Geografia e geopolítica: a contribuição de ... - Biblioteca - IBGE
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Carlos Delgado <strong>de</strong> Carvalho ............................................................ 33<br />
Pon<strong>de</strong>ram freqüentemente colegas e amigos que os compêndios <strong>de</strong> minha lavra nem<br />
sempre são <strong>de</strong> fácil manuseio para alunos do curso secundário. A crítica é justa: <strong>de</strong>vo,<br />
entretanto, dizer porque hesito em mudar <strong>de</strong> sistema. O aluno secundário, em primeira<br />
série, por exemplo, tem em média 12 anos <strong>de</strong> ida<strong>de</strong>, são poucos os mais moços, são mui-<br />
tos os mais velhos. Ora, os compêndios europeus que meus colegas tão bem conhecem e<br />
apreciam, os compêndios franceses principalmente, são <strong>de</strong> tal modo mais ricos e infor-<br />
mativos nas séries correspon<strong>de</strong>ntes que, não julgando eu os nossos jovens patrícios infe-<br />
riores aos europeus, não me posso resignar a tratá-los como alunos primários baixando<br />
o padrão <strong>de</strong> ensino nacional. Nestas condições, <strong>de</strong>ixo nos meus livros o que penso po<strong>de</strong>r<br />
lhes ser útil algum dia, sem insistir no estudo da totalida<strong>de</strong> do texto oferecido. Este dia<br />
virá, creio eu, com o melhoramento gradual do ensino secundário entre nós.<br />
Compactuo na crítica, pois estu<strong>de</strong>i tanto nos livros <strong>de</strong> <strong>Geografia</strong> quanto nos <strong>de</strong><br />
História <strong>de</strong> meu mestre e amigo Delgado <strong>de</strong> Carvalho, e senti nos últimos maiores<br />
dificulda<strong>de</strong>s. Acredito que os franceses, sempre como centro da História, mesmo antiga<br />
e medieval, tanto quanto na mo<strong>de</strong>rna e contemporânea, tinham a matéria como<br />
assunto bem mais familiar, que nós brasileiros; não só mais familiar como bem mais<br />
ao seu dispor em ruínas romanas, castelos medievais, ou então no Louvre, on<strong>de</strong> até o<br />
Egito antigo se faz presente graças a François Champolion e Napoleão. Essa superiorida<strong>de</strong><br />
não se compara, pois ao plano material-cultural brasileiro, que só marginalmente<br />
aparece na História a partir da Era Mo<strong>de</strong>rna. Não se trata, pois, <strong>de</strong> inferiorida<strong>de</strong><br />
e sim <strong>de</strong> oportunida<strong>de</strong>.<br />
Assim, a mesma opinião <strong>de</strong> prolixida<strong>de</strong> se atinha aos seus famosos “tijolinhos”,<br />
como ele apelidava as Súmulas <strong>de</strong> história colegial que serviram aos alunos<br />
dos cursos <strong>de</strong> <strong>Geografia</strong> e História da Faculda<strong>de</strong> Nacional <strong>de</strong> Filosofia, para os<br />
famosos testes (impressos em papel branco, azul e amarelo) para contarem como<br />
notas <strong>de</strong> estágio.<br />
Parece ter sido profunda a admiração <strong>de</strong> Getúlio Vargas por Delgado <strong>de</strong> Carvalho,<br />
nomeado a 8 <strong>de</strong> maio <strong>de</strong> 1940 para o cargo <strong>de</strong> <strong>de</strong>legado do Brasil na XI Seção<br />
(Educação) do 8° Congresso Científico, realizado entre 10 e 18 daquele mês e ano.<br />
Foi para apaziguar ânimos exaltados no Colégio Pedro II que Vargas o nomeou<br />
Diretor-Geral do externato pelo Decreto n° 19.398, <strong>de</strong> 11 <strong>de</strong> novembro <strong>de</strong> 1931. Por<br />
pouco tempo no cargo, criava o “Conselho <strong>de</strong> Alunos” em tentativa <strong>de</strong> que o próprio<br />
corpo discente se autocomandasse no sistema disciplinar, e introduzia o uso do “balandrau”<br />
(como ele <strong>de</strong>nominava o guarda-pó) para os inspetores. Granjeou, por suas<br />
i<strong>de</strong>ias inovadoras vários opositores na Congregação do Colégio, on<strong>de</strong> uma voz sempre<br />
se levantou em seu favor - a do professor José Cavalcanti Barros Accioli.<br />
Não dispensava o “balandrau” quando dava suas aulas na Faculda<strong>de</strong> Nacional<br />
<strong>de</strong> Filosofia e no Instituto <strong>de</strong> Educação, respectivamente, como catedrático <strong>de</strong> História<br />
mo<strong>de</strong>rna e contemporânea e <strong>de</strong> Sociologia; das duas unida<strong>de</strong>s só saiu pela compulsória,<br />
ao completar seus 70 anos <strong>de</strong> ida<strong>de</strong>.<br />
No magistério superior, havia ingressado, em 1936, como professor <strong>de</strong> História<br />
contemporânea da Universida<strong>de</strong> do Distrito Fe<strong>de</strong>ral, tendo, por curto período,<br />
ocupado interinamente a Cátedra <strong>de</strong> <strong>Geografia</strong> do Brasil. Em 1939, tornava-se<br />
professor catedrático <strong>de</strong> História mo<strong>de</strong>rna e contemporânea na Universida<strong>de</strong> do<br />
Brasil, que com a transferência da capital para Brasília, em 1960, transformava-se na<br />
Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral do Rio <strong>de</strong> Janeiro - UFRJ. Na compulsória, continuou, como<br />
professor contratado, a dar aulas no curso <strong>de</strong> Jornalismo (1954-1957), quando a Congregação<br />
da Faculda<strong>de</strong> houve por bem conce<strong>de</strong>r-lhe o título <strong>de</strong> Professor Emérito<br />
(1956). Encarregada então <strong>de</strong> organizar-lhe o Curriculum Vitae, tive acesso a um gavetão<br />
em sua biblioteca, on<strong>de</strong> pu<strong>de</strong> manusear vasta papelada e a<strong>de</strong>ntrar-me um<br />
pouco mais em sua vida já longa e profícua. Só então a família e sua própria esposa<br />
passaram a saber o que sempre procurou escon<strong>de</strong>r - a data <strong>de</strong> seu aniversário, que<br />
sua certidão <strong>de</strong> batismo <strong>de</strong>clinava.<br />
A sala <strong>de</strong> aula era o seu “trono” do qual reinava e atraía os alunos, seus “súditos”<br />
e admiradores em sua maioria. Dentre esses, <strong>de</strong>dicou especial <strong>de</strong>staque e carinho por