Geografia e geopolítica: a contribuição de ... - Biblioteca - IBGE
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Delgado <strong>de</strong> Carvalho e a <strong>Geografia</strong> no Brasil: pioneirismo e contribuições ............... 95<br />
uma certa extensão [...] Assim se acha, cada vez mais justificada a noção <strong>de</strong> região natural<br />
e compreen<strong>de</strong>-se que é o único a correspon<strong>de</strong>r a continuida<strong>de</strong> das mesmas causas produ-<br />
toras dos mesmos efeitos (CARVALHO, 1925, p. 79-80).<br />
Tendo isto como pressuposto, Delgado <strong>de</strong>fine região natural como:<br />
[...] uma subdivisão mais ou menos precisa e permanente que a observação e a investi-<br />
gação permitem criar numa área geográfica estudada no intuito <strong>de</strong> salientar a importân-<br />
cia respectiva das diferentes influências fisiográficas, respeitando o mais possível o jogo<br />
natural das forças em presença e colocando a síntese assim esboçada sob ponto <strong>de</strong> vista<br />
especial do fator humano nela representado (CARVALHO, 1925, p. 82).<br />
Reforça-se assim o núcleo do pensamento geográfico <strong>de</strong> Delgado, para o qual a<br />
maior cientificida<strong>de</strong> dos elementos naturais, graças à <strong>contribuição</strong> da física, da química<br />
e da biologia, permitia estabelecer os limites regionais <strong>de</strong> forma mais exata e precisa, e o<br />
elemento humano surgia como um fator <strong>de</strong> referência - a “equação social” - ampliando<br />
o sentido dado até então ao meio natural, tornando-o altamente complexo. Cabia à <strong>Geografia</strong>,<br />
<strong>de</strong>ntro <strong>de</strong>sta perspectiva, observar, classificar e sistematizar os vários fatores <strong>de</strong><br />
dada região, através do estabelecimento <strong>de</strong> sentido <strong>de</strong> causa e efeito entre estes.<br />
Sendo a chamada região natural o locus que, segundo Delgado, por excelência<br />
possibilitaria à <strong>Geografia</strong> um futuro científico claro e imprescindível à socieda<strong>de</strong><br />
brasileira.<br />
Se a noção <strong>de</strong> ‘regiao natural’ se limitasse ao interesse científico que oferece, a sua adoção<br />
não teria a imediata importância que hoje apresenta. A questão é que pren<strong>de</strong>-se a ela todo<br />
o futuro da metodologia geográfica; <strong>de</strong>la <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>m todos os progressos do ramo científi-<br />
co que nos interessa; a ela se ligou até a propria interpretação satisfatória dos fenômenos<br />
geográficos (CARVALHO, 1925, p. 92).<br />
Com o conceito <strong>de</strong> “região natural”, Delgado encontra o equilíbrio necessário aos<br />
estudos científicos da <strong>Geografia</strong>, no qual o elemento humano po<strong>de</strong> ser melhor explicitado,<br />
estudado e entendido, estabelecendo sua importância <strong>de</strong> forma “objetiva e precisa”<br />
perante o meio.<br />
Esta concepção científica <strong>de</strong> estudos geográficos, que Delgado tentou consolidar<br />
na <strong>Geografia</strong> produzida no Brasil, acabou por se tornar o mo<strong>de</strong>lo oficial dos<br />
processos <strong>de</strong> análises e <strong>de</strong> ensino <strong>de</strong> <strong>Geografia</strong>, como constatamos na observação<br />
seguinte.<br />
A campanha vigorosamente <strong>de</strong>fendida pelo professor Delgado <strong>de</strong> Carvalho foi vitoriosa<br />
e os novos programas <strong>de</strong> ensino [...] consagraram a nova orientação [...] na fase atual,<br />
parece-nos que as ‘regiões naturais’ que seviram <strong>de</strong> fundamento à divisao do professor<br />
Delgado <strong>de</strong> Carvalho constituem a melhor base para os estudos geográficos em nosso<br />
pais (GUIMARAES, 1944, p. 59).<br />
Tendo estabelecido os parâmetros necessários para se produzir um conhecimento<br />
geográfico eficiente, racional e objetivo, aproximando este conhecimento dos mo<strong>de</strong>los<br />
científicos então dominantes, Delgado colocava a base necessária <strong>de</strong> como este ramo do<br />
saber po<strong>de</strong>ria produzir noções e representações <strong>de</strong> caráter científicos que subsidiariam<br />
o necessário entendimento do território brasileiro, permitindo a consolidação <strong>de</strong> um<br />
projeto nacional. A isto ele <strong>de</strong>nominava <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> “inteligência e <strong>de</strong> patriotismo<br />
esclarecido”.<br />
[...] a aparente dificulda<strong>de</strong> que oferece aos que, até agora, se limitaram a nomencla-<br />
turas a simples <strong>de</strong>scrições, sem jamais cogitar em explicar, em estabelecer relações <strong>de</strong><br />
causalida<strong>de</strong> entre fenômenos. Devido a esta gran<strong>de</strong> lacuna, a geografia do passado foi<br />
seca e sem interesse, foi disciplina <strong>de</strong> pura memória. Que seja dado a nova geração