Geografia e geopolítica: a contribuição de ... - Biblioteca - IBGE
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<strong>Geografia</strong> e <strong>geopolítica</strong><br />
126 ....................... A <strong>contribuição</strong> <strong>de</strong> Delgado <strong>de</strong> Carvalho e Therezinha <strong>de</strong> Castro<br />
ma do Brasil no sistema internacional. Consciente da fragilida<strong>de</strong> do Brasil neste setor<br />
consi<strong>de</strong>ra que os meios à sua disposição <strong>de</strong>vem ser eminentemente diplomáticos, valorizando,<br />
portanto, a articulação negociada das pequenas e médias potências no âmbito<br />
multilateral no qual o Brasil se sobressaia pelo seu peso e tamanho.<br />
Apesar <strong>de</strong> distintos no posicionamento i<strong>de</strong>ológico, os argumentos <strong>de</strong> Delgado <strong>de</strong><br />
Carvalho sobre a inserção do Brasil no sistema internacional são parecidos aos <strong>de</strong> Araújo<br />
<strong>de</strong> Castro e os <strong>de</strong> Jaguaribe no objetivo final: vencer o sub<strong>de</strong>senvolvimento e projetar<br />
o Brasil como Nação influente nos centros <strong>de</strong>cisórios mundiais baseados na percepção<br />
da importância <strong>de</strong> seus fatores geográficos. Este último objetivo ficou transparente no<br />
resultado final do Atlas <strong>de</strong> relações internacionais que apresentou em <strong>de</strong>staque uma das<br />
principais teorias <strong>de</strong> projeção <strong>geopolítica</strong> do Brasil: a teoria da <strong>de</strong>frontação sobre o território<br />
antártico, utilizando como parâmetro geográfico os meridianos longitudinais.<br />
Therezinha <strong>de</strong> Castro e a teoria da <strong>de</strong>frontação na Antártida<br />
A teoria da <strong>de</strong>frontação foi divulgada em abril/junho <strong>de</strong> 1956 na Revista do Clube<br />
Militar e transcrita pelo Boletim Geográfico em sua seção Contribuição à Geopolítica em<br />
novembro/<strong>de</strong>zembro do mesmo ano. Neste artigo, Delgado <strong>de</strong> Carvalho e Therezinha<br />
<strong>de</strong> Castro chamavam a atenção para a importância político-estratégica do “continente<br />
gelado” em que, segundo eles, o Brasil estava em condições <strong>de</strong> reivindicar direitos sobre<br />
a área que lhes caberia, segundo os critérios da <strong>de</strong>frontação.<br />
Dentro <strong>de</strong> um cronograma <strong>de</strong> negociações, caberia ao Brasil a iniciativa diplomática<br />
no Hemisfério Sul, on<strong>de</strong> seu território ocupa a maior extensão <strong>de</strong> terras. A partir<br />
daí se discutiria então, com esses países, o chamado “direito <strong>de</strong> <strong>de</strong>frontação”. Resolvida<br />
essa primeira etapa, estaria o Brasil em condições <strong>de</strong> negociar, na Conferência Geofísica<br />
realizada em 1957, com as potências setentrionais, a “partilha da antártica”. Segundo os<br />
autores, três razões <strong>de</strong> or<strong>de</strong>m estratégica, <strong>de</strong>veriam impelir as negociações brasileiras:<br />
1) O estreito <strong>de</strong> Drake ocupa posição estratégica importante, pois, uma vez fechado<br />
o estreito <strong>de</strong> Magalhães, somente por lá po<strong>de</strong>riam passar os navios portaaviões<br />
que o canal do Panamá não comporta;<br />
2) Na ida<strong>de</strong> dos transportes supersônicos e dos bombar<strong>de</strong>iros dirigidos, é <strong>de</strong> capital<br />
interesse possuir bases <strong>de</strong> controle dos ares em terra firme e uma língua<br />
<strong>de</strong> terra da Antártica faz parte também da possível localização <strong>de</strong> tais bases;<br />
3) Se no futuro houver meios científicos <strong>de</strong> controlar os climas, é evi<strong>de</strong>nte que<br />
no Polo Sul, on<strong>de</strong> se formam as massas <strong>de</strong> ar que se <strong>de</strong>slocam <strong>de</strong>stas áreas <strong>de</strong><br />
baixa pressão (ciclonais) regulando o trajeto das <strong>de</strong>pressões do Hemisfério Sul,<br />
a Antártida seria útil ao Brasil.<br />
A conclusão, sob esta ótica, é que o Brasil <strong>de</strong>veria levar em consi<strong>de</strong>ração estes fatores<br />
<strong>de</strong> or<strong>de</strong>m estratégica e, à semelhança <strong>de</strong> outros países, realizar missões cientificas e estabelecer<br />
o quanto antes bases <strong>de</strong> pesquisas e navais no Continente austral para fazer valer sua<br />
presença, por ocasião do Congresso Geofísico (CARVALHO; CASTRO, 1956, p. 505-506).<br />
Em artigos posteriores, escritos em diferentes periódicos, a professora Therezinha<br />
<strong>de</strong> Castro reiterou a importância para o Brasil <strong>de</strong> reivindicar território na Antártida<br />
levando em conta sua teoria da <strong>de</strong>frontação. Postulava ela uma valorização estratégica<br />
das passagens interoceânicas (Drake e Cabo) <strong>de</strong>ntro dos marcos da doutrina <strong>de</strong> <strong>de</strong>fesa<br />
hemisférica, representada pelo Tratado Interamericano <strong>de</strong> Assistência Recíproca - TIAR.<br />
Segundo ela, estas passagens corriam o risco <strong>de</strong> serem dominadas pelos soviéticos, o qual<br />
contavam com bases <strong>de</strong> apoio em Angola e Moçambique que, juntamente com a base <strong>de</strong><br />
Novozacuskaia em Território Antártico, constituiriam a aplicação da “teoria dos flechamentos<br />
<strong>de</strong> rotas” <strong>de</strong> Gorshkov, no intuito <strong>de</strong> estrangular a livre circulação do comércio<br />
oci<strong>de</strong>ntal. Para ela, outra razão que contribuía para aumentar o valor estratégico do Continente<br />
antártico, seria o seu uso numa possível “guerra meteorológica” (CASTRO, 1997).<br />
A tese da <strong>de</strong>frontação sofreu inúmeras críticas por parte dos geopolíticos argentinos<br />
que não reconhecem os direitos brasileiros sobre a Antártida, pois eles se sobrepõem<br />
ao trecho reivindicado pela Argentina. Na perspectiva dos argentinos, esta teoria foi entendida<br />
como a expressão <strong>de</strong> uma política com claros <strong>de</strong>sígnios antiargentinos. Segundo