Geografia e geopolítica: a contribuição de ... - Biblioteca - IBGE
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<strong>Geografia</strong> e <strong>geopolítica</strong><br />
90 ........................ A <strong>contribuição</strong> <strong>de</strong> Delgado <strong>de</strong> Carvalho e Therezinha <strong>de</strong> Castro<br />
gens e priorizando os trabalhos <strong>de</strong> docência na universida<strong>de</strong> e <strong>de</strong> pesquisa junto aos<br />
órgãos governamentais. Começa a caminhar por trilhas até então apenas esboçadas.<br />
Em 1954, assume a ca<strong>de</strong>ira <strong>de</strong> História diplomática do Instituto Rio Branco e,<br />
<strong>de</strong>sse ano até 1960, é professor do Curso <strong>de</strong> Jornalismo da Faculda<strong>de</strong> Nacional <strong>de</strong><br />
Filosofia. Fortalece seus trabalhos com o <strong>IBGE</strong>, notadamente com a professora Therezinha<br />
<strong>de</strong> Castro. Em 1957, ainda, publica outro livro famoso para a metodologia <strong>de</strong><br />
ensino, no caso, o Introdução metodológica aos Estudos Sociais, que visava a integrar os<br />
conteúdos <strong>de</strong> áreas afins do conhecimento científico, como <strong>Geografia</strong>, História, Sociologia<br />
e civismo político.<br />
Em 1959, vem a público outro texto famoso, referência até hoje para os estudos das<br />
relações internacionais e da diplomacia brasileira, o seu História diplomática do Brasil. Ao<br />
a<strong>de</strong>ntrar os anos <strong>de</strong> 1960, com o advento da ditadura militar, Delgado vai diminuindo<br />
sua produção. Vai se distanciando dos estudos geográficos, priorizando o enfoque que<br />
o governo militar dava aos estudos <strong>de</strong> Organização Social e Política Brasileira - OSPB e<br />
Estudos Sociais, contudo, pelo contato com a professora Terezinha <strong>de</strong> Castro, acaba <strong>de</strong>senvolvendo<br />
e publicando textos mais relacionados com a perspectiva histórica, como<br />
atestam seus dois últimos livros <strong>de</strong> maior envergadura, o Relações internacionais, <strong>de</strong> 1971<br />
e o História das Américas, <strong>de</strong> 1975.<br />
Delgado <strong>de</strong> Carvalho nessa altura tinha a<strong>de</strong>ntrado a barreira dos 90 anos. Ainda<br />
lúcido, mas não havia mais como continuar trabalhando fisicamente com a mesma<br />
diversida<strong>de</strong> e intensida<strong>de</strong> que seu intelecto dinâmico almejava. O Brasil já era outro.<br />
Muitos dos seus i<strong>de</strong>ais, quanto à instauração do conhecimento científico, da Pedagogia<br />
à <strong>Geografia</strong>, passando pela História, Sociologia e Relações Internacionais, estavam consolidados<br />
<strong>de</strong> longa data, inclusive introduzindo novas concepções que provavelmente<br />
não agradavam muito ao pensador, nem ao conjunto dos militares no po<strong>de</strong>r.<br />
No entanto, isso significava que as idéias indiciais <strong>de</strong> tentar instaurar um<br />
processo <strong>de</strong> mo<strong>de</strong>rnização econômica, assim como <strong>de</strong> capacitação científica para o<br />
melhor funcionamento administrativo do território brasileiro, tinham sido razoavelmente<br />
conseguidas.<br />
Delgado <strong>de</strong> Carvalho – o intelectual como ator político e<br />
teórico das mudanças<br />
Delgado, partindo da priorida<strong>de</strong> do entendimento científico dos fatos, aliado à<br />
sua formação em Direito e Ciências Políticas, não reduziu suas análises <strong>de</strong> <strong>Geografia</strong> à<br />
questão do estudo do solo e do homem neste solo, pois não concebia a realida<strong>de</strong> humana<br />
in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte das estruturas social e institucional. Delgado percebia a importância<br />
<strong>de</strong> instâncias com o Estado, tão valorizado pelos geógrafos alemães, como componentes<br />
jurídico e geopolítico intrínsecos às abordagens geográficas do território, tanto que não<br />
<strong>de</strong>scartou em suas obras as discussões “<strong>de</strong>terministas” e o necessário vínculo do conhecimento<br />
geográfico para com o Estado.<br />
É claro que não é só o fato <strong>de</strong> saber ler em alemão, ter uma formação diversificada<br />
e mais voltada para as questões político-jurídicas, que explicam esta capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Delgado,<br />
<strong>de</strong> discutir as concepções geográficas não apenas por uma perspectiva mecânica,<br />
on<strong>de</strong> a <strong>Geografia</strong> francesa seria a eficiente e científica em anteposição à alemã, comprometida<br />
com o Estado e, portanto, “menos científica”.<br />
As próprias características social, política, econômica e territorial do Brasil é<br />
que, na concepção <strong>de</strong> Delgado, não permitiriam a aplicação <strong>de</strong> uma única concepção<br />
<strong>de</strong> <strong>Geografia</strong>, principalmente se esta concepção não incorporasse a necessária<br />
intervenção do Estado nos processos <strong>de</strong> transformação e <strong>de</strong> intervenção direta nos<br />
rumos da socieda<strong>de</strong>. Delgado tinha consciência disso, e enten<strong>de</strong>ndo o caso da socieda<strong>de</strong><br />
brasileira como muito próximo ao do alemão, visava a usar <strong>de</strong>terminados<br />
componentes da concepção geográfica <strong>de</strong>senvolvida majoritariamente por este país,<br />
adaptando-os ao Brasil.