo em que o<br />
pensamento <strong>de</strong> Delgado se <strong>de</strong>u e se <strong>de</strong>senvolveu. Nesse corpo, dois ambientes são fundamentais.<br />
De um lado temos o corpo do Estado brasileiro, com sua estrutura, funções<br />
e necessida<strong>de</strong>s. De outro lado, o ambiente caracterizador dos processos <strong>de</strong> produção do<br />
conhecimento geográfico: as instituições, os intelectuais vinculados e os referenciais e<br />
posturas teóricas.<br />
O segundo conjunto <strong>de</strong> elementos se relaciona propriamente com a corporida<strong>de</strong><br />
<strong>de</strong>lgadiana, ou seja, seus referenciais teóricos, políticos e conjunto <strong>de</strong> ações e textos produzidos<br />
enquanto intelectual e pensador. Vamos tentar explicar melhor a esses corpos.<br />
O Estado brasileiro, quando Delgado <strong>de</strong> Carvalho começou sua carreira <strong>de</strong> intelectual,<br />
passando pelo período Vargas, chegando até o início da ditadura militar, se caracterizou<br />
por investir recursos financeiro, político, estratégico e intelectual na direção<br />
<strong>de</strong> consolidação <strong>de</strong> sua i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> territorial expressa na i<strong>de</strong>ia uniforme <strong>de</strong> nacionalismo<br />
pátrio. O conhecimento científico era tomado como o elemento fundamental para<br />
fazer as pesquisas com precisão e rigor visando a elaborar referenciais <strong>de</strong> leitura <strong>de</strong><br />
quem somos nós e como <strong>de</strong>vemos ser brasileiros em meio a toda nossa diversida<strong>de</strong>.<br />
Daí a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> estudos geográficos sobre as características paisagísticas<br />
das diversas regiões, enten<strong>de</strong>ndo suas características físicas e relacionando estas com os<br />
aspectos fundamentais da população, tanto em referenciais estatísticos quanto cultural