Geografia e geopolítica: a contribuição de ... - Biblioteca - IBGE
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<strong>Geografia</strong> política e Geopolítica:<br />
os estudos e proposições <strong>de</strong> Delgado <strong>de</strong> Carvalho e Therezinha <strong>de</strong> Castro............. 127<br />
o Capitão <strong>de</strong> fragata da Marinha argentina, Bernardo N. Rodriguez, a “teoria da <strong>de</strong>frontação”<br />
<strong>de</strong> autoria da professora Therezinha <strong>de</strong> Castro é uma interpretação “larga” do “princípio<br />
do setor”, enunciado pela primeira vez no Parlamento do Canadá em 20.02.1907,<br />
pelo então senador Pascal Poirier relativo a sua aplicação no Ártico. Em sua concepção<br />
original para o Ártico, indicava somente que os territórios nacionais que confinassem com<br />
ele teriam direitos a todas as terras banhadas pelas águas, situadas entre as linhas traçadas,<br />
<strong>de</strong>s<strong>de</strong> o Pólo até os dois pontos extremos <strong>de</strong> seu território, a leste e a oeste. Como na<br />
Antártida os países que se <strong>de</strong>frontam com ela se encontram muito distantes, não po<strong>de</strong>m<br />
invocar os argumentos <strong>de</strong> continuida<strong>de</strong> ou contiguida<strong>de</strong>, como era o caso do Brasil.<br />
Para contrapor este critério, Therezinha <strong>de</strong> Castro incluía a reivindicação brasileira<br />
como parte <strong>de</strong> sua teoria <strong>de</strong>nominada “diretrizes <strong>geopolítica</strong>s difun<strong>de</strong>ntes”, on<strong>de</strong><br />
o País po<strong>de</strong>ria projetar sua ação <strong>geopolítica</strong> para áreas mais afastadas do ponto <strong>de</strong> vista<br />
geográfico. Sob esta ótica, este fato se justificaria, por um lado, pela falta <strong>de</strong> uma estratégia<br />
oci<strong>de</strong>ntal e <strong>de</strong> uma aliança militar específica para <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>r a região e, <strong>de</strong> outro, pela<br />
importância do controle antártico para o domínio do Atlântico Sul.<br />
Mesmo neste caso <strong>de</strong> aliança conjunta dos países oci<strong>de</strong>ntais, os geopolíticos argentinos<br />
se puseram <strong>de</strong> acordo. Consi<strong>de</strong>ravam que a simples existência <strong>de</strong> bases brasileiras<br />
po<strong>de</strong>ria criar problemas, na eventualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> uma guerra limitada envolvendo os dois<br />
países. Segundo Rodriguez (1978, p. 212) “De todas maneras, en principio, lo más conveniente<br />
para nosotros es que Brasil no tenga bases en la Antarctica”. Entretanto, concorda o autor que<br />
a utilização do critério <strong>de</strong> proximida<strong>de</strong> permitiria que a Argentina e o Chile fossem os<br />
mais beneficiados. Consi<strong>de</strong>ra também que por motivos estratégicos, muitos Estados se<br />
oporiam à aplicação <strong>de</strong>ste critério, haja vista que a aplicação do sistema setorial poria em<br />
mãos <strong>de</strong> poucos Estados o controle estratégico da rota ao redor do Cabo Horns e a conexão<br />
aérea entre a África do Sul e a América do Sul (RODRIGUEZ, 1978, p. 203).<br />
Em 30 <strong>de</strong> Junho <strong>de</strong> 1958, o governo brasileiro notificou ao Departamento <strong>de</strong> Estado<br />
dos Estados Unidos suas pretensões relativas ao setor localizado entre o meridiano 28° (Ilha<br />
Martim Vaz) e o meridiano 53° (Arroio Chuí), mas foi excluído <strong>de</strong> participar da elaboração<br />
do Tratado da Antártida, apesar <strong>de</strong> a Marinha do Brasil ter realizado inúmeras pesquisas<br />
oceanográfica e meteorológica, como parte do Ano Geofísico Internacional. Segundo alegação<br />
dos norte-americanos, o País não havia <strong>de</strong>senvolvido nenhuma ativida<strong>de</strong> científica na<br />
região até o período em que ocorreu a convocação para a reunião em Washington. A atitu<strong>de</strong><br />
dos Estados Unidos provocou um protesto formal <strong>de</strong> nosso governo nos seguintes termos:<br />
“o Brasil, ante o imperativo <strong>de</strong> proteger sua Segurança Nacional, reservar-se-á o direito <strong>de</strong><br />
livre acesso à Antártida assim como o <strong>de</strong> apresentar<br />
as reivindicações que possam vir a julgar<br />
necessárias” (PORTO DA LUZ, 1990, p. 62-63).<br />
A professora Therezinha <strong>de</strong> Castro, através<br />
<strong>de</strong> seus esforços em projetar o Brasil na Antártida,<br />
encontrou apoio junto a parlamentares<br />
como o <strong>de</strong>putado Eurípi<strong>de</strong>s <strong>de</strong> Menezes, que<br />
passou a <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>r a sua proposta relativa à “teoria<br />
da <strong>de</strong>frontação”. Em 1960, o <strong>IBGE</strong> publicou<br />
a primeira edição do Atlas <strong>de</strong> relações internacionais<br />
com o mapa da <strong>de</strong>frontação. No mesmo<br />
ano, o mapa foi apresentado na reedição do<br />
Atlas histórico escolar (1970) do antigo Ministério<br />
da Educação e Cultura - MEC acompanhado do<br />
texto em que se lê: “No caso em que ela (a teoria<br />
da <strong>de</strong>frontação) seja posta em prática no continente<br />
do Pólo Sul, o Brasil seria beneficiado junto<br />
com outros países da América do Sul”, mas<br />
ressalva a oposição norte-americana para quem<br />
“os Estados Unidos não aceitam a reivindicação<br />
dos setores, estimando-os como contrários ao<br />
princípio da liberda<strong>de</strong> dos mares”. Carvalho; Castro (1960)