Geografia e geopolítica: a contribuição de ... - Biblioteca - IBGE
Geografia e geopolítica: a contribuição de ... - Biblioteca - IBGE
Geografia e geopolítica: a contribuição de ... - Biblioteca - IBGE
You also want an ePaper? Increase the reach of your titles
YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.
<strong>Geografia</strong> política e Geopolítica:<br />
os estudos e proposições <strong>de</strong> Delgado <strong>de</strong> Carvalho e Therezinha <strong>de</strong> Castro............. 129<br />
Finalmente, em abril <strong>de</strong> 1991, na cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Madrid, teve lugar a 11ª reunião consultiva<br />
com a participação <strong>de</strong> 39 países, quando foi <strong>de</strong>liberado que as riquezas minerais<br />
do Continente antártico permaneceriam intactas por mais 50 anos. A tese da internacionalização<br />
que vigorava até então se opôs ao princípio da <strong>de</strong>frontação uma vez que,<br />
no primeiro caso, liberou-se o acesso das potências do Hemisfério Norte à Antártida,<br />
enquanto, no segundo caso, seriam os países do Hemisfério Sul que se beneficiariam.<br />
Delgado <strong>de</strong> Carvalho e o “<strong>de</strong>spertar da África”<br />
A ênfase nas clivagens Norte-Sul e a prescrição <strong>de</strong> aliança com o mundo sub<strong>de</strong>senvolvido<br />
foram também a tônica da Política Externa In<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte, formulada nos<br />
governos <strong>de</strong> Jânio Quadros e João Goulart. Inaugurada pelo Ministro Afonso Arinos<br />
em 31.06.1961, a Política Externa In<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte – PEI, como ficou conhecida, postulava<br />
diretrizes universais e não exclu<strong>de</strong>ntes que vislumbravam maior possibilida<strong>de</strong> para o<br />
Brasil afirmar-se como ator influente no cenário internacional.<br />
Em consonância com estas diretrizes, ocupou-se a PEI <strong>de</strong> estreitar seus vínculos<br />
com as nações africanas e asiáticas recém-in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes; <strong>de</strong> restabelecer relações comerciais<br />
com o bloco socialista; <strong>de</strong> <strong>de</strong>fesa do direito <strong>de</strong> soberania e auto<strong>de</strong>terminação<br />
<strong>de</strong> Cuba; <strong>de</strong> repúdio ao apoio que o País <strong>de</strong>ra até então ao colonialismo junto à Organização<br />
das Nações Unidas - ONU; <strong>de</strong> cooperação com a América Latina, com a Argentina<br />
em especial, etc.<br />
O pano <strong>de</strong> fundo que servia como referência para as ações governamentais neste<br />
período foi a continuida<strong>de</strong> do projeto nacional-<strong>de</strong>senvolvimentista e, no plano externo,<br />
ruptura com a política <strong>de</strong> alinhamento automático com os Estados Unidos <strong>de</strong>fendida<br />
em especial pelo embaixador Araújo <strong>de</strong> Castro, ministro das Relações Exteriores da<br />
primeira fase da gestão <strong>de</strong> João Goulart.<br />
É no <strong>de</strong>correr da vigência da PEI que Delgado <strong>de</strong> Carvalho publica no <strong>IBGE</strong>,<br />
no ano <strong>de</strong> 1960, o livro África: geografia social, econômica e política, cujo objetivo foi o <strong>de</strong><br />
mostrar o panorama geopolítico da África e, a partir <strong>de</strong> métodos comparativos, associar<br />
as i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>s física e histórica entre o continente africano e o Brasil. Nas palavras <strong>de</strong><br />
Delgado <strong>de</strong> Carvalho (1963):<br />
Trata-se <strong>de</strong> conhecer as socieda<strong>de</strong>s africanas e suas instituições, <strong>de</strong> avaliar os recursos<br />
econômicos no continente e seu peso na balança do comércio mundial, <strong>de</strong> compreen<strong>de</strong>r<br />
os problemas políticos da África e sua influência nas relações internacionais, <strong>de</strong> meditar,<br />
por fim, no papel que cabe ao Brasil na solidarieda<strong>de</strong> mundial.<br />
O “<strong>de</strong>spertar da África”, no dizer <strong>de</strong> Delgado <strong>de</strong> Carvalho, tinha por referência<br />
os esforços empreendidos pelos lí<strong>de</strong>res africanos, no sentido <strong>de</strong> reverter a situação <strong>de</strong><br />
<strong>de</strong>pendência estrutural resultante do colonialismo e <strong>de</strong> afirmarem sua soberania e autonomia<br />
nos fóruns internacionais, on<strong>de</strong> passaram a ser numericamente importante.<br />
Embora cauteloso quanto à política africana inaugurada por Jânio Quadro/Afonso<br />
Arinos, Delgado <strong>de</strong> Carvalho vislumbrava possibilida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> cooperação com os países<br />
do continente. Em particular, com relação às perspectivas <strong>de</strong> mudança na or<strong>de</strong>m<br />
internacional na qual a entrada <strong>de</strong> países africanos nos organismos da ONU po<strong>de</strong>ria<br />
contribuir para alterar o equilíbrio do po<strong>de</strong>r mundial, até então concentrado nas duas<br />
superpotências. Dentro <strong>de</strong>ste processo, caberia ao Brasil um papel prepon<strong>de</strong>rante como<br />
potência intermediária que segundo ele:<br />
[...] resulta apenas do fato (hoje patente para a opinião pública da comunida<strong>de</strong> das nações<br />
do mundo) <strong>de</strong> nosso país estar saindo <strong>de</strong> sua reservada e discreta situação <strong>de</strong> potência se-<br />
cundária, para entrar <strong>de</strong>liberadamente no Conselho das Nações [...]. A África é exatamente<br />
o campo vasto, vastíssimo, que se abre subitamente [...] a <strong>de</strong>cisão <strong>de</strong> política internacional<br />
nas quais não po<strong>de</strong>mos, nem queremos ficar ligados a quem quer que seja, por maiores<br />
amigos que tenhamos nos setores <strong>de</strong> boa vonta<strong>de</strong>. Por isso não po<strong>de</strong>mos condicionar as<br />
nossas ativida<strong>de</strong>s a i<strong>de</strong>ologias políticas e normas alheias (CARVALHO, 1963, p. 214).