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Geografia e geopolítica: a contribuição de ... - Biblioteca - IBGE

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Delgado <strong>de</strong> Carvalho e a <strong>Geografia</strong> no Brasil como arte da educação liberal ............. 67<br />

Talvez uma oposição entre a geografia como arte liberal – baseada nas personalida<strong>de</strong>s<br />

– e a geografia como ciência social aplicada ou <strong>de</strong> equipe (Barnes &<br />

Farish, 2006, p.807) ou industrial.<br />

Lia Machado (2003) observa ainda que, do ponto <strong>de</strong> vista da escala dos<br />

interesses e do alcance espacial das cogitações, a geografia que se difundiu no<br />

Brasil esteve voltada para <strong>de</strong>ntro do próprio território brasileiro ou da escala nacional.<br />

Do ponto <strong>de</strong> vista da escala política – regional política – <strong>de</strong> operação, esse<br />

caráter das práticas e discursos geográficos no país diferia da geografia européia<br />

que lhe havia oferecido os mol<strong>de</strong>s conceituais. Essa, ao lado da preocupação<br />

espacial interna aos seus países, mantinha um permanente foco <strong>de</strong> agenda nas<br />

periferias do além-mar.<br />

A visão para <strong>de</strong>ntro como caráter do pensamento geográfico no Brasil,<br />

combinada com as <strong>de</strong>safiantes dimensões territoriais continentais a conhecer,<br />

não <strong>de</strong>ixou <strong>de</strong> produzir aquele fenômeno que veio a ser <strong>de</strong>nominado legitimação<br />

do geógrafo pelo contato <strong>de</strong> campo. Isso foi particularmente importante no<br />

período compreendido entre a estruturação do Instituto Brasileiro <strong>de</strong> <strong>Geografia</strong><br />

e Estatística (<strong>IBGE</strong>) e os anos 1960, a era heróica das explorações e das primeiras<br />

peças discursivas geográficas nacionais. Dias (1989) <strong>de</strong>nomina mesmo o final<br />

dos anos 1950 e começos <strong>de</strong> 1960 como a ida<strong>de</strong> <strong>de</strong> ouro da geografia no país.<br />

Entretanto, a partir <strong>de</strong>sta última década, os trabalhos geográficos pu<strong>de</strong>ram se<br />

beneficiar <strong>de</strong> sistemas remotos <strong>de</strong> informações muito mais eficientes e <strong>de</strong> longo<br />

alcance em escala, e a experiência do realismo <strong>de</strong> campo, compreensivelmente,<br />

<strong>de</strong>ixa <strong>de</strong> ser a única forma <strong>de</strong> ungir o geógrafo com reconhecimento profissional.<br />

Mas, até então, os geógrafos, assim o quisessem, podiam colher vantagens<br />

<strong>de</strong> certa visão ingênua presente nos consumidores culturais quanto ao que realmente<br />

era um trabalho <strong>de</strong> campo. Para muitos daqueles consumidores, a própria<br />

aventura da viagem ao campo, quando relatada, produzia a autorida<strong>de</strong> científica<br />

e o prestígio (Livingstone, 2003, p.42).<br />

Há no contexto periférico da difusão da geografia outra categoria <strong>de</strong> experiência<br />

espacial a merecer atenção. A então rara ida <strong>de</strong> um geógrafo brasileiro – e<br />

isso parece ter sido um fenômeno extensivo a toda a América – aos velhos centros<br />

formuladores da geografia mo<strong>de</strong>rna conferia uma aura <strong>de</strong> reconhecimento<br />

e prestígio. A condição periférica da difusão da geografia no Brasil produziu,<br />

para os geógrafos do país, uma específica categoria <strong>de</strong> experiência espacial, além<br />

daquela já mencionada relativa ao contato <strong>de</strong> campo e observada por Outram<br />

(1999, p.285). Essa categoria <strong>de</strong> experiência espacial seria a representada pelas<br />

viagens para respirar o estado da arte, excursões <strong>de</strong> espírito e assimilação das<br />

novida<strong>de</strong>s.<br />

Delgado <strong>de</strong> Carvalho aportou justamente no core que procedia à construção<br />

da geografia no Brasil na perspectiva do po<strong>de</strong>r central, o que teve efeitos<br />

<strong>de</strong>finidores sobre as suas contribuições. Ao lado da sua personalida<strong>de</strong>, a geografia<br />

da sua localização influenciou – “fez a diferença”, para usar a expressão <strong>de</strong><br />

ESTUDOS AVANÇADOS 22 (62), 2008 319

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