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Geografia e geopolítica: a contribuição de ... - Biblioteca - IBGE

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Carlos Delgado <strong>de</strong> Carvalho ............................................................ 23<br />

Continuaria Rio Branco no Consulado <strong>de</strong> Liverpool, enquanto retomava o menino<br />

Delgado <strong>de</strong> Carvalho para Londres com sua avó.<br />

Viveria ainda por algum tempo naquela Inglaterra, que valendo-se <strong>de</strong> seu esplêndido<br />

isolamento <strong>de</strong>ixava <strong>de</strong> participar, pelo menos mais diretamente daquelas atribulações<br />

que assolavam a Europa Continental. Daquela Europa, que em inúmeras guerras<br />

<strong>de</strong>ixara nos receosos países profundas marcas <strong>de</strong> invasões, que a Inglaterra, pelo menos<br />

<strong>de</strong>s<strong>de</strong> 1066 <strong>de</strong>sconhecia. Viveria Delgado <strong>de</strong> Carvalho, ainda em sua primeira infância,<br />

numa Inglaterra, maior produtora <strong>de</strong> carvão, o combustível nobre da época que lhe conferia<br />

primazia na metalurgia e indústria têxtil. Nela se encontrava o gran<strong>de</strong> entreposto<br />

para o qual fluíam matérias-primas enviadas <strong>de</strong> outros continentes e gêneros alimentícios<br />

coloniais que o comércio inglês redistribuía para a Europa Continental.<br />

Neste cenário <strong>de</strong> prosperida<strong>de</strong> econômica, numa Londres que era o centro financeiro<br />

do Mundo, viveu com todo conforto, cercado <strong>de</strong> carinho na casa do tio Barttlet<br />

James. Mas... esse seu <strong>de</strong>stino sofreria brusca transformação quando Delgado <strong>de</strong> Carvalho<br />

completou sete anos <strong>de</strong> ida<strong>de</strong>.<br />

Em 1891, casava-se seu pai pela segunda vez, e o menino, retirado do convívio<br />

dos familiares <strong>de</strong> Londres, era levado para Montreux, na Suíça. Sua avó, profundamente<br />

abalada, faleceria pouco <strong>de</strong>pois.<br />

Ia o menino, ainda em tenra ida<strong>de</strong>, viver no continente já bastante conturbado.<br />

De um lado, o novo colonialismo da expansão pela África, que o Congresso <strong>de</strong> Berlim<br />

(1893-1894) havia repartido <strong>de</strong>sigualmente, sem acalmar os ânimos; do outro lado, a Rússia<br />

procurando tirar proveito da fraqueza do Império Otomano - o homem doente da Europa<br />

caminhava para os Balcãs a fim <strong>de</strong> obter, no Mediterrâneo, acesso a “um mar livre”.<br />

Os motivos geoestratégicos eram invocados naquela or<strong>de</strong>m mundial nos fins<br />

do Século XIX. A expansão colonial era indispensável, pois permitiria a aquisição<br />

<strong>de</strong> pontos <strong>de</strong> apoio naval dos quais <strong>de</strong>pendia a segurança das comunicações. Neste<br />

contexto, as potências da época tinham favorecidas as suas respectivas expansões<br />

para a África, Ásia e Oceania, pois nem a Alemanha, nem o Japão, e muito menos os<br />

Estados Unidos participavam <strong>de</strong>ssa nova partilha do Mundo, que se preparava para<br />

enfrentar um gran<strong>de</strong> conflito. Era este o cenário político no qual viveria, e nessa<br />

História viva, viveria repartindo seu tempo <strong>de</strong> infância e pré-adolescência entre as<br />

cida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> Montreux e Lyon.<br />

A primeira, pacata cida<strong>de</strong> da Suíça, no Cantão <strong>de</strong> Vaux, na margem direita do<br />

Lago <strong>de</strong> Genebra, formada por duas Comunas: Montreux-Châtelard, a mais populosa<br />

e Montreux-Planches, on<strong>de</strong> seu pai morou por algum tempo. Já a Cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Lyon, na<br />

confluência dos Rios Ródano e Saôna, bem mais movimentada, se <strong>de</strong>stacava pela próspera<br />

indústria da seda.<br />

Na Suíça, passava as férias em casa do pai que não lhe <strong>de</strong>votava gran<strong>de</strong>s simpatias,<br />

e da madrasta (cujo nome evitava mencionar quando <strong>de</strong>la falava), mais velha do<br />

que ele apenas oito anos, e que também não o admirava. Observando-se aí o gran<strong>de</strong><br />

contraste com o lar afetuoso que tivera em Londres.<br />

Para fugir talvez ao ambiente <strong>de</strong> certo modo hostil, costumava dar gran<strong>de</strong>s passeios<br />

a pé pelas margens do lago 3 . O costume das caminhadas, manteve-o <strong>de</strong>pois. De<br />

certa feita, já beirando os 70 anos foi <strong>de</strong> Copacabana, pelo aterro do Flamengo, até a<br />

Avenida Beira-Mar, 436, on<strong>de</strong>, no 8° andar do Conselho Nacional <strong>de</strong> <strong>Geografia</strong>, tinha a<br />

sua sala <strong>de</strong> trabalho; foi aí que se iniciou a longa série <strong>de</strong> fascículos do Atlas <strong>de</strong> relações<br />

internacionais, que produziu para o <strong>IBGE</strong>. Em Petrópolis, costumava ir <strong>de</strong> Valparaízo,<br />

bairro on<strong>de</strong> possuía uma casa na Rua Viscon<strong>de</strong> do Uruguai, até pontos bem longínquos,<br />

inclusive o Museu Imperial.<br />

Em Lyon, dos 11 aos 18 anos passaria o período escolar no internato dos Dominicanos.<br />

Essa estadia, contou-me, transformou-o num agnóstico; e, mesmo a<strong>de</strong>pto da<br />

doutrina que <strong>de</strong>clarava inacessível o absoluto ao espírito humano, foi sempre admira-<br />

3 Num <strong>de</strong>sses passeios bem mais prolongado, em 1898, aos 14 anos, avistou Elizabeth Amalie Eugenie, popularizada como<br />

Sissi, e chegou a cumprimentá-la quando tomava o barco para ir até Genebra, on<strong>de</strong> seria assassinada pelo anarquista Luccheni.<br />

Ela era a esposa <strong>de</strong> Francisco José I, Imperador da Áustria.

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