Geografia e geopolítica: a contribuição de ... - Biblioteca - IBGE
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<strong>Geografia</strong> e <strong>geopolítica</strong><br />
46 ........................ A <strong>contribuição</strong> <strong>de</strong> Delgado <strong>de</strong> Carvalho e Therezinha <strong>de</strong> Castro<br />
O Manifesto dos Pioneiros da Educação Nova, em 1932, do qual Delgado <strong>de</strong><br />
Carvalho foi um dos signatários, tinha como objetivo tornar pública a perspectiva<br />
educacional <strong>de</strong>sses liberais. O documento, redigido por Fernando <strong>de</strong> Azevedo, intelectual<br />
também <strong>de</strong>dicado à sociologia, adota um novo olhar <strong>de</strong>ssa ciência social<br />
diante da educação. Como analisam Cunha e Totti (2004), para os signatários faltava<br />
objetivida<strong>de</strong> à causa educacional brasileira: seus objetivos e suas finalida<strong>de</strong>s careciam<br />
<strong>de</strong> <strong>de</strong>finição. Sendo assim, era necessário romper a dimensão teórica das análises<br />
sociais até então realizadas por intelectuais como Sílvio Romero, e partir para<br />
aplicação <strong>de</strong>ssas teorias sociológicas, amparando a questão educacional a partir da<br />
investigação científica.<br />
O físico e o químico não terão necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> saber o que está se passando além da janela<br />
do seu laboratório. Mas o educador, como sociólogo, tem necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> uma cultura<br />
múltipla e bem diversa; as alturas e a profundida<strong>de</strong> da vida humana e da vida social<br />
<strong>de</strong>vem esten<strong>de</strong>r-se além do seu raio visual; ele <strong>de</strong>ve ter o conhecimento dos homens e<br />
da socieda<strong>de</strong> em cada uma <strong>de</strong> suas fases, para perceber, além do aparente e do efêmero,<br />
o jogo po<strong>de</strong>roso das gran<strong>de</strong>s leis que dominam a evolução social, e a posição que tem a<br />
escola, e a função que representa, na diversida<strong>de</strong> e na pluralida<strong>de</strong> das forças sociais que<br />
cooperam nas obras da civilização (AZEVEDO, 1958, p.60-4).<br />
Tal visão era apoiada por Delgado <strong>de</strong> Carvalho, que, na década <strong>de</strong> 1930, escreveu<br />
uma série <strong>de</strong> livros <strong>de</strong> sociologia, Sociologia educacional (1933), Sociologia experimental<br />
(1934), Sociologia e educação (1934) e Sociologia aplicada (1935), nos quais tentava mostrar<br />
caminhos no qual o caráter científico po<strong>de</strong>ria e <strong>de</strong>veria ser aplicado na questão educacional.<br />
Para o sociólogo, era urgente que a ciência social <strong>de</strong>ixasse o campo teórico e<br />
partisse para o estágio experimental.<br />
Representa esta ciência um passo para a frente; não se contenta mais em acumular dados, <strong>de</strong><br />
observar fenômenos, <strong>de</strong> compilar estatísticas, menos interessada na apuração da verda<strong>de</strong> dos<br />
fatos, trata antes, <strong>de</strong> tirar proveito das verda<strong>de</strong>s neles contidas para servir a fins humanos, no<br />
presente e no futuro, principalmente no futuro (DELGADO DE CARVALHO, 1935, s/p).<br />
Durante a elaboração do Plano Nacional <strong>de</strong> Educação a ser implantado pela Constituição<br />
<strong>de</strong> 1934, a disputa entre liberais e católicos prossegue, dando um tom cada vez mais político<br />
às questões educacionais. A Igreja organiza a Liga Eleitoral Católica, com a finalida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />
assegurar aos candidatos <strong>de</strong> diferentes partidos o apoio católico em troca do compromisso em<br />
<strong>de</strong>fen<strong>de</strong>r os princípios religiosos na Assembléia Constituinte. Delgado <strong>de</strong> Carvalho utilizou<br />
o prefácio <strong>de</strong> Sociologia e educação (1934) para um apelo aos políticos responsáveis pela criação<br />
do Plano Nacional <strong>de</strong> Educação. Neste, além <strong>de</strong> fazer um diagnóstico do mundo educacional<br />
<strong>de</strong> seu tempo, expõe sua posição diante da disputa pela hegemonia do setor:<br />
Signatário do Manifesto dos Pioneiros da Educação Nova <strong>de</strong> 1932, estou perfeitamente<br />
solidário com meus companheiros, e igualmente <strong>de</strong> accordo com o Plano Nacional <strong>de</strong><br />
Educação, apresentado pela Vossa Conferência Nacional <strong>de</strong> Educação. Desejo, entretan-<br />
to, salientar dois matizes <strong>de</strong> meu pensamento sobre o assumpto: em primeiro lugar, sou<br />
favorável ao <strong>de</strong>senvolvimento livre e completo do ensino particular, no Brasil... Em se-<br />
gundo lugar, subordino todo e qualquer ensino à fiscalização do Estado (p.3).<br />
Com a <strong>de</strong>cretação do Estado Novo, em 1937, a politização da questão educacional<br />
continua. No entanto, alguns pioneiros afastam-se da vida pública, como Anísio<br />
Teixeira. Outros acreditam na neutralida<strong>de</strong> técnica da educação e participam do Estado<br />
Novo como alternativa <strong>de</strong> sua militância, como foi o caso <strong>de</strong> Delgado <strong>de</strong> Carvalho. Nessa<br />
ocasião, é chamado para Comissão Nacional do Livro Didático. Os livros, no entanto,<br />
continuaram sendo o espaço do sociólogo para divulgar suas i<strong>de</strong>ias sobre educação e<br />
reivindicar mudanças nos programas <strong>de</strong> ensino, a fim <strong>de</strong> que essa ciência social cumprisse<br />
seu papel na formação dos estudantes.