Geografia e geopolítica: a contribuição de ... - Biblioteca - IBGE
Geografia e geopolítica: a contribuição de ... - Biblioteca - IBGE
Geografia e geopolítica: a contribuição de ... - Biblioteca - IBGE
You also want an ePaper? Increase the reach of your titles
YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.
<strong>Geografia</strong> e <strong>geopolítica</strong><br />
124 ....................... A <strong>contribuição</strong> <strong>de</strong> Delgado <strong>de</strong> Carvalho e Therezinha <strong>de</strong> Castro<br />
O Brasil no mapa da guerra fria: a questão Antártica e a projeção<br />
brasileira na África<br />
A publicação do Atlas <strong>de</strong> relações internacionais ocorreu num contexto histórico caracterizado<br />
por uma crise do sistema internacional com amplos reflexos no Brasil ante<br />
a inter<strong>de</strong>pendência que se criou com a bipolarida<strong>de</strong> política e i<strong>de</strong>ológica, opondo os<br />
Estados Unidos e a antiga União Soviética e com ela o clima reinante da “guerra fria”.<br />
Dentro <strong>de</strong>ste contexto, os estudiosos <strong>de</strong> política externa <strong>de</strong>stacam o paradigma<br />
norte-americano como referência para se enten<strong>de</strong>r o comportamento do governo<br />
brasileiro em face do quadro geoestratégico bipolar. Nesta linha <strong>de</strong> reflexões, Cervo<br />
(1992, p. 25) observa que no segundo Governo Vargas, por exemplo, o contexto<br />
externo, envolvendo as relações Brasil–Estados Unidos em torno <strong>de</strong> questões como<br />
o acordo militar e a PETROBRAS, foi um importante componente na condução da<br />
política interna que po<strong>de</strong>ria acelerar ou atrasar o <strong>de</strong>senvolvimento, consoante cada<br />
posicionamento i<strong>de</strong>ológico.<br />
O acirramento dos <strong>de</strong>bates opondo “entreguistas” aos “nacionalistas” gerou um<br />
relativo “congelamento” dos rumos da política interna, dadas as dificulda<strong>de</strong>s <strong>de</strong> Vargas<br />
em conciliar os interesses antagônicos, o que certamente contribuiria para a crise política<br />
do governo que culminou com o seu suicídio em 24.08.1954.<br />
Estas posições divergentes seriam posteriormente atenuadas e canalizadas em<br />
torno do projeto nacional-<strong>de</strong>senvolvimentista, conduzido por Juscelino Kubitschek<br />
com vistas a superar o atraso econômico do País. Vencer o sub<strong>de</strong>senvolvimento, através<br />
<strong>de</strong> recursos externos, passou a ser aceito tanto pela direita quanto pela esquerda,<br />
preocupados com os rumos do País. O contexto internacional também favorecia, já<br />
que havia interesse dos Estados Unidos em aplicar capitais nos países da América do<br />
Sul, como forma <strong>de</strong> ampliar a sua hegemonia no continente um tanto <strong>de</strong>sgastada em<br />
<strong>de</strong>corrência da exacerbação do nacionalismo, do antiamericanismo e das <strong>de</strong>núncias do<br />
imperialismo ianque (CERVO, 1992, p. 255-257).<br />
Além <strong>de</strong>stes aspectos, menciona-se o pano <strong>de</strong> fundo das relações bipolares<br />
em que o notável progresso dos países socialistas e seu mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> planejamento<br />
centralizado contrapunham-se à perda <strong>de</strong> prestígio dos Estados Unidos, que viram<br />
sua li<strong>de</strong>rança mundial ser posta em risco ante o <strong>de</strong>sgaste <strong>de</strong>ste país na guerra da<br />
Coréia (1953-1956).<br />
É neste quadro instável das relações internacionais que Juscelino Kubitschek lança<br />
a Operação Pan Americana - OPA, cujo objetivo era favorecer o <strong>de</strong>senvolvimento das<br />
economias dos países latino-americanos, com capital norte-americano, como forma <strong>de</strong><br />
evitar a penetração <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ologias “exóticas” e anti<strong>de</strong>mocráticas do bloco soviético.<br />
Esta iniciativa partia também da consciência do papel da posição do Brasil no<br />
continente americano que, segundo os analistas, contribuiu para a assimilação da OPA<br />
por parte dos Estados Unidos, já que relacionava o problema do sub<strong>de</strong>senvolvimento<br />
à segurança hemisférica. Dentre os seus resultados menciona-se a criação do Banco<br />
Interamericano <strong>de</strong> Desenvolvimento - BID, da Associação Latino-Americana <strong>de</strong> Livre<br />
Comércio - ALALC e da “Aliança para o progresso”, do Presi<strong>de</strong>nte Kennedy, vista como<br />
<strong>de</strong>sdobramento visível à crise <strong>de</strong> Cuba.<br />
A postura <strong>de</strong> Juscelino Kubitschek, ao atrelar o projeto nacional-<strong>de</strong>senvolvimentista<br />
ao âmbito continental, era apoiada pelos segmentos militares reunidos em<br />
torno da Escola Superior <strong>de</strong> Guerra, que adotaram a política <strong>de</strong> <strong>de</strong>fesa hemisférica no<br />
continente li<strong>de</strong>rado pelos Estados Unidos, consubstanciada no binômio Segurança e<br />
Desenvolvimento.<br />
Por outro lado, sofreu forte oposição <strong>de</strong> segmentos da elite civil, principalmente<br />
<strong>de</strong> Oswaldo Aranha, ex-Chanceler <strong>de</strong> Vargas e autorida<strong>de</strong> em assuntos internacionais.<br />
Aranha se mostrava contrário à política pan-americana <strong>de</strong> <strong>de</strong>fesa hemisférica, já que<br />
o custo muito alto colocava em causa a soberania do Brasil. Não vislumbrava o risco<br />
<strong>de</strong> contaminação i<strong>de</strong>ológica e o Brasil, sendo uma Nação importante no sistema internacional<br />
<strong>de</strong>veria, segundo ele, participar das <strong>de</strong>cisões mundiais e não se restringir ao<br />
âmbito continental que, em sua opinião, significava subordinar-se aos interesses norteamericanos<br />
(CERVO, 1992, p. 262-3).