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Geografia e geopolítica: a contribuição de ... - Biblioteca - IBGE

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<strong>Geografia</strong> e <strong>geopolítica</strong><br />

94 ........................ A <strong>contribuição</strong> <strong>de</strong> Delgado <strong>de</strong> Carvalho e Therezinha <strong>de</strong> Castro<br />

dicava que a <strong>Geografia</strong> mo<strong>de</strong>rna não <strong>de</strong>via se contentar com examinar os fenômenos e<br />

ainda <strong>de</strong>screvê-los, mas ir mais longe, remontar às causas que <strong>de</strong>terminavam a extensão<br />

e tratar <strong>de</strong> investigar suas consequências.<br />

Desta feita, i<strong>de</strong>ntificamos as características mais comuns nas propostas <strong>de</strong> renovação<br />

científica da <strong>Geografia</strong>, o que as tornavam um movimento passível <strong>de</strong> ser catalisado<br />

pelo Estado. Nesse aspecto que Delgado <strong>de</strong> Carvalho foi um pensador luminar e fundamental<br />

para os ramos que esse conhecimento tomou. Segundo suas próprias palavras:<br />

A <strong>Geografia</strong> tem por objeto o estudo da terra como ‘habitat’ do homem [...] uma das ten-<br />

dências características da geografia mo<strong>de</strong>rna é o seu método comparativo [...] a geografia<br />

pátria precisa servir <strong>de</strong> base e <strong>de</strong> ponto <strong>de</strong> partida ao estudo [...] pois o objeto <strong>de</strong> toda geo-<br />

grafia <strong>de</strong>ve atualmente ser traçar relações <strong>de</strong> causalida<strong>de</strong> (CARVALHO, 1925, p. 3-18).<br />

A partir <strong>de</strong>ste quadro, cabia à <strong>Geografia</strong>, portanto, por meio <strong>de</strong> rigorosa observação,<br />

a <strong>de</strong>scrição minuciosa via catalogação, classificação e enumeração <strong>de</strong> cada componente<br />

do meio observado, estabelecendo, a partir daí, as relações <strong>de</strong> causalida<strong>de</strong> que<br />

os diversos componentes produzem entre si - suas múltiplas interferências. A postura<br />

da <strong>Geografia</strong>, portanto, passa a ser <strong>de</strong> tentar aproveitar as diversas contribuições advindas<br />

<strong>de</strong> outras ciências, elaborando uma síntese científica, única forma da <strong>Geografia</strong><br />

enten<strong>de</strong>r o complexo paisagístico com meios e metodologias “genuinamente científicas<br />

e mo<strong>de</strong>rnas” por partir <strong>de</strong> princípios rigorosos e visando a estabelecer Leis.<br />

Delgado arrola que a localização dos fenômenos e fatos foi o principal objeto da<br />

<strong>Geografia</strong> antiga, <strong>de</strong>pois se somou à localização a questão da distribuição e, num terceiro<br />

estágio, os geógrafos passaram a priorizar as “correlações existentes entre os fenômenos”,<br />

quando se estabeleciam as causas e finalida<strong>de</strong>s <strong>de</strong>stes. Tendo estas questões como<br />

norteadoras, Delgado <strong>de</strong>fine a <strong>Geografia</strong> tradicional como a que estudava “o universo<br />

e seus habitantes”, já a mo<strong>de</strong>rna estudaria “o universo em relação aos seus habitantes”<br />

(CARVALHO, 1925, p. 65).<br />

Delgado buscava recursos teóricos para tentar fazer estudos científicos <strong>de</strong> <strong>Geografia</strong>,<br />

no qual a relação Homem/Natureza refletisse os pressupostos <strong>de</strong> objetivida<strong>de</strong><br />

e controle dos dados, por conseguinte, buscava um entendimento da relação espaço/<br />

tempo em que a lógica científica não sofresse rasuras e angústias com a inconstância do<br />

elemento humano ao longo do tempo.<br />

Partindo <strong>de</strong> Gallois, juntamente com La Blache, resgatou os valores que caracterizavam<br />

o elemento físico visando a estabelecer uma igualda<strong>de</strong> <strong>de</strong> estudos entre os<br />

fatores humano e natural. O gran<strong>de</strong> avanço metodológico alcançado por Gallois, no que<br />

tange aos estudos do meio natural, <strong>de</strong>ve-se ao fato que este estudou, analisou e classificou<br />

os fenômenos da natureza a partir dos seus próprios <strong>de</strong>terminantes naturais, o que<br />

permitiu a <strong>de</strong>finição das chamadas “regiões naturais”.<br />

É a partir das “regiões naturais” que Delgado estabelece a potencialida<strong>de</strong> dos<br />

estudos científicos <strong>de</strong> <strong>Geografia</strong>, pois i<strong>de</strong>ntifica fatores permanente e objetivo capazes<br />

<strong>de</strong> <strong>de</strong>terminar porções específicas do espaço e, a partir <strong>de</strong>sta <strong>de</strong>limitação, analisar a interferência<br />

do fator tempo através da ação do homem, como “equação social” na criação<br />

<strong>de</strong> paisagens específicas.<br />

A concepção <strong>de</strong> região natural é diferente para o botânico, para o meteorologista, para o geó-<br />

logo. Forçosamente, para o geógrafo, que <strong>de</strong>verá utilizar-se <strong>de</strong> todos estes especialistas, a con-<br />

cepção <strong>de</strong>ixará <strong>de</strong> ser simples, e se apresentará bem complexa (CARVALHO, 1924, p. 3-4).<br />

Mais tar<strong>de</strong>, citando Gallois, Delgado coloca as bases <strong>de</strong> sua opção pela região<br />

natural como elemento científico por excelência dos estudos geográficos, estabelecendo<br />

“princípios racionais” precisos <strong>de</strong> divisão e análise geográfica.<br />

A noção <strong>de</strong> região natural é simplesmente a expressão <strong>de</strong> um fato, pouco a pouco posto<br />

em evidência pelas observações que vão sendo feitas. As causas que agem sobre a super-<br />

fície do globo não distribuem ao acaso e se manisfestam, a maior parte das vezes, sobre

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