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Geografia e geopolítica: a contribuição de ... - Biblioteca - IBGE

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<strong>Geografia</strong> e <strong>geopolítica</strong><br />

118 ....................... A <strong>contribuição</strong> <strong>de</strong> Delgado <strong>de</strong> Carvalho e Therezinha <strong>de</strong> Castro<br />

A racionalização do quadro político-territorial<br />

O <strong>IBGE</strong>, no contexto <strong>de</strong> sua criação, <strong>de</strong>dicou-se à tarefa <strong>de</strong> organização do quadro<br />

territorial brasileiro, cuja configuração apresentava-se, até aquele período, irregular<br />

e <strong>de</strong>sconhecida no tocante aos âmbitos geográficos <strong>de</strong> suas jurisdições político-administrativas.<br />

Esta tarefa exigiu a montagem <strong>de</strong> uma re<strong>de</strong> <strong>de</strong> serviços geográfico e estatístico<br />

em todo o País, no nível das esferas fe<strong>de</strong>ral, estadual e municipal.<br />

Constituídos em base sistêmica, os serviços geográfico-estatísticos estavam subordinados<br />

aos dois Conselhos (Conselho Nacional <strong>de</strong> Estatística - CNE e Conselho<br />

Nacional <strong>de</strong> <strong>Geografia</strong> - CNG), cuja atribuição era a <strong>de</strong> coor<strong>de</strong>nar, através <strong>de</strong> procedimentos<br />

técnico e científico, a execução dos trabalhos.<br />

A partir da coleta das informações, estas eram sistematizadas com vistas à fixação<br />

precisa dos âmbitos territoriais, tais como: a nomenclatura correta dos municípios e distritos,<br />

a resolução dos limites das jurisdições estaduais e o estabelecimento <strong>de</strong> uma nova divisão<br />

territorial. Nestas ativida<strong>de</strong>s, Delgado <strong>de</strong> Carvalho teve uma participação especial,<br />

na condição <strong>de</strong> consultor do CNG, em que manifestou <strong>de</strong> forma explicita suas concepções<br />

geográficas, invariavelmente associadas ao plano geral <strong>de</strong> organização nacional 1 .<br />

Essa característica se revelou particularmente no tocante ao problema dos limites<br />

interestaduais e por ocasião da criação das gran<strong>de</strong>s regiões naturais, conjunto maior <strong>de</strong><br />

um estudo iniciado com a <strong>Geografia</strong> do Brasil meridional, publicada em 1913 e completada<br />

em Metodologia do ensino geográfico, publicada em 1925. Nestes trabalhos, abordou o<br />

problema da divisão territorial no Brasil, segundo o paradigma científico predominante<br />

no período, que procurava explicar os fenômenos políticos e sociais a partir <strong>de</strong> uma<br />

perspectiva teórica <strong>de</strong> base naturalista.<br />

Justificada para fins didáticos, a divisão geográfica proposta por Delgado <strong>de</strong> Carvalho<br />

se opunha francamente à divisão político-administrativa, resultado, segundo ele,<br />

<strong>de</strong> <strong>de</strong>terminações históricas e “fruto do acaso” e do “livre arbítrio” e que, portanto,<br />

não correspondiam aos métodos “mo<strong>de</strong>rnos” <strong>de</strong> análises formais <strong>de</strong> mensuração dos<br />

fenômenos naturais.<br />

Para ultrapassar essas limitações, postulou uma nova norma para agrupamentos<br />

dos “fatos geográficos” no estudo da divisão regional do Brasil, subdividida em função<br />

<strong>de</strong> critérios físico e humano, convergindo ambos para a formação das gran<strong>de</strong>s regiões<br />

naturais. Segundo ele:<br />

A nossa região natural não coinci<strong>de</strong> forçosamente nem com uma bacia hidrográfica,<br />

nem com um sistema montanhoso, nem com o habitat <strong>de</strong> uma planta útil, nem com uma<br />

divisão política; aproveita, todavia, cada um <strong>de</strong>sses elementos, na medida do possível<br />

(CARVALHO, 1925, p. 14-15).<br />

A convergência <strong>de</strong>stes fatores gerou, contudo, problemas quanto à divisão lógica<br />

a adotar. Isso porque esbarravam na extensão das competências das administrações,<br />

já que uma nova divisão espacial recolocava a questão da hierarquia das escalas administrativas<br />

e <strong>de</strong> sua coerência. A solução do problema, segundo Delgado <strong>de</strong> Carvalho,<br />

<strong>de</strong>veria ser buscada na própria <strong>Geografia</strong>, sobrepondo-se, portanto, à divisão administrativa,<br />

até então a principal escala <strong>de</strong> organização regional.<br />

Entre nós a divisão por Estados para o ensino da geografia, tem sido o maior obstáculo<br />

ao progresso da ciência geográfica no domínio didático. Os Estados, por seus limites<br />

baseados sobre as tradições, sobre a história, e o direito, vem <strong>de</strong>struir a harmonia dos<br />

fenômenos causados pela natureza (CARVALHO, 1925, p. 13).<br />

Por outro lado, consi<strong>de</strong>rava difícil <strong>de</strong>finir as regiões naturais naquele momento<br />

(década <strong>de</strong> 1920) em face do <strong>de</strong>sconhecimento do quadro territorial em <strong>de</strong>talhes. Isso<br />

1 O i<strong>de</strong>ário <strong>de</strong> “organização nacional” foi postulado inicialmente pelo sociólogo Alberto Torres em sua obra intitulada O<br />

problema nacional brasileiro, publicado em São Paulo, pela Editora Nacional em 1914.

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