Geografia e geopolítica: a contribuição de ... - Biblioteca - IBGE
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Delgado <strong>de</strong> Carvalho e a <strong>Geografia</strong> no Brasil: pioneirismo e contribuições ............... 85<br />
<strong>de</strong>sta. A partir disso, po<strong>de</strong>riam se <strong>de</strong>limitar com acerto cartográfico as fronteiras, levantando-se<br />
os potenciais econômicos <strong>de</strong> investimento e exploração, visando à efetivação<br />
dos elementos <strong>de</strong> intervenção no território.<br />
Perante esses aspectos, a proposta <strong>de</strong> <strong>Geografia</strong> <strong>de</strong> Delgado <strong>de</strong> Carvalho foi fundamental,<br />
tanto enquanto referenciais metodológicos <strong>de</strong> pesquisa quanto <strong>de</strong> instrumental<br />
pedagógico <strong>de</strong> ensino. Como durante toda primeira meta<strong>de</strong> do Século XX no<br />
Brasil, os recursos tecnológicos <strong>de</strong> comunicação e informação ficavam restritos a mídias<br />
impressas, telefonia precária e sistema <strong>de</strong> radiodifusão centralizados na capital da República,<br />
assim como o uso ainda insipiente <strong>de</strong> rodovias, etc., o sentido <strong>de</strong> Nação brasileira<br />
tinha que se dar num ritmo mais lento e <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte em gran<strong>de</strong> parte do conteúdo<br />
a ser trabalhado em sala <strong>de</strong> aula por meio <strong>de</strong> livros didáticos que <strong>de</strong>stacassem nossas<br />
características principais rumo a elaboração do sentido <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> com a abstração<br />
territorial chamada Nação brasileira.<br />
Quando, após notadamente os anos <strong>de</strong> 1950, ocorrem as condições técnica e política<br />
que propiciariam a efetiva integração territorial brasileira ao redor da estrutura<br />
administrativa do Estado, os referenciais econômicos internacionais começam a cobrar<br />
mudanças no aparelho <strong>de</strong> gerenciamento estatal. O sentido <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> nacional, até<br />
então fundamentado na frágil estrutura arcaica <strong>de</strong> um País rural e disperso, começa a<br />
sofrer pressão, principalmente em seu aspecto econômico, para se mo<strong>de</strong>rnizar, visando<br />
à industrialização e à urbanização do território, produzindo assim uma gran<strong>de</strong> camada<br />
<strong>de</strong> trabalhadores em condições espaciais concentradas e com domínio técnico-econômico<br />
<strong>de</strong> trabalhar/consumir, criando um mercado consumidor e poupador viável para que<br />
o Estado brasileiro se integre à nova or<strong>de</strong>m econômica mundial.<br />
Como as condições da economia brasileira eram insuficientes para viabilizar todo<br />
esse rearranjo territorial, o Estado mais uma vez passou a ser o elemento capacitador <strong>de</strong>sse<br />
processo. Para que as mudanças fossem razoavelmente articuladas e sem gran<strong>de</strong>s empecilhos<br />
<strong>de</strong> or<strong>de</strong>m social e política, tornava-se necessário que o Estado fosse administrado<br />
<strong>de</strong> forma centralizada e autoritária, única maneira que parcelas da elite, na época, acreditavam<br />
ser possível implementar rapidamente esses processos <strong>de</strong> mo<strong>de</strong>rnização, passando<br />
por cima <strong>de</strong> resistências ou contestações. Diante disso, o Estado acabou ocupado por<br />
juntas <strong>de</strong> militares que <strong>de</strong> forma ditatorial, a partir dos anos <strong>de</strong> 1960, passam a acelerar<br />
essa estrutura <strong>de</strong> mo<strong>de</strong>rnização dos referenciais econômicos do território brasileiro, aproximando<br />
as condições nacionais dos parâmetros competitivos internacionais <strong>de</strong> então.<br />
Introduziram novas tecnologias <strong>de</strong> comunicação e informação, notadamente por<br />
meio <strong>de</strong> satélites e <strong>de</strong> sistemas eletromagnéticos <strong>de</strong> comunicação a distância. Elaborouse<br />
toda uma mo<strong>de</strong>rna infraestrutura rodoviária, capaz <strong>de</strong> tornar mais ágil e flexível o<br />
contato entre as várias partes do território, assim como fortaleceu a indústria automobilística<br />
e diversificou o parque industrial brasileiro. Essas e outras medidas, como a<br />
ampliação <strong>de</strong> quadros <strong>de</strong> estudantes no ensino superior, por meio da privatização do<br />
ensino e formas para acelerar/encurtar a formação <strong>de</strong> professores, em áreas como licenciaturas<br />
e cursos técnicos.<br />
As consequências disso para a <strong>Geografia</strong> foram danosas. Tanto por diminuir o<br />
número <strong>de</strong> aulas <strong>de</strong>ssa disciplina no meio escolar, como até substituição <strong>de</strong> professores<br />
específicos por generalistas, como os <strong>de</strong> Estudos Sociais. Com a televisão, gran<strong>de</strong> parte<br />
do que competia à escola e ao ensino <strong>de</strong> <strong>Geografia</strong> quanto à formação do sentido <strong>de</strong><br />
i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> nacional, por meio <strong>de</strong> reconhecimento das diversas características paisagísticas<br />
do território, acabou se <strong>de</strong>slocando para os programas televisivos <strong>de</strong> entretenimento<br />
e curiosida<strong>de</strong>s.<br />
Diante <strong>de</strong>ssas novas funções e condições, muito da <strong>Geografia</strong> pregada por Delgado<br />
Carvalho, no começo do Século XX, ficou <strong>de</strong>satualizada enquanto função <strong>de</strong>la em<br />
aten<strong>de</strong>r às necessida<strong>de</strong>s estatais. O próprio Delgado, a partir do final dos anos <strong>de</strong> 1960,<br />
passa a diminuir os trabalhos sobre metodologia e estudos <strong>de</strong> <strong>Geografia</strong>, substituindo<br />
pelas novas diretrizes colocadas <strong>de</strong> Estudos Sociais, Relações Internacionais, Organização<br />
Social e Política brasileira etc., distanciando suas análises da especificida<strong>de</strong> geográfica.<br />
Esse, portanto, po<strong>de</strong> ser um dos elementos que explicam o futuro esquecimento<br />
que se abateu sobre a obra pioneira <strong>de</strong> Delgado.